
O Brasil pode enfrentar uma crise comercial sem precedentes em sua história por conta do anúncio de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos.
Segundo o presidente norte-americano Donald Trump, autor da medida, ela entrará em vigor nesta sexta-feira (1º), com objetivo de abalar setores estratégicos da economia nacional em retaliação às investigações contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
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A decisão afeta diretamente a relação comercial entre os dois países, onde os Estados Unidos mantêm um superávit de quase US$ 284 milhões (R$ 1,6 bilhão) com o Brasil em 2024.
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As principais exportações brasileiras para o mercado americano incluem:
- Petróleo bruto (12% do total);
- Produtos semiacabados de ferro e aço (9,7%);
- Café não torrado (5,8%);
- Aeronaves e equipamentos (5,2%).
Quais setores serão mais afetados?
Agronegócio
O setor agropecuário brasileiro, reconhecido mundialmente como líder em diversos produtos, pode enfrentar prejuízos de até US$ 5,8 bilhões (R$ 32 bilhões), segundo estimativas da Confederação da Agricultura e Pecuária.
O Brasil é o maior exportador mundial de:
- Carne bovina e de frango;
- Soja e milho;
- Café e açúcar;
- Suco de laranja.
Aeronáutica: risco de demissões em massa
A Embraer, terceira maior fabricante mundial de aeronaves, pode ser uma das empresas mais prejudicadas. Com 45% de suas aeronaves comerciais e 70% das executivas destinadas ao mercado americano, a empresa já sinaliza possíveis demissões.
O CEO Francisco Gomes Neto alertou para um "ajuste do quadro de funcionários similar ao da Covid-19", classificando as tarifas como "quase um embargo".
Outros setores vulneráveis
Setores como pesca e armamentos, que destinam mais da metade de suas exportações aos Estados Unidos, também enfrentam riscos significativos de impacto no emprego, conforme análise do economista Felipe Salto.
A simples perspectiva das tarifas já provocou impactos concretos na economia brasileira, como:
- Suspensão preventiva de embarques de carnes, frutas, peixes e grãos;
- 77 mil toneladas de frutas aguardam em contêineres uma solução diplomática;
- Novos embarques de carne bovina para os EUA estão sob análise;
- Risco de deterioração ou venda com prejuízo de produtos perecíveis.
Tentativas de negociação diplomática
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém que Trump "não quer conversar", mas reafirma que seu Plano A continua sendo a negociação. O vice-presidente Geraldo Alckmin, encarregado das tratativas com Washington, relatou uma conversa "frutífera" com o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick.
A chancelaria brasileira enviou em maio uma "minuta confidencial de proposta contendo áreas de negociação" para explorar "soluções mutuamente acordadas". Até o momento, os Estados Unidos não responderam oficialmente à proposta.
Estratégias de contingência do Brasil
O governo Lula estuda implementar:
- Linhas de crédito especiais para empresas afetadas;
- Aplicação da lei de reciprocidade, sancionada em abril, que permite restrições comerciais proporcionais;
Além disso, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, indicou planos para "reestruturar" vínculos comerciais com:
- União Europeia;
- México;
- Canadá;
- Outros parceiros do Mercosul.
O economista Marcos Mendes, do Insper, alerta que a substituição do mercado americano não será simples. "Haverá impactos heterogêneos: é mais fácil relocar a produção de petróleo bruto ou café para outros países do que, por exemplo, a de partes de aeronaves", explicou.
Mesmo a China, maior parceiro comercial do Brasil, apresenta limitações. O perfil das exportações chinesas não se adequa completamente para substituir o mercado americano, especialmente para produtos manufaturados especializados.
Os números demonstram a relevância dos Estados Unidos para a economia brasileira:
- Em 2024, representaram quase 80% das exportações da indústria de transformação brasileira;
- São o maior parceiro em produtos manufaturados;
- Constituem o segundo maior parceiro comercial do país.
Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), enfatizou a necessidade de negociação por questões "pragmáticas", considerando que a "maior relação comercial bilateral em produtos manufaturados é com os Estados Unidos".
Perspectivas para o futuro
Com a data limite de 1º de agosto se aproximando, empresários e governo correm contra o tempo para encontrar alternativas. Os setores mais especializados enfrentam maiores dificuldades de realocação, enquanto produtos commoditizados podem encontrar mercados alternativos com maior facilidade.
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