Sem que o Círio de Nazaré possa sair às ruas neste ano em decorrência da pandemia do novo coronavírus, muitos fiéis decidiram antecipar as homenagens para Nossa Senhora. Na manhã do último domingo antes do Círio, devotos se reuniram em frente à Basílica Santuário de Nazaré para assistir às missas e prestar suas homenagens.
Na fila formada em frente aos portões da Basílica, a pensionista Iracema Souza, 79, repassava na memória os bons motivos que tinha para agradecer à Virgem de Nazaré. No período mais crítico da pandemia de Covid-19, a idosa contraiu o coronavírus e passou 14 dias internada.
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Recuperada, ela queria agradecer à Nossa Senhora em sua própria casa. “Eu vim para a missa das 8h, mas acabei perdendo o horário. Então, resolvi esperar a missa das 10h”, explicou. “Como eu não vou poder vir no domingo do Círio, porque vai ser fechado, eu vim hoje porque é muita gratidão”.
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Para marcar o Círio deste ano, Iracema conta que pretende reunir os filhos em um almoço em casa. Sem procissão nas ruas, a família deve acompanhar a transmissão das missas pela televisão e internet.
“Eu fiquei muito mal quando estive internada. Eu fiquei em uma situação que nem conseguia pedir pela minha saúde, mas meus filhos e familiares pediram muito por mim à Nossa Senhora de Nazaré e ela não me abandonou”, emocionou-se. “O Círio desse ano vai ser diferente, mas a nossa fé continua porque a santinha é a mesma”.
Na intenção de acompanhar a missa na Basílica que guarda a imagem original de Nossa Senhora de Nazaré, dezenas de fiéis fizeram fila na entrada da igreja. Enquanto aguardavam o término da missa e início da próxima, presenciavam outras manifestações de fé que chegavam espontaneamente ao local.
Depois de caminhar do município de Ananindeua até a Basílica Santuário, o analista de recursos humanos José Augusto Cunha, 34, aproveitou o gradil enfeitado com fitas para fazer suas orações. Ele conta que o motivo que o levou a caminhar cerca de quatro horas a pé e sozinho foi a gratidão por um sonho alcançado. “Tinha que cumprir a minha promessa em agradecimento à minha casa que Nossa Senhora me deu”, disse, emocionado. “É muito gratificante poder cumprir a nossa promessa porque durante todo o caminho eu vinha pensando em tudo o que ela já me deu, a gente vem fazendo uma reflexão e é essa fé nela que nos fortalece a chegar até aqui”.
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Com a promessa cumprida, José Augusto, agora, se prepara para vivenciar o Círio deste ano da maneira que o momento permite. “Eu pretendo acompanhar as celebrações pela televisão, junto com a minha família. Depois, quando for possível, a gente vem até a Basílica para fazer uma visita à imagem”.
Aos 86 anos, o aposentado José Manuel do Vale Filho conta que nunca deixou de participar de uma procissão do Círio desde a primeira infância. Neste ano, sem a procissão nas ruas, ele antecipou a vinda para Belém. “Saí de Curuçá, onde eu moro, na sexta-feira (02) e hoje (domingo) vim para tentar assistir à missa”. Com um cartaz do Círio 2020 em mãos, contou que recebeu um chamado de Nossa Senhora para ir até a Basílica Santuário. “Nunca deixei de assistir um Círio. Esse ano tem sido meio complicado, mas para Deus nada é impossível”.
BARCAS
O impossível também não é considerado pelo microempreendedor Matheus Coutinho Aguiar, 67. Desde 2004, percorre o mundo levando manifestações de fé a Nossa Senhora de Nazaré. Ele conta que já percorreu 27 mil quilômetros, passando por 16 países. Desde 2019 ele começou a levar com ele uma barca que reproduz as embarcações típicas queaportam no Ver-o-Peso.
Matheus conta que a meta é levar 33 barcas a diferentes igrejas pelo mundo. “É uma emoção muito grande e movida pela fé. Se a pessoa não tiver bons propósitos, não consegue realizar, mas com a fé se consegue o impossível”, diz. “Neste ano trouxe a barca para a Basílica e, ainda em 2020, devo levar até a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Manaus”.
Já a aposentada Beatriz do Amaral, 67, resolveu fazer suas homenagens ao lado dos carros de promessas usados durante a procissão do Círio e que, neste ano, foram colocados em exposição na Praça Santuário.
“Durante o Círio a gente não consegue ver os carros de perto, mas esse ano, como não vai poder ter a procissão, nós pudemos ver de perto”, considerou. “Eu participo do Círio todos os anos, mas esse ano eu vou ficar em casa e assistir pela televisão. É um pouco triste, mas Deus sabe o que faz e a nossa fé em Nossa Senhora continua”.
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