
Há histórias de amor que parecem escritas pelo acaso, e outras que carregam uma dose de destino difícil de explicar. Em Jardim, no Mato Grosso do Sul, a vida de uma mulher que perdeu o marido e a de um homem que lutava para sobreviver se entrelaçaram literalmente por um coração.
Tudo começou em 1998, quando Leila de Oliveira, então com apenas 24 anos, viu sua vida mudar repentinamente após a morte encefálica do marido, Ademilson, vítima de um tiro. Em meio ao luto e à pressão de familiares e conhecidos, tomou uma decisão que não imaginava enfrentar tão cedo: autorizar a doação dos órgãos dele. A escolha foi guiada pelo desejo que o próprio Ademilson havia manifestado em vida de ser doador.
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Graças a essa decisão, cinco pessoas receberam uma nova chance. Entre elas estava Celeidino Vieira Fernandes, que, à beira da morte em razão de uma cardiomiopatia dilatada, recebeu o coração de Ademilson. A cirurgia lhe deu não apenas sobrevida, mas também um elo inesperado com a família de quem havia perdido tanto.
Determinando a agradecer, Celeidino iniciou uma busca pela família do doador. Mesmo diante de barreiras que impedem esse tipo de contato direto, ele conseguiu descobrir o endereço de Leila. Um ano após o transplante, bateu à porta dela, emocionado, levando no peito o coração que um dia pertencera a seu marido. O encontro foi marcado por lágrimas, surpresa e um gesto que ela jamais esqueceu: ele a abraçou e pediu que ouvisse os batimentos do coração de Ademilson agora dentro dele.
A partir dali, uma relação de amizade começou a se formar. Celeidino dizia que queria apenas agradecer, mas a convivência aproximou os dois de forma inesperada. Leila, a princípio resistente, acabou se deixando conquistar pela insistência, pelo carinho e pelo afeto que ele demonstrava não apenas a ela, mas também a seus filhos.
O que parecia impossível transformou-se em amor. Dois anos depois do primeiro encontro, eles oficializaram a união e, desde então, compartilham a vida juntos. Hoje, aposentados e com mais de duas décadas de relacionamento, Leila e Celeidino se tornaram também porta-vozes da importância da doação de órgãos, contando sua história para inspirar outras famílias.
A trajetória, no entanto, não foi livre de desafios. Em 2019, já com a saúde fragilizada pelo uso de medicamentos imunossupressores, Celeidino precisou enfrentar outra batalha: um transplante de rim. Foram seis anos de hemodiálise até que um novo órgão lhe fosse destinado. A cirurgia, assim como a primeira, foi bem-sucedida e lhe permitiu retomar a vida ao lado de Leila.
Para o casal, cada capítulo vivido reforça a convicção de que doar salva não apenas indivíduos, mas famílias inteiras. “Por mais difícil que seja a perda, um doador pode multiplicar vidas. Ele salva mães, filhos, pais, irmãos. Salva a felicidade de pessoas que nunca se conheceram, mas que se encontram ligadas para sempre”, reforçam.

O doador pode ser identificado?
Apesar de histórias como a deles, em que houve contato entre as famílias, a legislação brasileira prevê sigilo absoluto nesses casos. Segundo o artigo 52 do Decreto nº 9.175/2017, que regulamenta a Lei de Transplantes, nem o receptor pode saber quem foi o doador, nem a família do doador pode descobrir quem recebeu os órgãos.
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O anonimato existe para proteger a ética do processo e garantir tranquilidade a todos os envolvidos. A única exceção ocorre quando o doador é vivo e parente de até quarto grau do receptor. Fora isso, informações como nome, endereço e dados pessoais ficam sob total confidencialidade.
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