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HISTÓRIA

Entenda como a Catedral da Sé mudou a história do Círio

A igreja da Sé, um símbolo importante para a igreja católica na capital, foi importante para inúmeras alterações no trajeto e na estrutura da festa de Nossa Senhora de Nazaré ao longo de mais de dois séculos

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Imagem ilustrativa da notícia Entenda como a Catedral da Sé mudou a história do Círio camera A Catedral de frente | Mauro Ângelo / Diário do Pará

A principal procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, celebrada no segundo domingo de outubro, passou por inúmeras mudanças ao longo de mais de dois séculos (este ano chega a sua 230ª edição). Dentre elas estão a dimensão e a formatação atual do trajeto. São características que estão diretamente ligadas à escolha da Catedral Metropolitana de Belém, ou simplesmente Catedral da Sé, como o ponto de partida da celebração.

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Erguida no berço de criação da cidade de Belém, no bairro da Cidade Velha, a Catedral, que hoje é também a sede da Arquidiocese de Belém, tem a conclusão de sua construção datada em 1º de fevereiro de 1774, momento em que recebeu a bênção da Capela Mor, segundo dados históricos disponibilizados no site da Catedral. O seu local de fundação, inicialmente, abrigou a Igreja de Nossa Senhora da Graça. E, posteriormente, em 1748, as obras de construção da Catedral foram iniciadas. Após algumas interrupções, a obra foi assumida pelo arquiteto italiano Antônio José Landi.

O professor e historiador da Universidade Federal do Pará (UFPA), Márcio Couto, lembra que a primeira procissão do Círio foi realizada em 1793. Contudo, nesta época, a procissão partia da capela do Palácio do Governo, passava por algumas ruas da capital até chegar a uma antiga igreja, situada ao lado do local onde posteriormente foi erguida a Basílica Santuário de Nazaré, no bairro de Nazaré. Já a trasladação, que ocorre na véspera da procissão, saía dessa igreja em direção à capela. Alguns jornais da época apontam que a procissão do Círio continuou realizando esse trajeto até o ano de 1889.

Entenda como a Catedral da Sé mudou a história do Círio
📷 |Wagner Santana / Diário do Pará

PROCLAMAÇÃO

Os desdobramentos da Proclamação da República em 1889 resultaram em mudanças na formatação da procissão. “O Círio começa a sair da Catedral a partir da Proclamação da República, que se dá justamente em 1889. Tem todo esse debate com a separação entre igreja e Estado nesse momento. E, dada a situação de que o Estado deveria ser laico, o Círio passa, então, a não mais sair do Palácio do Governo, mas sim da Catedral da Sé”, informa Márcio.

O professor frisa que, até a primeira metade do século 19, o trajeto do Círio era bem diferente dos moldes atuais. Segundo ele, naquele período, o Círio circulava a Praça Dom Frei Caetano Brandão, passava em frente ao seminário dos Jesuítas e pelo Hospital Militar, área onde depois foi erguida a Casa das Onze Janelas e, logo em seguida, passava pelo Hospital Bom Jesus dos Pobres, onde funcionou a Santa Casa de Misericórdia do Pará. De lá, a procissão seguia pela Doutor Assis, passava pelo Colégio do Carmo, voltava e percorria várias ruas do centro de Belém.

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📷 |Wagner Santana / Diário do Pará

“O percurso atual do Círio só se consolida a partir de 1930, especialmente em função da grande quantidade de pessoas que a procissão passa a ter a partir do final do século 19. A gente fala em grande quantidade de pessoas, mas, em 1930, a estimativa era de cerca de 100 mil pessoas na procissão. Muito longe das duas milhões de pessoas que temos nos dias atuais. O trajeto, ao longo da área comercial, costumava passar especialmente pela frente das igrejas, que badalavam os sinos, soltavam fogos”, esclareceu.

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De acordo com o historiador, o atual percurso do Círio, que hoje sai da Catedral, acessa a Avenida Boulevard Castilhos França para, em seguida, entrar na Presidente Vargas, finalizando na Basílica, só começa a ser feito a partir da década de 1930. “A saída do Círio da Catedral marca, também, um dos momentos de apropriação do Círio por parte da igreja e do Estado. Os jornais do século 19 se referiam ao Círio como a ‘popular Festa de Nazaré’ ou a ‘popularíssima Festa de Nazaré’. Mas, ao longo do século 19, tanto o Estado quanto a igreja assumiram a administração da festa, que não deixou de ser popular. A partir da criação da Diretoria de Nazaré, a organização vai passar a ser feita pelo Estado e pela igreja”, disse.

Antes disso, até 1910, a organização da procissão era de responsabilidade da irmandade de Nossa Senhora de Nazaré do Desterro. “A mudança da capela do Palácio para cá (a Catedral) traz essa dimensão (que o Círio possui hoje) por ser um espaço maior, ser um espaço religioso também. Isso dá mais brilho para a devoção e para a festa religiosa”, enfatizou Couto.

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📷 |Wagner Santana / Diário do Pará

TURISMO

Hoje milhares de pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo saem às ruas para acompanhar a celebração. Parte desses devotos permanece nos arredores da Catedral da Sé desde o dia anterior, após participarem da trasladação. Muitos deles buscam garantir um lugar na corda, que puxa a berlinda com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré e é um dos elementos mais emblemáticos da Festa. Mas, o foco no turismo religioso do Círio ocorre somente a partir da década de 50, conforme explicou o historiador.

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“É o espaço de nascimento da cidade (área da Catedral da Sé) e isso, de algum modo, agrega valor à Festa de Nazaré. A Catedral é um prédio que foi construído durante quase três séculos. É natural que haja características desses diversos períodos. A gente tem, por exemplo, referências ao estilo barroco, como o portão que foi inserido por Dom Macedo Costa no século 19. Temos a participação do Landi, um arquiteto italiano que fez obras de extrema importância para a cidade de Belém. O museu da Catedral já é algo mais contemporâneo, mas que revela, também, essa preocupação com a própria preservação da memória da Catedral, da devoção à Nossa Senhora das Graças e à Nossa Senhora de Nazaré”, ponderou.

Em 2004, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) finalizou o processo de registro do Círio de Nazaré como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. E, durante esse processo, a Catedral foi considerada como um elemento essencial do Círio. “Os devotos entendem que a corda seria uma espécie de cordão umbilical, que os liga à sua mãe, Nossa Senhora de Nazaré. Esse cordão umbilical é estendido, praticamente, na frente da Catedral. Então, pode se dizer, que há uma vinculação direta entre a corda, a berlinda e a própria Catedral. Cria um cenário muito bonito, que favorece a devoção à Nossa Senhora de Nazaré, no Pará e na Amazônia”, destacou.

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