Não é difícil ver que pessoas, principalmente as mulheres, que estão sempre em busca de melhorias de "beleza", procedimentos estéticos e "corpo perfeito" terminam adotando métodos de emagrecimento. Alguns deles são extremamente perigosos, outras tem as funcionalidades confundidas, com é o caso do Jejum Intermitente.

Em entrevista exclusiva ao DOL, a Nutricionista e Doutoranda em Ciências Nutricionais Ligiane Loureiro explicou que o jejum intermitente não é uma prática exclusivamente de emagrecimento, é na verdade uma prática milenar com inúmeros benefícios comprovados cientificamente. 

"O objetivo do JI é melhorar perfil metabólico principalmente. A melhora do perfil corporal a partir da redução de gordura abdominal principalmente, pode ser uma das consequências do JI, mas não acontece igual para todos. Na verdade, pensando em jejum fisiológico todos fazemos diariamente, quando dormimos ou quando estamos em intervalos grandes entre as refeições. Porém jejum intermitente como estratégia nutricional a ser usada em algum momento, seguindo um protocolo de restrição por horas determinadas ao longo do dia, esse sim, pode ser recomendado as indivíduos com sobrepeso, obesidade (alguns casos, em geral em obesidade grau I e II), síndrome metabólica, diabetes tipo 2, esteatose hepática, em geral todos que apresentem inflamação subclínica. Não é indicado para todas as faixas etárias (especialmente crianças, adolescentes e idosos) e muito menos em algumas condições especiais do ciclo da vida como gestação e lactação, por exemplo, nesses casos há risco ao desenvolvimento e a saúde geral respectivamente", explicou ela.

Sobre o método funcionar ou não, ela também contou que depende de cada caso: "A depender de cada caso funcionará para reduzir inflamação, melhorar capacidade destoxificante, pode ajudar na perda de gordura abdominal, perfil metabólico e melhorar a compulsão alimentar, contudo antes de qualquer coisa o jejum não pode ser feito por qualquer um, o profissional capacitado saberá indicar para quem o JI irá realmente trazer benefícios", esclarece.

No entanto deve-se ter cuidado ao fazer o jejum intermitente, já que passar muitas horas em jejum não é recomendado. "De um modo geral os protocolos de jejum que existem variam em 8h, 12h, 16h e 24h, os estudos mostram que para se ter a maior parte dos benefícios metabólicos o ideal, seria o JI de no mínimo 12h. O JI deve ser feito em dias alternados, podendo variar de 1 a 3 vezes por semana, depende de cada caso. Com duração mínima (preferencialmente) de 12 a 24h, máximo. Porém, excedeu 18 horas, na minha opinião como profissional, não acho mais viável, por facilitar a depleção de massa muscular, o que não é interessante", frisou a nutricionista.

BENEFÍCIOS E ALERTAS

Em relação aos benefícios que o JI pode trazer, Ligiane Loureiro explica: "emagrecer é um processo complexo, que vai além de reduzir peso na balança, podemos dizer que o jejum como uma das estratégias nutricionais individualizadas, pode sim auxiliar em alguns casos, que pessoas tenham maior facilidade na redução de gordura corporal por estimular fatores transcricionais (SIRT1, PGC1-Alfa, CPT) que estão envolvidos no processo chamado biogênese mitocondrial que favorece entre outras situações a a oxidação de ácidos graxos = “queima” de gordura (principalmente abdominal e visceral), como substrato energético, melhorando a capacidade de destoxificação e resposta anti-inflamatória, podendo ter como resultado final para algumas pessoas o menor peso na balança, mas esse não é o foco de fazer jejum, pode ser só um dos vários benefícios alcançados a partir dele".

Questionada sobre o café da manhã ser a refeição mais importante do dia e se a falta de alimentação provoca a perda de alguns nutrientes, ela afirma: "esse conceito antigo já não é mais consenso para todas as pessoas. Os estudos mais recentes trouxeram evidências suficientes para que hoje ao orientarmos nossos pacientes que seja respeitado a individualidade bioquímica de cada um. Se tiver fome, respeite sua fome e coma. Se não tiver mesmo sendo pela manhã, procure comer no melhor horário para seu organismo, desde que isso não prejudique sua saúde, não sendo um intervalo muito grande até se alimentar".

Em relação se a prática de exercícios físicos combinados ao jejum intermitente funciona Ligiane responde: "a maioria dos estudos não mostra que essa combinação tenha de fato como efeito final o emagrecimento. Porém, para alguns perfis de indivíduos a depender no nível de treinamento, adaptação a restrição calórica e objetivo, alguns períodos de jejum pode melhorar a capacidade oxidativa e o processo de biogênese mitocondrial (produção de energia), que pode após o jejum, já em rotina alimentar normal, melhorar a performance em atividades de endurance.Contudo, é importante ressaltar que isso não é algo que pode ser indicado para todos e nem há consenso que treino em JI seja o indicado, na verdade, a maioria das pessoas não tem benefícios a treinar em jejum, além de ter perda performance, há grandes riscos à saúde: alguns desmaiam, vomitam, tem taquicardia entre outros sintomas".

Ela alerta também que o JI dever ser feito com indicação de um profissional capacitado, pois caso contrário "pode favorecer a mais inflamação, perda de massa magra (músculo), distúrbios hormonais, transtornos gastrointestinais e alterações comportamentais, especialmente de humor. Os sintomas podem ser: cefaleia, náuseas, vômitos, diarreia, cansaço, confusão mental, desidratação, hipoglicemia, mal humor entre outros".

Para fazer o JI de forma correta, é importante sempre procurar um profissional capacitado (nutricionista ou médico nutrólogo) que dará o suporte necessário de macronutrientes durante a janela alimentar (quando se volta a comer). "Assim, um profissional especializado saberá as melhores estratégias para fornecer nutrientes e compostos bioativos durante o período não-alimentado, para que os resultados sejam potencializados e favoreça o pH intestinal".

FIQUE ATENTO!

Por fim, Ligiane Loureiro dá dicas também sobre o que é permitido durante o jejum. "Água, chás e cafés puros (não adoçados com açúcar ou adoçantes), canela, cúrcuma, curry, páprica, pimenta e demais especiarias; Durante o JI nenhum alimento sólido que fornece densidade calórica pode ser consumido. O que quebra JI são: sucos, glutamina, whey, bcaa, chicletes, pastilhas, óleos. Tudo que tiver quantidades significativas de carboidratos, proteínas e gorduras". 

Sobre a quebra a forma como se quebra jejum ela revela que faz toda diferença, principalmente no controle de atitudes compulsivas. É importante traçar junto com o nutricionista uma maneira mais viável para você. Porém, sem sair da zona de obtenção de resultados otimizados. Por último, mas não menos importante, ela aponta algumas considerações: 

  • Para quebrar o jejum, logo de início, sempre devemos quebrá-lo com fonte, prioritariamente, de gorduras. Isso, lipídio é o único macronutriente que não estimula insulina para sua metabolização. Assim, não gerando atitudes compulsivas ao longo do dia. A quantidade destes alimentos nesse momento é de extrema importância também, na qual é individualizada.
  • É válido ressaltar sempre, como já disse anteriormente que nem todas as pessoas obterão o mesmo resultado com jejum. Uma das causas pode ser por não ter genes responsivos, questão relacionada a epigenética nutricional. Assim, mais uma vez, reforço a importância da necessidade de um tratamento individualizado e feito sob orientação de um profissional capacitado (nutricionista ou médico).

Reportagem: Sávia Moura/DOL

Coordenação: Enderson Oliveira/ DOL

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