Falar em cortes de carne de gado quase sempre remete à imagem de homens de branco empunhando facas enormes. Mas um grupo de mulheres ousou desafiar o território historicamente masculino e uniu profissionais de diversas áreas do segmento da carne, gastronomia e churrasco, em todo o país, para mostrar que esse também é um assunto de mulher.  “As Braseiras” tentam mostrar como é conduzir os processos do agronegócio, a partir da perspectiva feminina. O projeto propõe diversos encontros nas principais capitais brasileiras, onde são apresentados diferentes temas tendo a carne como foco.

Entre as integrantes do grupo, está a empresária paraense Caroline Barbosa, que comanda uma butique de carnes e outros três açougues na capital. “Você sabe, o olho do dono que engorda o boi. Então, eu mesma aprendi e hoje ensino meus funcionários”, diz ela, que assimilou a experiência da família, de origem mineira, há 60 anos atuando neste ramo.

Tudo começou com seu bisavô. Após saírem do Sudeste, foram ao Tocantins e instalaram-se em Jacundá, no sul do Pará, para a criação de gado apenas. Foi nesse ambiente de fazenda que ela morou até os 13 anos.

A ideia de apresentar a carne de forma sofisticada é recente e partiu de uma iniciativa de seu pai, juntamente com uma tia. Após o falecimento desta, há onze anos, Caroline assumiu o negócio de forma mais efetiva. Ela acredita que ao dar um novo conceito ao açougue, é possível incrementar também as possibilidades gastronômicas do churrasco, área em que ela vem se especializando aos poucos. Uma das suas contribuições é no curso de gastronomia da Universidade da Amazônia (Unama).

“Trabalho do início ao fim, do parto do boi à mesa do cliente. E estamos tentando fazer esse projeto para disseminar no mercado, que é muito machista. A gente descobriu mulheres no ramo à frente de grandes representações comerciais. Fui indicada como representante do Pará. Nosso interesse é instigar outras mulheres a seguirem em frente e mostrarem para todo mundo que podem ser boas gestoras. Já me perguntaram sobre preconceito, eu nunca sofri, sempre fui muito respeitada, mas sei que não é o comum”, diz.

Caroline diz que sempre teve paixão pela terra e pelo gado e quando se mudou para Belém para estudar, acabou rumando também para os negócios de família. “A cultura da carne é de todos, agora em sala de aula percebo que as pessoas se interessam por isso de várias formas. E pensar a carne com qualidade é o nosso principal objetivo. Explicar como transformar um contrafilé em T-bone, por exemplo, num chorizo. A consequência é mostrar nossa competência e força de trabalho. Hoje faço também assessoria para churrascos e ministro cursos de técnicas de corte. Está sendo muito bom”, declara.

(Dominik Giusti)

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