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DEVOÇÃO

Domingo é marcado por despedida do Círio 2020

Com um Círio diferente, sem romarias, os devotos fizeram questão de manifestar sua fé por Nossa Senhora de Nazaré, em pequenos grupos ou isoladamente. Missa marca o encerramento da festividade

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Imagem ilustrativa da notícia Domingo é marcado por despedida do Círio 2020 camera Fernando Araújo/Diário do Pará

Ao longo de 228 edições do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, nenhuma outra foi tão diferente quanto a deste ano, que será encerrada neste domingo (veja no box parte da programação de encerramento da festividade). Sem as tradicionais procissões e a romaria oficial que reunia cerca de dois milhões de devotos nas ruas de Belém, e com uma programação da festa totalmente modificada por causa da pandemia da Covid-19, os fiéis manifestaram sua fé das mais diversas formas. Nesse contexto, alguns elementos são fundamentais para que se possa compreender, por exemplo, por que mesmo em um cenário pandêmico, cerca de 100 mil devotos foram às ruas no domingo do Círio (11) e muitos buscaram celebrar a tradição à sua maneira.

O cientista da religião José Antônio Mangoni destaca que, ao falarmos de religião, a tradição é um fator que, pela repetitividade, garante força a um evento. “O Círio, no segundo domingo de outubro; o Natal, no dia 25 de dezembro, por exemplo, são datas que se repetem e sustentam a força destes acontecimentos”.

Um segundo elemento apontado pelo cientista é a fé que, atrelada à criatividade, foi essencial para que, neste ano, os devotos mantivessem a prática religiosa e a devoção de uma forma diferente, na qual uma tradição foi quebrada. As promessas também manifestam um papel importante nessa conjuntura, pois são cumpridas pelos devotos. “Muitas pessoas usaram da criatividade para exercer aquilo que foi prometido. Sem a corda, alguns foram à Basílica, estenderam ex-votos nos carros de promessa ou amarraram fitas nos portões da igreja”, lembra Mangoni.

O Círio, na avaliação do cientista, tem ainda a força popular como outro elemento relevante. “É a dimensão da fé. Isso não acontece em outros lugares. Todos esses elementos apontados ressignificam o Círio dentro desse contexto pandêmico e de como viver momentos diferentes”, afirma.

Acompanhando o Círio desde criança, Victor Pinheiro, 23 anos, conseguiu chegar em Belém somente no domingo (18) e aproveitou a manhã de quarta-feira (21) para assistir a uma missa na Basílica Santuário de Nazaré. Para ele, a festa este ano foi uma experiência diferente, mas com a mesma emoção de sempre.

“A vontade de participar dos Círios era algo que eu sentia desde pequeno. Em 2017 pude vir a Belém, pois moro em Manaus, mas minha família é toda daqui, e foi uma das melhores sensações que tive. Desta vez, acompanhei pela internet e foi também emocionante ver a imagem peregrina sobrevoando a cidade e descendo do helicóptero”.

Em frente à Basílica, o casal de comerciantes Rubens e Marilene Pena ressaltaram que, mesmo com uma celebração diferente, foi possível sentir a emoção da festa e celebrá-la de uma forma mais intimista. “No meio do ano imaginávamos que haveria Círio, mas, ao longo dos meses, tudo foi mudando, sendo assim, comemoramos com o habitual almoço e acompanhamos a programação pela TV. Independente disso, como devotos de Nossa Senhora também cumprimos alguns votos e um deles foi vestir de anjo a nossa neta Beatriz, de 1 ano, e levá-la até a Basílica. Acreditamos também que Círio é renovação e fizemos uma postagem dela com o título ‘votos renovados’, nas redes sociais para a família”, contou Rubens.

Embora muitos devotos tivessem buscado novas formas de vivenciar a festa mariana, houve quem mantivesse a tradição, realizando a caminhada no mesmo percurso da romaria oficial no domingo (11). O vendedor Francisco Domingos, 56 anos, se reuniu com amigos e percorreu o trajeto que é feito na procissão que leva a imagem peregrina da Igreja da Sé até a Praça Santuário. “Foi algo diferente, sem muitas pessoas nas ruas. Em família, nos reunimos para o almoço como todos os anos”.

Em Círios anteriores, outras mudanças não foram tão significativas como o deste ano. Em geral, eram alterações internas que se restringiam à corda, ao carro que transporta a imagem peregrina, entre outras. “O importante foi se reencontrar dentro dessa nova realidade. Sem a tradição o devoto faz por ele mesmo, pois a fé é algo enraizado”, afirma Mangoni.

Programação do encerramento da festividade

Dia 25/10: Missa da Festa da Padroeira + encerramento da festa (18h / Basílica), presidida pelo arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, com acesso do público até o limite permitido pelos órgãos de segurança como prevenção à Covid-19.

Dia 26/10: a partir das 6h30 da manhã ocorrerá a subida da imagem original de Nossa Senhora de Nazaré ao Glória. Às 7h será celebrada a Missa de Recírio, na Basílica, também presidida pelo arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa

Já o arraial nazareno segue até 26 deste mês, de 17 às 22h, no estacionamento do Centro Social de Nazaré, ao lado da Basílica, com estandes que comercializam produtos alimentícios, artesanato, peças de vestuário e artigos religiosos.

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