Estudantes articulam pelas redes sociais manifestações neste sábado (22) para pedir a anulação do Enem 2025. A mobilização surgiu após o Inep decidir cancelar apenas três questões do exame, depois de vir à tona que um universitário, Edcley Teixeira, exibiu itens quase idênticos aos aplicados em uma live no YouTube, dias antes da realização das provas de matemática e ciências da natureza.
Os organizadores do movimento, chamado Anula Enem, dizem ter sido prejudicados e usam WhatsApp e Telegram para coordenar atos em capitais do país. Em São Paulo, o protesto está previsto para o Masp, na avenida Paulista.
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A estudante Letícia Araújo, 21, criou o grupo responsável pela articulação. Ela afirma que a mobilização começou na terça-feira (18), um dia após saber do caso pelas redes sociais. "Eu me senti lesada. Passada para trás. A gente rala o ano inteiro, e cada ponto pesa na disputa por uma vaga", diz.
Moradora do Rio de Janeiro, ela presta o Enem pela segunda vez e quer cursar ciências biológicas na Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). Segundo Letícia, a ideia de organizar os protestos surgiu ao acompanhar a indignação de estudantes no X (antigo Twitter).
O movimento cobra a anulação integral da prova, a renovação do banco de itens e a responsabilização dos envolvidos. Também pede mudanças nos pré-testes realizados no âmbito do Prêmio Capes Talento Universitário.
As questões do Enem seguem a TRI (Teoria de Resposta ao Item), que mede a dificuldade dos itens, compara provas diferentes e identifica acertos por "chute". Para isso, passam por pré-testes aplicados a públicos com perfil semelhante ao dos estudantes do ensino médio, inclusive em provas vinculadas ao Prêmio Capes Talento Universitário, voltadas a recém-egressos da educação básica.
Na segunda-feira (17), um dia após as provas de matemática e ciências da natureza, viralizou uma transmissão em que o estudante de medicina da UFC (Universidade Federal do Ceará) Edcley Teixeira apresentava suas principais apostas para o exame e mostrava ao menos cinco questões com forte semelhança às que acabaram aplicadas.
De acordo com o estudante, ele decorou os itens após ter participado, a convite do MEC, do prêmio da Capes.
A reportagem apurou que ao menos três questões antecipadas pelo universitário haviam sido usadas em pré-testes para a elaboração do banco de itens, aplicados a calouros do ensino superior no âmbito desse prêmio.
A reportagem tentou contato com Teixeira, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.
Letícia diz que conheceu os demais administradores no mesmo dia em que criou o grupo no WhatsApp. "Por que não ir para a rua? O jovem também se movimenta fora da internet", afirma.
Integrantes do movimento tentaram contato com o Inep e com o Ministério da Educação, segundo Letícia, sem retorno. "A resposta atual nos deixou insatisfeitos. Esperamos que apurem de fato e considerem a anulação total", diz.
Em comunicado divulgado, o Inep reafirmou a "isonomia, lisura e validade" do Enem 2025. O órgão disse que "nenhuma questão foi apresentada tal qual" na prova e que as semelhanças identificadas foram "pontuais".
A Polícia Federal foi acionada para investigar a divulgação dos itens e apurar possível quebra de confidencialidade ou má-fé.
Professores de cursinhos ouvidos pela reportagem afirmam que o episódio elevou a ansiedade dos candidatos, somou-se ao desgaste da maratona de provas e ampliou as dúvidas sobre a lisura do exame.
O perfil do movimento no Instagram se aproxima de 9.000 seguidores. Letícia diz que professores e comunicadores têm oferecido apoio. O grupo se declara apartidário e afirma buscar adesão ampla entre estudantes.
Segundo a organização, os atos terão formato semelhante nas capitais, com caminhadas e sem confrontos. "A gente não aceita o que aconteceu. O jovem não vai só olhar o celular enquanto tudo se resolve. Vamos participar das mudanças", diz.
Letícia também rebate críticas ao pedido de anulação geral. "Três questões já afetam milhares. Anular tudo é a única forma de garantir igualdade. Quem se beneficiou do vazamento é quem menos perde."
Egressa da escola pública e hoje em cursinho online, ela afirma que o grupo pode seguir ativo caso a mobilização cresça. Os organizadores dizem ter guardado vídeos, apostilas e capturas de tela divulgadas antes de serem apagadas pelo estudante envolvido.
"É cansativo. Todo mundo está exausto, mas é o que resta para ter um exame igualitário", afirma.
O QUE É O PRÊMIO CAPES DE TALENTO UNIVERSITÁRIO
Criado em 2019, o Prêmio Capes de Talento Universitário premia, a cada ano, mil matriculados em cursos de graduação e que fizeram o Enem no ano anterior, com o objetivo de "reconhecer o desempenho dos estudantes que demonstrarem grau destacado de desenvolvimento de competências cognitivas".
Para o receber o prêmio individual de R$ 5.000, os candidatos fazem uma nova prova de 80 questões de múltipla escolha, que precisa ser completada em quatro horas.
Para concorrer, os candidatos devem ter recém-ingressado em curso de graduação, ter obtido nota no Enem no ano anterior e não estar em débito com a Capes, com o CNPq ou com outras agências ou instituições de fomento à pesquisa.
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