
Casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, quando praticados dentro de escolas, escancaram um dos cenários mais dolorosos e perturbadores da sociedade: o de instituições que deveriam ser espaços de proteção, mas acabam se tornando ambientes de vulnerabilidade. O silêncio, a omissão e a naturalização de comportamentos suspeitos contribuem para que abusadores atuem durante anos sem serem interrompidos, deixando marcas profundas em suas vítimas.
Esse é o pano de fundo do podcast especial produzido pelo UOL Prime, que traz à tona o caso de Carlos Veiga Filho, 62 anos, ex-professor de história e teatro do Colégio Rio Branco, em São Paulo. Mais de 20 ex-alunos relatam terem sido vítimas de abusos cometidos por ele ao longo de quase duas décadas na instituição, onde também atuava como coordenador de monitoria. Preso em 2024 e condenado em fevereiro a 40 anos de prisão por crimes semelhantes em outra escola no interior paulista, Veiga agora é alvo de novos depoimentos que reforçam a dimensão de sua trajetória criminosa.
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No podcast "O Professor e os Meninos: uma História de Abusos", ex-estudantes relatam ter sido coagidos a se despir, tocar uns nos outros e pintar seus corpos em rituais dirigidos pelo professor, que ainda os fotografava nessas situações. Outros afirmam que foram tocados pelo docente sob a justificativa de "limpar os chacras".
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ALUNOS ACUSAM COLÉGIO DE OMISSÃO
A Fundação de Rotarianos de São Paulo, mantenedora do Rio Branco, sustenta que não havia registros de irregularidades e que a escola não agiu por "não ter consciência" do que ocorria. A versão, no entanto, é contestada por ex-alunos que afirmam terem procurado funcionários da instituição para relatar os abusos. "Contei a história, e ele falou que ia tentar entender o que aconteceu. Mas ficou por isso", lembra o advogado e ator Spencer Toth Sydow, que diz ter denunciado o caso em 1994, após ser constrangido durante uma seletiva para o grupo de teatro.
Segundo o promotor Gustavo Pozzebon, pelo menos 30 ex-alunos do Rio Branco procuraram o Ministério Público para relatar experiências semelhantes. Muitos descreveram práticas recorrentes durante excursões escolares, quando Veiga promovia rituais de "batismo" com nudez e fotografias.
"O VEIGA FEZ ISSO OUTRA VEZ"
Um pai de ex-aluno relembrou ter procurado uma professora para denunciar o que o filho havia vivido em uma dessas viagens e ouviu dela a frase que ainda ecoa nas investigações: "Nossa, o Veiga fez isso outra vez?".
Entre as vítimas, o sentimento é de frustração diante de tantos sinais ignorados. "Quando Veiga foi preso, tive a sensação de que, finalmente, pararam ele. Mas, se tivessem ouvido um adolescente de 14 anos, nada disso teria acontecido", afirmou Spencer Sydow.
CASOS SEMELHANTES EM OUTRA INSTITUIÇÃO
O episódio mais recente ocorreu no Colégio Libere Vivere, em Serra Negra (SP), onde Veiga lecionou entre 2007 e 2023. Foi ali que três adolescentes o denunciaram, resultando na condenação. Um dos casos mais chocantes relatados envolve um ritual em que o professor armou um círculo de velas e pediu que um estudante tirasse a roupa para "invocar o espírito do pai falecido".
A condenação incluiu crimes de estupro de vulnerável, violação sexual mediante fraude e produção de material pornográfico infantil. Embora preso, o impacto das revelações segue mobilizando ex-alunos, pais e educadores, trazendo à tona uma questão urgente: até quando escolas fecharão os olhos para sinais de violência contra seus próprios estudantes?
O assinante do UOL já pode escutar todos os episódios em uol.com.br/podcastprofessor ou no Spotify:
- Episódio 1: "O Mago"
- Episódio 2: "Leia o Livro"
- Episódio 3: "As Tais Fotografias"
- Episódio 4: "Maldito Seja"
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