O Ministério da Educação admitiu nesta sexta-feira (2) que houve divulgação indevida de resultados provisórios do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) na manhã da última terça (30). Segundo a pasta, os dados ficaram disponíveis por 25 minutos, e o erro está sendo apurado.
Neste ano, o sistema, que utiliza a nota do Enem, foi usado para seleção de candidatos em 127 universidades e institutos federais do país. Mais de 2 milhões de estudantes disputaram 264 mil vagas.
A divulgação dos aprovados estava marcada para acontecer na manhã de terça, mas o ministério anunciou que devido a "problemas técnicos no sistema" teve que adiar a divulgação. Alguns candidatos, no entanto, conseguiram acessar a página e viram que tinham sido aprovados nas universidades às quais se candidataram.
Logo depois, o sistema saiu do ar. Na tarde de quarta-feira (31), quando o MEC conseguiu disponibilizar todos os resultados, parte dos candidatos que viu a informação de que tinham sido aprovados descobriu que não conseguiu a vaga na universidade que havia selecionado.
O MEC confirmou nesta sexta-feira que na manhã do dia 31 de janeiro houve uma divulgação indevida de resultados provisórios, que ainda não estavam homologados. De acordo com a pasta comandada pelo ministro Camilo Santana, os dados ficaram disponíveis por 25 minutos. A ocorrência está sendo apurada.
"O que houve foi uma divulgação indevida de resultados provisórios, ainda não homologados, durante 25 minutos da manhã do dia 30 de janeiro. A ocorrência está sendo rigorosamente apurada", explicou o MEC em nota.
O ministério ainda afirmou que "o sistema é seguro e os resultados oficiais não serão modificados". As matrículas dos candidatos aprovados começam nesta sexta-feira e vão até o dia 7 de fevereiro.
Khauany Freitas, 18, está entre os estudantes que tiveram o sonho de conseguir entrar em uma universidade federal frustrado com o erro de divulgação do MEC. Por volta das 8h30 de terça-feira, ela acessou o Portal Único de Acesso, onde são liberados os resultados, e viu a informação de que tinha sido aprovada no curso de ciências biológicas da UFF (Universidade Federal Fluminense).
"Vi que tinha sido aprovada e eu explodi de alegria. Abracei minha vó, minha irmã ligou para a família toda para contar. Eu até pintei o braço com o nome da federal, de tão feliz que estava. Passei o dia todo na maior felicidade", contou à reportagem.
Durante a tarde daquele dia, ela viu que outros estudantes não conseguiam acessar sistema, mas disse não ter se preocupado. "Estava tranquila, porque eu tinha visto o meu resultado. Tinha tirado um print da tela, passei o dia olhando para ele", contou Khauany, que é de Maricá, na região metropolitana do Rio.
Foi só no fim do dia seguinte, quando o MEC resolveu o problema técnico e divulgou os resultados oficiais, que ela entrou no portal novamente e descobriu que, na realidade, não tinha sido aprovada. "Meu mundo desabou, não conseguia parar de chorar. Eu não esperava por isso, depois de ter estudado o ano inteiro", conta.
Khauany estudou em escola pública durante todo o ensino médio e fazia cursinho pré-vestibular aos sábados. Ela também trabalhava à noite como estagiária em um curso de EJA (Educação de Jovens e Adultos).
"É desesperador, porque eu batalhei muito por essa aprovação. Eu estudava em período integral, ainda fazia estágio das 18h às 22h. Eu estudava todo fim de semana", conta. Ela diz que vai tentar judicialmente garantir a vaga no curso da UFF.
A jovem localizou outros 20 estudantes que receberam as informações equivocadas do Sisu, divulgadas pelo MEC. Segundo ela, eles estão se organizando para tentar uma ação coletiva.
"Todos nós estamos tentando falar com o MEC e o Inep, mas ninguém nos responde. Até agora, não deram nenhum esclarecimento para nós", diz.
A estudante conta que desde pequena sonha em se tornar professora. "Minhas avós, meu avô e minha mãe são professores. Eu tenho um carinho muito grande pela profissão e esse é o meu sonho. Eu achei que estava vendo meu sonho se realizar, mas não vou desistir dessa vaga."
MINISTÉRIO TAMBÉM TEVE FALHA NO ENEM
Essa não foi a primeira falha no processo seletivo para o ensino superior na atual gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Além dos estudantes que foram frustrados com a divulgação indevida dos resultados, cerca de 50 mil inscritos na prova do Enem, cuja nota é usada para acesso ao Sisu, foram alocados em locais distantes das suas casas. O edital garantia que os participantes fizessem o exame a no máximo 30 km de distância de suas residências. Estudantes relataram distâncias de mais de 40 km.
Ao admitir o problema, o ministério disse que a definição dos locais de prova foi feita pelo Cebraspe (Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos), vencedor da licitação para aplicação do Enem 2023.
Como houve relato de alunos que avaliavam desistir de fazer o exame, o MEC autorizou esses candidatos a fazerem a prova em outra data. Mas houve casos de estudantes que preferiram fazer o exame na data original e tiveram que percorrer 33 quilômetros.
A falha e o atraso na entrega dos resultados do Sisu também trouxeram impactos para as inscrições do Prouni (Programa Universidade para Todos), que concede bolsas em universidades particulares. Em razão do atraso, o ministério decidiu prorrogar as inscrições do programa por mais um dia.
Apesar de darem acesso a universidades diferentes, as inscrições no Sisu e no Prouni estão interligadas. De acordo com o MEC, o candidato inscrito no Sisu pode se inscrever no Prouni. Porém, caso seja selecionado por ambos, tem que optar por um dos dois programas.
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