Mesmo sem a saída da Berlinda com a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré às ruas, muitos devotos fizeram questão de agradecer pelas graças alcançadas pela interseção da padroeira dos paraenses. Se os símbolos tradicionais do Círio não puderam cumprir o trajeto da Igreja da Sé até a Basílica Santuário de Nazaré, não faltaram cordas, berlindas e réplicas da imagem levadas pelos próprios fiéis.
Na Boulevard Castilhos França, as manifestações de gratidão se faziam presentes a todo o momento. Ainda antes do término da missa celebrada a portas fechadas na Catedral Metropolitana, uma berlinda e uma corda já eram organizadas pelo grupo Unidos pela Fé. “Todos os anos nós ficamos na expectativa de vir na corda do Círio, então é difícil chegar hoje aqui e não ver a corda, não ver aquela multidão”, descrevia o membro do grupo, Diego Kapgeane Rodrigues, 34 anos. “Eu comecei a cumprir a minha promessa na corda por causa da saúde do meu filho. Durante a gestação ele teve algumas complicações e poderia nascer com algumas sequelas, mas nasceu com saúde. Desde então eu agradeço na corda”.
Diego e outros integrantes do grupo organizaram uma berlinda e uma corda que foram levadas até a Basílica Santuário. “É muito emocionante poder agradecer por uma graça. Apesar do cansaço, a sensação é de muita emoção e é por isso que nós decidimos cumprir o mesmo percurso da maneira que foi possível esse ano”, complementou Diego.
No caso da costureira Iracema da Costa Conceição, 74 anos, a participação na corda também precisou ser substituída neste ano. No Círio 2020, ela demonstrou sua gratidão à Virgem de Nazaré conduzindo uma pequena berlinda até a Basílica. “Nesse ano eu tive muitas graças. Uma foi do meu neto que eu me peguei com Nossa Senhora para que ele seguisse um bom caminho e consegui. Outra foi a minha filha que ficou muito doente, fez uma cirurgia, e também ficou boa”, contava, à medida em que empurrava a passos calmos a berlinda com a réplica da imagem. “Eu estou muito feliz pelas bênçãos que ela me concedeu, então eu não podia deixar de vir agradecer”.
As graças concedidas ao funcionário público Paulo Cione, 44 anos, o levaram a, mais uma vez, cumprir o trajeto do Círio de joelhos. Natural do município de Ponta de Pedras, no Marajó, o devoto viajou até Belém apenas para cumprir a promessa em agradecimento pela saúde da esposa. “É a terceira vez que eu cumpro o trajeto de joelhos. A primeira vez foi pela saúde da minha filha, que teve uma pneumonia em 2006, a segunda foi pela saúde da minha esposa em 2008 e este ano foi pela saúde dela de novo. A minha esposa teve a Covid-19 após fazer uma cirurgia de emergência. No momento de desespero eu pensei que eu iria perdê-la”, recordou, enquanto reunia forças para continuar a jornada. “Mas Nossa Senhora não nos abandonou, ela sempre me atende e poder vir agradecer é uma emoção sem comparação, não tem explicação”.
Ao longo de todo o percurso do Círio, desde o início até a Basílica Santuário, muitas representações de Nossa Senhora, em diferentes tamanhos e materiais, eram levadas pelos fiéis. Com um belo manto, a imagem conduzida por um grupo de Guardas de Nazaré causava comoção por onde passava. “A gente precisa de adequar. Neste ano muitas pessoas perderam a vida, então o sentimento de gratidão por estarmos vivos é muito grande”, explicava o servidor público e Guarda de Nazaré, Marcelo Rodrigues, 45 anos.
CORONAVÍRUS
No caso da autônoma Mileide Pinon, 43 anos, a peça de cera levada nas mãos reproduzia a cabeça pela recuperação do irmão da devota. “O meu irmão teve Covid-19 e, por conta disso, entrou em uma depressão muito forte. Ele tinha muito medo de morrer e não conseguia reagir”, lembra. “Eu pedi muito a Nossa Senhora que entrasse na mente dele e acalmasse. Ele melhorou, tanto da Covid, quanto da depressão, então eu não tenho palavras para agradecer, é muita emoção”.
As palavras também faltaram à administradora Ludiana Mafra, 35 anos. Com o filho José Heitor, de 2 anos, vestido de anjo em cima dos ombros, ela só conseguia agradecer pela saúde da criança. “Em junho ele caiu da escada e quebrou o braço, precisou fazer uma cirurgia e corria o risco de ficar com sequelas”, lembra. “Quando ele estava no hospital operando, eu só conseguia pensar em Nossa Senhora. Hoje ele está aqui sem sequelas, com saúde, e viemos agradecer”.
Sidney Junior, 24, há três anos percorre o caminho da procissão de joelhos para agradecer pela saúde da filha, que nasceu com seis meses de gestação. Com um sapatinho de bebê nas mãos, ele seguiu de joelhos para mais um momento de sacrifício.
Um dos promesseiros que mais chamou atenção foi Alex Senna. Ele fazia o trajeto de joelho, como tantos, mas além de usar máscara, estava de óculos de proteção e roupa especial para proteção contra o coronavírus, comumente usadas em hospitais. “Sou profissional de saúde, vim assim para homenagear tantos amigos perdidos durante essa pandemia”, explicou. (com informações do fotógrafo Wagner Almeida)
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