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Amor pelo Círio vira renda para artesãos em outubro

A arte de atar e desatar os nós no macramê se transformaram em uma fonte de renda e terapia para a professora aposentada Mônica Mota.

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Imagem ilustrativa da notícia Amor pelo Círio vira renda para artesãos em outubro camera A paraense uniu o amor pelo Círio de Nazaré ao empreendedorismo sustentável | Divulgação

Com a chegada de outubro, as ruas de Belém recebem decorações que marcam o início das celebrações do Círio de Nazaré. Entre as figuras tradicionais estão representações natalinas e de Nossa Senhora de Nazaré, padroeira dos paraenses. O Círio, realizado no segundo domingo de outubro, é um dos maiores eventos religiosos do Brasil e reúne cerca de dois milhões de fieis, segundo levantamentos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico (Dieese).

Além do aspecto religioso, o evento também gera oportunidades para empreendedores locais, como a professora aposentada Mônica Mota, que aprendeu a técnica de macramê com uma tia aos 16 anos de idade. Após dar a entrada na aposentadoria em 2020, durante a pandemia, ela decidiu começar a produzir artesanato como uma forma de se ocupar, em um período em que as pessoas passavam mais tempo em casa. Para o Círio, começou a produzir no ano seguinte, em 2021. Encarado antes apenas como um hobbie, a paraense transformou seu amor pelas atividades manuais em um negócio.

Peças como chaveiros, brincos, pulseiras e filtros dos sonhos foram adaptadas para homenagear Nossa Senhora de Nazaré, além de objetos típicos das festas de fim de ano, como guirlandas de Natal, que ganharam um toque religioso e paraense, tudo feito de forma sustentável. A artesã contou que foi até Abaetetuba, onde contratou mão de obra local e produziu os itens de decoração.

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"Fui até Abaetetuba, contratei dois miritizeiros e decorei as cordas de macramê de algodão com miniaturas de miriti. Coloquei Nossa Senhora ao centro, com os brinquedinhos, as cobrinhas, o casal de namorados, todos compondo a guirlanda do Círio. Neste ano, procurei fazer o artesanato de forma ainda mais sustentável. Usei um aro de bambu para a guirlanda, fios de juta, fiz a imagem de Nossa Senhora de Nazaré em linho e o Menino Jesus em tecido de chita. Também usei madeira, e o resultado ficou lindíssimo, além de super sustentável”, contou.

Escapulário de Porta em macramê com cordão de algodão
📷 Escapulário de Porta em macramê com cordão de algodão |Divulgação

Mônica comercializa seus produtos através da microempresa “É nós! Amazônida” em feiras locais, especialmente durante o Círio de Nazaré. Um desses eventos é a Feira de Artesanato do Círio (FAC), promovida pelo Sebrae no Pará.

A FAC, realizada durante o período do Círio, incentiva a cultura e o trabalho de artesãos e empreendedores paraenses, o festival deve gerar R$ 1,5 milhão em negócios, que inclui faturamento durante o evento e as entregas futuras, e atrair mais de 60 mil visitantes.

Guirlanda Círio 2024
📷 Guirlanda Círio 2024 |Divulgação

Ela conta que a arte de fazer o macramê a envolve também emocionalmente, já que no atar e desatar dos nós, algo pessoal da artesã fica na manifestação artística: "há muito amor envolvido. Nossa Senhora é tudo, não é? Nossa Mãezinha. Então, eu faço, né? Todo o artesanato que produzo é com muito amor. Eu costumo dizer que o ato de atar e desatar os nós no macramê — porque o macramê é justamente a arte de atar e desatar nós — proporciona um momento de relaxamento e meditação, é uma verdadeira terapia".

"Ao fazer isso, você se dedica, e um pouco de você fica naquele trabalho artesanal. Portanto, há muito amor envolvido. Especialmente neste período do Círio, ficamos mais emotivos, mais sensíveis, e buscamos colocar ainda mais amor, dedicação e perfeição em tudo que fazemos”, disse.

A feira é resultado da fusão de duas iniciativas: a Feira do Miriti, voltada ao artesanato tradicional de Abaetetuba, e a Feira do Círio, que reunia diversas tipologias de artesanato de municípios do Pará. A FAC oferece aos artesãos e empreendedores locais a oportunidade de vender seus produtos durante e após as festividades do Círio. No local, 120 estandes para exposição e venda de produtos de 113 artesãos de 19 municípios do Pará.

“A feira é complementar e realizada ao longo do ano, mas durante o Círio de Nazaré, por sua importância cultural e econômica, além do grande número de turistas que visitam Belém, há uma movimentação econômica significativa. Nosso objetivo é proporcionar um ambiente favorável para que os empreendedores possam aproveitar esse período de grande movimentação e importância para os paraenses”, explica Igor Silva, gerente do Sebrae Pará e coordenador da FAC.

Macramê

A expressão macramê vem da expressão árabe makrama, que significa “guardanapo” ou “toalha”. Consiste em uma técnica de tecelagem manual a partir do uso de nós, que originalmente era usada para criar franjas e barrados em lençóis, cortinas e toalhas, outros itens domésticos do gênero. A história dessa técnica é mais antiga e remonta ao século XIII e aparece nas esculturas dos babilônios e assírios. A arte foi difundida mundialmente pelos navegantes que criavam as peças a bordo durante as longas viagens e faziam escambos e/ou as vendiam em suas paradas pelos portos. Assim, o mundo ficou conhecendo a técnica.

Círio de Nazaré

Segundo o site oficial do evento, o Círio é uma manifestação de fé e devoção à Nossa Senhora de Nazaré, realizada há mais de 200 anos em Belém. Atualmente, a festa católica foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial pelo Iphan e declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

Procissão do segundo domingo de outubro leva mar de gente às ruas de Belém
📷 Procissão do segundo domingo de outubro leva mar de gente às ruas de Belém |Arquivo - Wagner Santana/Diário do Pará

“A história do Círio começa em 1700 com o achado da Imagem de Nossa Senhora de Nazaré pelo Caboclo Plácido, às margens de um riacho localizado próximo de onde hoje se ergue a Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré”, diz o site.

A devoção à Nazaré cresceu e, em 1793, aconteceu a primeira procissão em homenagem à Padroeira dos paraenses. Desde então, o Círio é realizado todos os anos, reunindo sempre um número maior de fiéis, hoje estimado entre 2 milhões e 2,5 milhões de pessoas pelas ruas da capital paraense.

A Festividade ocorre em outubro com a realização do Círio e de outras 12 procissões, como a Trasladação, a Romaria Rodoviária, a Romaria Fluvial, o Círio das Crianças e o Recírio, dentre outras. Durante toda a quinzena festiva, também há extensa programação de eventos: missas, vigílias de oração, o Arraial de Nazaré, o Círio Musical e a descida da Imagem do Achado, do Glória para o Altar da Basílica Santuário, onde fica durante os quinze dias de festa para visitação.

Equipe DOL Especiais:

  • Lucas Contente é repórter do portal DOL. Nascido na cidade de Muaná, na Ilha do Marajó, e criado desde os nove anos em Belém, é formado em Comunicação Social - Jornalismo desde 2023 pela Faculdade Estácio FAP.
  • Anderson Araújo é editor e coordenador dos conteúdos especiais do Dol. Formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), em 2004, e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto (Portugal), em 2022. É também autor de dois livros de contos e crônicas publicados em 2013 e 2023, respectivamente.
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