Famílias tentam recomeçar após tornado destruir 90% de Rio Bonito do Iguaçu

O sol forte do último domingo (9) parecia contradizer a dor que pairava sobre Rio Bonito do Iguaçu, no centro-sul do Paraná. Em meio a escombros, documentos revirados e lembranças espalhadas pelo chão, moradores começaram a voltar para seus lares após a passagem do tornado que, em poucos minutos, devastou quase toda a cidade. A sensação era de incredulidade.

Entre os que retornaram, estava Paulo Oidella, 54 anos, morador do município desde 1988. “Foi muito triste voltar, porque na sexta a gente não viu quase nada. Hoje a gente viu como estão as coisas. A sorte é que, quando cheguei na casa, encontrei nossos documentos. Uma parte sumiu, mas os principais conseguimos recuperar”, contou emocionado.

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Paulo foi levado para um abrigo em Laranjeiras do Sul, cidade vizinha a 18 km, junto dos filhos Marcos Paulo, de 19 anos, e Adriano, de 16. O filho mais velho, ferido no pé, só conseguiu se juntar à família neste domingo, após receber alta do hospital.

Segundo a Defesa Civil, cerca de 40 pessoas seguem em abrigos e mais de mil estão hospedadas provisoriamente em casas de parentes ou amigos. Desde sexta-feira (7), os serviços de emergência atenderam 835 pessoas. Trinta delas permanecem internadas, sendo quatro em estado grave.

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Cinco das seis vítimas fatais do tornado moravam em Rio Bonito do Iguaçu. No domingo, quatro corpos foram velados no salão paroquial da Igreja São Sebastião, no distrito de Campo do Bugre, um dos poucos locais que não foi atingido.

De acordo com o Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná), os ventos chegaram a 250 km/h por volta das 18h10 de sexta, classificando o tornado como de intensidade F3 na Escala Fujita, que vai de 0 a 5. Meteorologistas investigam ainda se outros tornados atingiram regiões vizinhas, incluindo a zona rural de Guarapuava.

A destruição é quase total: 90% do município foi afetado. Ruas foram tomadas por árvores caídas, postes, carros virados e destroços de construções. Neste domingo, o trabalho foi de remoção e limpeza, uma corrida contra o tempo para tentar restabelecer a normalidade. O coordenador da Defesa Civil estadual, coronel Fernando Schunig, afirmou que o município deve estar limpo em dois ou três dias.

Cerca de 200 engenheiros da Cohapar e do Crea-PR iniciaram a vistoria das estruturas e a avaliação dos danos. Duas escolas estaduais foram danificadas, e a cidade não pôde realizar o primeiro dia do Enem. O Ministério da Educação confirmou a reaplicação da prova para os dias 16 e 17 de dezembro.

Em resposta à tragédia, o Governo do Paraná anunciou auxílio financeiro de até R$ 50 mil por família para reconstrução das casas. A Assembleia Legislativa aprovou, em sessão extraordinária, o projeto que permite o repasse direto dos recursos às vítimas, sem necessidade de convênio com as prefeituras.

O ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, visitou o município e anunciou a liberação imediata de R$ 15 milhões para reconstrução de uma escola e de um ginásio. O governo federal também antecipará benefícios assistenciais aos moradores.

Enquanto o poder público age e os números da destruição são contabilizados, o que se vê em Rio Bonito do Iguaçu é um retrato da resistência onde famílias que perderam tudo, seguem firmes encontrando na solidariedade e na esperança a força necessária para recomeçar.