Fixados estrategicamente na entrada de casa, os cartazes com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré não apenas anunciam a chegada de mais um Círio, mas também dizem muito sobre a cultura e a história de devoção da população pela Virgem Maria. Presente na iconografia do Círio desde 1826, quando o primeiro cartaz foi confeccionado em Portugal, a peça passou por mudanças de elementos ao longo dos anos, mas permanece como um importante símbolo de fé dos paraenses.
Antropólogo, com pesquisa desenvolvida na área da cultura material religiosa, o diretor do Museu do Círio, Anselmo Paes, destaca que o cartaz surge com o objetivo de comunicar a realização da festividade em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, mas que acaba ganhando outro significado através do próprio uso adotado pelos devotos.
“Quando você lida com um objeto de propaganda e comunicação, você quer que, de fato, aquele objeto seja visto para que aquela informação chegue até as pessoas, porém, no caso do nosso cartaz do Círio ele ultrapassa essa dimensão da mera comunicação”, adianta. “O cartaz fala também da dimensão envolvida na própria identidade dos sujeitos, quando eles anunciam em suas portas e janelas o evento do Círio. Então o cartaz também tem essa dimensão como objeto de devoção e de identidade”.
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Anselmo chama a atenção para o fato de que, muitas vezes, as famílias não retiram o cartaz da porta de casa após a realização do Círio. O elemento continua no mesmo lugar ao longo do ano. “Quando ele perde sua função de comunicar o evento, ele continua tendo outras funções. É nesse momento que você distingue que há um elemento devocional também naquele cartaz”, considera.
“Ele é tão rico, tão cheio de uma energia sagrada, que ele pode permanecer na porta até mesmo depois do evento ter passado. Não é uma displicência, é porque ele continua tendo uma função: que é lembrar da relação com Nossa Senhora de Nazaré, assim como avisar aos outros que aquela casa está sob aquela proteção especial”.
Ornamentação
Parte da simbologia empregada ao cartaz também está presente no hábito que muitos fiéis têm de ornamentar o elemento. Através do uso de pedrarias, contas e fitas, cada indivíduo emprega personalidade ao símbolo que costuma seguir um padrão estético. “É uma tradição do catolicismo popular que se expressa também em outras dimensões, mas que no caso específico dos materiais ligados a Nossa Senhora de Nazaré é muito potente em decorrência dessa relação de proximidade, de uma relação afetuosa”, explica Anselmo.
Essas e outras manifestações foram observadas no hábito de expor o cartaz do Círio ao longo dos anos em que ele já é utilizado. Da mesma forma, a própria representação adotada pelos cartazes oficiais foram se transformando com o passar do tempo.
Anselmo explica que a maior parte das mudanças diz a certos critérios estéticos que antes não estavam disponíveis e que, a partir de um projeto de oficialização do cartaz, ele acaba se tornando mais padronizado. “Essa ação de padronização do cartaz acaba coincidindo com o projeto da marca Círio, instituída pela própria diretoria e isso vai uniformizar, de certa forma, como o cartaz vai ser apresentado”, aponta.
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Relíquia
Mais de 90 cartazes do Círio fazem parte do acervo do Museu do Círio, entre eles uma relíquia em especial: o cartaz de 1878. Anselmo destaca que, através dele, é possível identificar certas diferenças na configuração dos elementos em relação à atual padronização. “O cartaz de 1878 mostra alguns elementos muito especiais, como a representação do milagre de Dom Fuas Roupinho, que é um milagre original que iniciou a devoção a Nossa Senhora de Nazaré em Portugal. Nesse mesmo cartaz você ainda vai encontrar outro milagre impresso que é o milagre do naufrágio do brigue São João Batista, que são referências que falam da origem dessa devoção”, considera. “A devoção a Nossa Senhora de Nazaré se inicia com uma perspectiva muito grande do mar. A vila de Nazaré é uma vila de pescadores, em Portugal, que estava à beira da água e quando essa devoção vem para a Amazônia, vem também se enriquecer com a questão estética dos rios”.
Museu
O Museu do Círio está aberto de 9h às 17h, quase todos os dias, exceto às segundas-feiras. Durante o período do Círio, irão ocorrer exposições em outros pontos da cidade.
História
O primeiro cartaz de divulgação do Círio foi confeccionado em Portugal no ano de 1826. Inicialmente as peças eram elaboradas à mão para impressão. Atualmente o cartaz é produzido a partir de fotografias e tem a concepção elaborada por uma agência de publicidade voluntária.
Fonte: Site oficial do Círio de Nazaré – www.ciriodenazare.com.br
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