
Uma pesquisa publicada na revista The Lancet Planetary Health revelou que 39% dos jovens brasileiros têm receio de ter filhos por causa das mudanças climáticas. O dado escancara o impacto emocional da crise ambiental sobre a saúde mental, especialmente em regiões como o Pará e Rondônia, onde eventos extremos — como queimadas, secas e enchentes — já fazem parte da realidade cotidiana.
Em Belém, no Pará, os efeitos da chamada ecoansiedade se refletem em períodos de estiagem prolongada, calor extremo e inundações repentinas. “Quando o planeta adoece, as pessoas adoecem juntas”, explica o psicólogo Robert Rodrigues. Ele aponta que os eventos climáticos extremos têm gerado medo, frustração e sensação de impotência, especialmente entre moradores das periferias, mais expostos aos impactos devido à falta de infraestrutura urbana e arborização.
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Na Ilha do Combu, zona ribeirinha de Belém, comunidades enfrentam o agravamento da erosão provocado pela elevação do nível do rio. O problema levou à implantação de monitoramento contínuo pela Defesa Civil.
Rodrigues destaca que ações como hortas comunitárias, jardins suspensos e programas de educação ambiental popular podem fortalecer o vínculo das pessoas com a natureza e ajudar a reduzir os efeitos da ansiedade ambiental.
A preocupação com o futuro também é alimentada por contrastes climáticos no país. Enquanto o Sul enfrentava inundações históricas em 2024, a Amazônia vivia uma das maiores secas já registradas. Em Rondônia, o Rio Madeira secou completamente, e no Pará, a seca prejudicou comunidades ribeirinhas e pescadores. Em Santarém, a fumaça das queimadas cobriu a cidade por semanas, afetando a saúde da população e aumentando a sensação de insegurança.
Com a chegada do “verão amazônico”, que vai de junho a novembro, os riscos de propagação do fogo aumentam com a combinação de estiagem e altas temperaturas. O biólogo e professor Bruno Esteves Conde destaca que povos indígenas, ribeirinhos e agricultores familiares enfrentam perdas materiais e culturais com a degradação ambiental. Ele aponta sentimentos de “luto ecológico” e “solastalgia”, a dor de ver o próprio território ser destruído, como comuns entre as populações tradicionais.
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Outros estudos reforçam o cenário. Uma pesquisa da consultoria Nexus, encomendada pelo Movimento União Brasil, mostrou que 82% dos brasileiros já ajudaram vítimas de desastres naturais, mas 77% nunca tomaram medidas de prevenção. Além disso, metade da população não sabe onde buscar informações em caso de emergência.
Bruno Esteves defende o fortalecimento da ciência cidadã e dos saberes tradicionais como formas de resistir à destruição ambiental. Projetos de agroflorestas, brigadas comunitárias contra incêndios e o uso de tecnologias indígenas para monitorar territórios são caminhos para um desenvolvimento sustentável e inclusivo. “É possível viver da floresta, cuidando dela”, pontua ele.

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