Desde cedo da madrugada, eles chegam de todos os cantos. Os promesseiros vão na corda, de joelhos, caminhando ou até mesmo segurando uma cruz. A trabalhadora doméstica Maria Costa, 39, foi com luvas, joelheiras e ataduras nos pés para pagar uma promessa. “No primeiro ano agradeci por minha casa própria, depois foi para pedir a cura da minha filha que adoeceu dos rins e, graças a Deus, agora já está bem. Quando você faz com fé, consegue. É muita emoção”, acredita. 

“Vi a morte de perto. Mas a fé que eu depositei em Nossa Senhora foi maior que o meu medo”, declarou Jorge Seabra, 41. Emocionado, o promesseiro conta que passou a dar mais valor aos momentos simples da vida depois de ter escapado da morte em 16 de outubro de 2016. 

Ele e mais dois colegas de trabalho estavam a bordo de uma lancha que naufragou na Ilha do Marajó. Infelizmente, um deles veio a óbito com o acidente naval. Usando o colete que utilizou naquele dia, o paraense fez uma promessa à padroeira naquele dia. Para cumpri-la, carregou até à praça do Centro Arquitetônico de Nazaré (CAN) o tanque de combustível onde se agarrou para não afundar nas águas.

ZIKA

De joelhos no CAN desde as 6h da manhã, a professora Adriana Mileo, 27, disse que só levantaria com a entrada da Santa. O motivo é mais que especial: agradecer pela saúde, já que há 2 anos a jovem foi acometida com zika. Ela conta que a doença afetou seu cérebro e paralisou todos os membros do lado direito de seu corpo. “Entreguei minha saúde nas mãos dela. Os médicos diziam que os medicamentos não surtiam efeito. Recusei-me a ir para a UTI. A médica me examinou e 40 minutos depois consegui mexer a planta dos pés e vi que ela (a Santa) tinha me ouvido”, relata.

Jorge Seabra levou para pagar promessa o equipamento que o salvou de um naufrágio

RAPIDEZ DA PROCISSÃO SURPREENDEU DEVOTOS

Eram exatamente 11h20 quando a berlinda trazendo Nossa Senhora de Nazaré adentrou a Praça Santuário, encerrando a mais importante procissão da festa. O bispo auxiliar, Antônio de Assis Ribeiro, foi quem recebeu a imagem das mãos do diretor da festa, Roberto Souza, e a conduziu para o púlpito que a abriga pelas próximas duas semanas.

A rapidez com que a romaria seguiu fez com que a Santa chegasse ao início da Av. Nazaré logo após às 9h, para a surpresa de muitos, que tiveram de se apressar para conseguir ver a imagem pelo menos de longe. A corda mais uma fez foi cortada precocemente, à altura da Trav. Dr. Moraes. Por conta da rapidez com que a berlinda percorreu seu percurso, entre 9h30 e 10h já era impossível cruzar as transversais mais próximas da Basílica, como as travessas Quintino Bocaiuva e Generalíssimo Deodoro. 

Uma cena comum: pais levando crianças vestidas de anjoss para pagar promessa. (Foto: Irene Almeida/Diário do Pará)

RETIRADA

O posicionamento do Exército em volta do CAN também acabou servindo para tumultuar ainda mais o trecho. O cordão de isolamento se antecipou e sobrou até para os romeiros, que no auge do cansaço sentavam no asfalto, isso antes da chegada de Nossa Senhora, e eram solicitados a levantar e se retirar do local.

IRMÃES SE RECUPERARAM DE ASMA E FORAM AGRADECER

Três anjinhos caminhavam descalços sobre o asfalto da Avenida Nazaré, para agradecer a promessa. As irmãs Rafaele Silva, de 13 anos; Renata Silva, de 11 e Pamela Raquel de 6 anos passaram juntas por um período difícil no hospital, tratando uma crise asmática. Da fé da mãe e da tia das meninas, a recuperação aconteceu e todas se uniram para agradecer a Nossa Senhora de Nazaré. “Eu fiquei muito preocupada, porque elas passaram sete dias internadas e mais quinze dias de recuperação em casa. E eu pedi que Nossa Senhora intercedesse ao filho Jesus para que as curasse e hoje estamos aqui”, relembrou a tia das crianças, Iranize Silva. “Eu pedia que ela nos desse saúde e agora estamos aqui cumprindo nossa promessa”, disse Rafaele. Apesar da caminhada longa, eles encerrariam a jornada sem qualquer problema de saúde.

(Alice Martins Morais, Pryscila Soares, Carolina Menezes e Emily Beckman/Diário do Pará)

MAIS ACESSADAS