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Projeto ajuda a reestabelecer a riqueza da terra; saiba mais

O chamado tecnossolo vem sendo usado em projetos do Estado para recuperação de áreas degradadas, a partir de misturas de resíduos orgânicos. Saiba como funciona o processo e como já vem sendo implantado

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Imagem ilustrativa da notícia Projeto ajuda a reestabelecer a riqueza da terra; saiba mais camera Tecnossolo usado na mineração Paragominas, tem gerado resultados positivos para a empresa Hydro. | Divulgação / Hydro

Por vezes, as atividades desenvolvidas pelo homem podem resultar no desenvolvimento de um tipo de solo que, quando bem aplicado, contribui com a recuperação de cobertura vegetal em determinadas áreas, por exemplo. Chamado de tecnossolo, esse tipo de solo pode ser uma fonte de matéria orgânica capaz de revitalizar locais estéreis e já vem sendo aplicado em iniciativa pioneira no Estado do Pará.

O engenheiro agrônomo e professor na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Norberto Cornejo Noronha, explica que os tecnossolos podem ser entendidos como solos que apresentam características e propriedades fortemente influenciadas pela sua origem técnica. Em outras palavras, a formação desse tipo de solo está fortemente ligada a fatores técnicos que estão condicionados à expressiva ação do homem. “Devido a isso, estes solos são caracterizados por apresentarem uma grande quantidade de artefatos que são materiais criados, muito modificados, ou trazidos à superfície por ação humana”.

Mas, para entender realmente o que são os chamados tecnossolos, o professor destaca que primeiro é preciso compreender que eles não são um insumo agrícola – como fertilizantes ou bioinsumos – que se produz e se aplica diretamente. Segundo o pesquisador, trata-se, na verdade, de um solo formado a partir da intensa influência humana, cuja origem está associada à presença de artefatos não naturais, ou seja, materiais criados ou modificados pelo homem.

“Esses solos são moldados por fatores técnicos e ocupam uma posição na paisagem, desempenhando funções ecológicas e sistêmicas, assim como qualquer outro tipo de solo. Portanto, o tecnossolo não é ‘produzido’ como um produto, mas sim formado ou construído por meio de intervenções antrópicas intensas”, esclarece. “A maneira como esse solo se forma pode variar conforme o contexto. Sua gênese pode ser intencional, quando há um objetivo definido, como recuperação de áreas degradadas ou uso urbano; ou não intencional, como em áreas afetadas por deposição acidental de resíduos industriais ou rejeito de mineração”.

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Neste contexto, Norberto Cornejo Noronha explica que os materiais utilizados na formação de tecnossolos são diversos e geralmente dependem da disponibilidade local. “Em áreas urbanas, por exemplo, há tecnossolos construídos intencionalmente, a partir de aterros e resíduos sólidos urbanos. Nesses solos, é comum encontrar fragmentos de tijolos, telhas, concreto, garrafas, escombros de demolição, lixo doméstico, entre outros artefatos antrópicos”, aponta. “Em contrapartida, existem tecnossolos formados com o objetivo de recompor a paisagem e dar suporte à restauração florestal em áreas degradadas pela mineração. Os materiais utilizados nesses casos variam conforme as características da mina, podendo ser argilosos, arenosos, cascalhentos ou pedregosos. Esses materiais geralmente compõem o chamado estéril, que é a porção do regolito que recobre o minério e não possui valor econômico direto”.

Na prática, o professor reforça que resíduos provenientes de zonas urbanas, da mineração ou de atividades agrícolas e industriais podem ser utilizados com a finalidade de melhorar as condições físicas e químicas do substrato destinado à construção de um tecnossolo. Mas lembra que o seu uso deve ser feito de forma responsável, em conformidade com a legislação ambiental vigente, e com o cuidado de evitar a contaminação do meio ambiente.

Projeto ajuda a reestabelecer a riqueza da terra; saiba mais
📷 |Divulgação

“Embora existam rejeitos de mineração com boa qualidade química, capazes de proporcionar condições favoráveis de fertilidade, a maioria dos materiais utilizados em aterros e dos rejeitos minerais apresenta baixa fertilidade natural. Essa limitação torna necessário o uso de resíduos orgânicos, compostos orgânicos e outros insumos minerais e biológicos, com o objetivo de aumentar a fertilidade do tecnossolo e viabilizar o desenvolvimento da cobertura vegetal sobre esses substratos”, esclarece.

“A matéria orgânica, quando incorporada ao estéril, atua como um importante agente condicionador do solo, melhorando suas propriedades físicas, químicas e biológicas. Ela aumenta a capacidade de retenção de água, serve como substrato para o desenvolvimento de organismos, melhora a agregação das partículas e contribui para a estabilidade dos agregados do solo, além de aprimorar a porosidade. Um solo bem estruturado e poroso torna-se mais resistente à erosão, favorecendo sua conservação e produtividade”.

Tecnossolo já é utilizado em reflorestamento em Paragominas

Importante para o processo de reflorestamento de áreas, o tecnossolo já vem sendo utilizado, de maneira inovadora, na Mineração Paragominas S.A (MPSA), da Hydro. O projeto teve início em 2020 e tem gerado resultados positivos na mineração de bauxita, com potencial de aplicação ainda em outros setores.

Engenheiro de Meio Ambiente da MPSA, Vicente Sousa explica que, no caso da Mineração Paragominas, o tecnossolo é produzido a partir da mescla entre uma torta orgânica — material rico em matéria orgânica, resultante do processamento de desidratação de resíduos — e um solo estéril, sem capacidade de sustentar o desenvolvimento vegetal.

Essa torta orgânica é feita a partir de resíduos orgânicos que, se não aproveitados, seriam incinerados, o que aumentaria a emissão de CO₂. Porém, desde 2015 a Mineração Paragominas reduziu a incineração de resíduos de refeitório ao adotar o uso de uma máquina que desidrata o resíduo e gera a torta orgânica em 48h. “Esse processamento é realizado de maneira inovadora, em apenas 48 horas, com o uso de um equipamento semelhante a uma panela de pressão. Esse equipamento pré-composta e desidrata os resíduos até que se transformem em pó, sem adição de produtos químicos. Em seguida, esse material é misturado ao solo estéril para formar o tecnossolo, que viabiliza o reflorestamento de áreas anteriormente improdutivas”.

Neste sentido, a iniciativa buscou transformar resíduos orgânicos, como é o caso de sobras de alimentos, em uma fonte de matéria orgânica capaz de revitalizar solos estéreis, promovendo o restabelecimento da vegetação e ainda evitando a incineração de milhões de toneladas de resíduos. “O tecnossolo passou por um extenso processo de estudos. Em 2021, uma parceria com a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) foi estabelecida para definir a melhor formulação, a partir da torta orgânica. Como resultado, uma dissertação de mestrado foi desenvolvida por um empregado da mina, e o trabalho hoje serve como referência para novos estudos”, aponta Vicente Sousa. “Em 2024, a EMBRAPA se juntou ao projeto, realizando análises técnicas do material e emitindo pareceres sobre sua viabilidade de aplicação. Em 2025, a Mineração Paragominas firmou um contrato com o SENAI para conduzir análises físicas, químicas e biológicas/enzimáticas do tecnossolo”.

Uma vez desenvolvido, a aplicação do tecnossolo no campo é feita a partir de dosagens específicas por hectare, definidas a partir de análises agronômicas. “Os tecnossolos podem ser aplicados no tratamento de diversos tipos de solo, incluindo tanto áreas degradadas quanto solos com baixa fertilidade natural. No entanto, seu uso é especialmente eficaz em ambientes, com baixa disponibilidade de nutrientes — principalmente onde não há mais a presença de topsoil, que é a camada superficial do solo, rica em matéria orgânica e essencial para o desenvolvimento da vegetação”, esclarece o engenheiro de Meio Ambiente da MPSA. “Por isso, os tecnossolos são amplamente utilizados na recuperação de áreas degradadas, sobretudo aquelas impactadas por atividades de mineração, industriais ou do agronegócio. Nessas situações, o objetivo principal costuma ser o reflorestamento e a recomposição da vegetação nativa, favorecendo a restauração ecológica e a estabilidade do ecossistema”.

Embora a utilização para a restauração de áreas degradadas seja a sua principal aplicação, o tecnossolo também apresenta potencial para uso em outras práticas, como em projetos de agricultura regenerativa, hortas urbanas ou paisagismo, desde que as formulações sejam adaptadas às necessidades específicas das culturas ou ambientes.

ENTENDA

Como é o tecnossolo desenvolvido na Mineração Paragominas?

  • O tecnossolo é feito a partir de uma mistura de resíduos orgânicos diversos, como restos de alimentos e resíduos vegetais, que seriam incinerados.
  • Esses resíduos dão origem à torta orgânica, que atua como condicionador do solo.
  • Quando mesclada ao solo estéril, a torta orgânica oriunda, também, das operações da Hydro no Pará (incluindo Alunorte e Albras), forma o tecnossolo, possibilitando o restabelecimento da cobertura vegetal em áreas antes improdutivas.
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📷 |Rodapé
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