Inspirada no trabalho da irmã que, sem que consiga se definir o início, já trabalhava com a confecção das tradicionais fitinhas do Círio, a autônoma Maria de Lourdes Flexa Ferreira mantém na família uma das tradições mais características do Círio de Nazaré. Passado o trabalho de venda em frente à Basílica Santuário de Nazaré ainda no início do ano, é em um quarto em casa que ela começa a preparar as fitinhas que carregarão os pedidos dos fiéis de Nossa Senhora em outubro. “Vou comprando, pintando e guardando. Nessa época já tem que estar tudo pronto”.
Ainda que a história do surgimento do costume de amarrar a fita de Nossa Senhora , ao mesmo tempo em que se fazem três pedidos, não tenha sido apresentada à Maria de Lourdes até hoje, ela já alimenta a tradição há 26 anos. Além de tomar para si a atividade deixada pela irmã, ela ainda fez questão de aglutinar os dois filhos. “Começou com a minha irmã. Ela largou e eu continuei e fui puxando todo mundo para trabalhar junto”, orgulha-se, ao receber a ajuda do filho Mizael Michel não apenas na confecção, mas também nas vendas. “Sobrevivemos dessa venda. Já fico com a minha mão até dolorida de fazer as coisas. Pra esse período do Círio fazemos umas 200 mil fitas e vendemos tudo”.
No que depender do apreço que a universitária Carolina Almeida tem pela lembrança mais tradicional do Círio de Nazaré, não haverá dificuldade para escoar a grande quantidade de fitas que circulam e colorem os expositores de tantos autônomos. Certa de que a fé em Nossa Senhora de Nazaré lhe proporcionou a vitória esperada, ela usufrui até hoje do pedido concedido. “Coloquei uma fitinha quando entrei no ensino médio para que eu conseguisse passar por esse período de vestibular e outra no final do primeiro ano, quando eu perdi a primeira prova da Federal (Universidade Federal do Pará)”, lembra, sem esconder a presença de várias fitas, ainda hoje, em cada canto da casa. “Eu tinha as duas fitinhas e, por coincidência, puiu uma e, no mesmo período, a outra”.
Com o rompimento do símbolo da fé atribuída à padroeira dos paraenses às proximidades da última prova do vestibular, a crença de Carolina não poderia ter sido outra. “Elas romperam antes do resultado e eu achei que a fita era uma forma de estar o tempo todo protegida. Pensei que se tinha arrebentado é porque a minha graça estava chegando”, conta. “As fitas são um símbolo da fé, ainda mais quando a pessoa consegue manter até o final. Hoje a gente vai ganhando, comprando fitinha e vai simbolizando por toda a casa para Nossa Senhora estar sempre presente”.
VENDA
Acostumada a trabalhar de olho na entrada da igreja que abriga a imagem original da Virgem de Nazaré, Marluce vê a cidade encher de turistas durante o Círio, período em que, como não poderia deixar de ser, as vendas das tradicionais fitas são mais fartas. Entre a produção de um chaveiro e outro ao lado da barraca que expõe uma grande diversidade de lembranças, a mulher interrompe o movimento com as mãos para atender os que se encantam com as referências à Santa. “Meu marido pinta as fitas de Nossa Senhora e eu vendo. Quando eu conheci ele já trabalhava com isso. Já eu faço os terços de caroço de açaí, as lembranças”, explica, ao destacar a devoção pela principal inspiração do trabalho. “O nosso trabalho é muito abençoado. Sem Nossa Senhora de Nazaré não estaria aqui”.
Com o pensamento e o trabalho voltado para a Santa durante todo o ano, Marluce não esconde o carinho cultivado por Nossa Senhora desde muito cedo. “Me faz trabalhar o ano todo pensando nela, me inspirando nela”, comenta, ao informar que chega produzir de 20 a 30 mil fitas no período do Círio. “Até o dia em que eu conseguir eu vou trabalhar com isso”.
(Diário do Pará)

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