Brasileiros deportados dos Estados Unidos disseram ter sido agredidos por agentes americanos durante voo de repatriação do país até Manaus, local da primeira parada da aeronave, na noite desta sexta-feira (24). Eles desembarcaram no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins (MG), neste sábado (25).
Os migrantes afirmam que as agressões ocorreram quando a aeronave americana fez uma escala no Panamá. De acordo com os relatos, um dos motores apresentou problema e demorou a voltar a funcionar. Neste ínterim, os deportados não foram autorizados a deixar a aeronave, que passou por períodos com o ar-condicionado desligado.
Eles relataram falta de ar e pessoas passando mal, inclusive mulheres e crianças, além de dificuldade para serem autorizados a ir ao banheiro e conseguir se alimentar ou beber água. Protestos dos presentes para que agentes americanos deixassem que os migrantes saíssem da aeronave resultaram em discussão e, nesse momento, teriam ocorrido as agressões.
Em seguida, a aeronave decolou e pousou em Manaus. Os deportados afirmam que, após o pouso na capital amazonense, a Polícia Federal entrou na aeronave e ordenou que os imigrantes deixassem o avião e que as algemadas fossem retiradas.
A Força Aérea Brasileira foi acionada pelo governo Lula para buscar os deportados em Manaus e levá-los ao destino final, Confins. Segundo a FAB, o avião mobilizado foi um KC-30 do Segundo Esquadrão do Segundo Grupo de Transporte. Trata-se do mesmo modelo de aeronave utilizado na repatriação de brasileiros fugindo da guerra no Líbano.
Quer mais notícias sobre Brasil? Acesse nosso canal no WhatsApp
Na noite deste sábado, o Itamaraty publicou em suas redes sociais a informação de que pedirá explicações ao governo Trump sobre "o tratamento degradante dispensado aos passageiros no voo".
A pasta informou que, para obter informações, o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) reuniu-se em Manaus com o delegado Sávio Pinzón, superintendente interino da Polícia Federal no Amazonas, e com o major-brigadeiro Ramiro Pinheiro, do 7º Comando Aéreo Regional.
Na chegada ao aeroporto de Confins, os deportados falaram a jornalistas sobre o retorno e denunciaram as agressões. Vários deles mostraram marcas de algemas apertadas e de agressões nas costas. Um deles afirma que alguns dos agredidos fizeram exame de corpo de delito ainda em Manaus.
"Eu não fui agredido, mas os meninos foram. Eles estavam algemados, meteram o porrete neles sem dó. Desumano. Chutes, jogando os moleques no chão. Em um deles, um cara deu um mata-leão", disse Luiz Fernando Caetano Costa, um dos imigrantes retornados, que estava havia um ano e meio nos EUA.]
"Alguns rapazes mais novos começaram a ver as crianças passando mal, eles estavam falando para tirar as crianças", afirmou Mario Henrique Andrade Mateus, 41, que diz ter ficado três meses detido na imigração americana. "Os agentes dos Estados Unidos não queriam deixar a gente sair. Agrediram um dos meninos, derrubaram ele no chão e deram um chute nele."
"Após a chegada da Polícia Federal, depois de muita discussão, muita briga, com a presença da Polícia Federal, eles não queriam deixar a gente descer. E quando aceitaram, eles queriam tirar as algemas para que a Polícia Federal não visse que nós estávamos algemados em território brasileiro", acrescentou.
"Nós não aceitamos isso, e começou um novo atrito, até que o delegado da Polícia Federal, o superintendente-geral, conseguiu entrar na aeronave. Forçou lá e conseguiu entrar e obrigou a retirada da gente de dentro da aeronave e deu todo o suporte necessário para nós", afirmou.
Carlos Vinicius de Jesus, 29, fez denúncias ainda mais graves. "Os oficiais de migração bateram em nós, falaram que iam derrubar o avião, que nosso governo não era de nada. A gente que se rebelou, iam nos matar. Eles falaram que se eles quisessem eles fechavam a porta da aeronave e matavam todos nós."
O carioca Marcos Vinicius Santiago de Oliveira, 38, confirmou as agressões em outros deportados e contou a respeito da pane que teria ocorrido no avião. "Quando parou no Panamá, o avião não queria funcionar. Estava muito ruim de funcionar, depois funcionou. Mas a gente ficou horas sem ar condicionado e algemado. Era horrível. Até para ir no banheiro, para beber água, aquilo era difícil", disse.
"Depois que [o voo] chegou a Manaus foi isso, foi abastecer e não funcionou mais o avião. Alguma turbina não estava funcionando. A gente viu fumaça em uma turbina. Todo mundo ficou com medo, apavorado. E aí a gente ficou horas e horas lá, sem respirar, tudo fechado. Como é que faz? Ninguém aguentou, todo mundo algemado", afirmou ele, que disse não ter sido agredido, mas que viu agressões a outras pessoas.
Aeliton Cândido, 33, de Divinópolis (MG), relatou que estava há dois anos detido nos EUA e reiterou que houve agressões e problemas na aeronave durante o retorno para Brasil. "Agora é vida nova, respirar e recuperar a minha dignidade. Foi a pior coisa que já passei na minha vida. Medo de morrer."
"A grande questão é que os países têm suas políticas imigratórias, mas as suas políticas imigratórias não podem violar os direitos humanos", afirmou a ministra Macaé Evaristo (Direitos Humanos), no aeroporto. . "O Brasil sempre tratou com muito respeito toda a população, tanto refugiados que chegam no Brasil, quanto pessoas que nós temos que repatriar. As denúncias das pessoas que chegaram, elas são muito graves." Segundo a ministra, o presidente Lula orientou que houvesse a recepção dos migrantes
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar