A eleição dos Estados Unidos é uma das disputas presidenciais mais importantes do mundo e seguramente uma das mais complexas. A forma de escolha de um presidente nos EUA deve ser compreendida como uma eleição indireta. Muitas pessoas não entendem como o sistema eleitoral daquele país funciona. Difícil saber, por exemplo, por que os dois candidatos - o democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump, que busca a reeleição – correm atrás dos votos do cidadão, já que o voto não é obrigatório e o resultado das urnas não significa a eleição do comandante de uma das economias mais poderosas do mundo.
Faltando pouco mais de uma semana para o pleito, a Embaixada e os Consulados dos Estados Unidos no Brasil organizaram, na semana passada, uma conferência para a imprensa para esclarecer detalhes sobre as eleições americanas com o objetivo de contribuir com uma melhor cobertura jornalística sobre o pleito.
O convidado para ministrar a palestra foi o americano Akram Elias, fundador e presidente do Capital Communications Group, Inc. – uma empresa focada em diplomacia pública, federalismo, relações políticas, comunicação intercultural e redes de negócios internacionais. Akram detalhou o sistema de governo dos Estados Unidos e respondeu a perguntas elaboradas por jornalistas de todo o país. Assim como no Brasil, os eleitores americanos escolhem seu presidente a cada quatro anos. Eles vão às urnas e registram seu voto, que não é obrigatório. Mas as semelhanças param por aí.
O fato de ser uma eleição indireta é o que mais confunde quem não está acostumado com o processo. Ao contrário do Brasil, onde a totalidade dos votos é computada e o mais votado é proclamado eleito, nos Estados Unidos o voto do eleitor não é creditado diretamente ao seu candidato. Os votos dos eleitores de cada Estado (ainda que dados para candidatos específicos) servem para eleger delegados no Colégio Eleitoral (Electoral College).
São esses delegados que representarão os eleitores de sua unidade federativa na escolha final do futuro presidente. Na prática, cada estado americano funciona como um colégio eleitoral. Na maioria deles, o número de delegados não é proporcional ao número de votos. Com exceção do Nebraska e do Maine, onde os votos podem ser divididos, o candidato que vencer em um estado fica com todos os seus delegados, independente de ele ter conquistado 52% ou 90% dos votos. É o chamado “The winner takes all” (“O vencedor leva tudo”). Isso faz com que um candidato seja eleito mesmo sem ter a maioria absoluta dos votos, basta vencer no número de delegados em cada colégio eleitoral.
COLÉGIO
Desde 1954, o colégio eleitoral é composto de 538 delegados, distribuídos pelos estados de acordo com a quantidade de representantes no Congresso. São necessários pelo menos 270 votos para se decretar um vencedor, mas a vitória nos estados com maior número de habitantes pode ser decisiva. Por exemplo, se o candidato ganha nos onze estados mais populosos, mesmo que ele perca nos outros 39, já alcança a quantidade mínima de delegados para ser eleito.
É essa a parte mais difícil para os brasileiros entenderem já que, em 2016, Donald Trump saiu-se vencedor após disputa com a democrata Hillary Clinton, mesmo tendo ela recebido a maioria dos votos dos cidadãos americanos, ou seja, se fosse no Brasil, teria ela sido eleita. Embora a votação nas urnas tenha sido em favor de Hillary, Trump venceu em estados decisivos, com mais assentos, e conquistou a maioria do colégio eleitoral.
Para melhor entender as eleições americanas, é bom também ter em mente que, além de tamanhos e pesos eleitorais distintos, os Estados americanos possuem perfis políticos diferentes, o que por vezes acaba por lhes conferir funções específicas nas eleições.
Os Estados americanos tendem a ter uma identidade política bem definida com um dos dois grandes partidos; isso ocorre, por exemplo, no Texas, que historicamente tem um voto republicano, independentemente dos candidatos em disputa, e na Califórnia que tende mais pelos democratas. Contudo, há alguns Estados que podem tanto pender para um lado como para outro, como a Flórida. Apesar de haver centenas de partidos nos Estados Unidos (grande maioria locais e regionais), só dois têm chances reais de serem eleitos: os republicanos e os democratas.
DEMOCRATA X REPUBLICANO
- Fundado em 1828, o Partido Democrata é um dos dois maiores dos EUA. Hoje, está na oposição e tem maioria na Câmara dos Representantes, minoria no Senado e 23 governadores eleitos. Quinze democratas já ocuparam a presidência. Os últimos foram Bill Clinton (1993-2001) e Barack Obama (2009-2017).
- O Partido Republicano é um dos dois grandes grupos norte-americanos, fundado em 1854. É a sigla do presidente Donald Trump, com maioria no Senado, minoria na Câmara dos Representantes e 27 governos estaduais. Até então, 19 republicanos já ocuparam a presidência.
- A principal diferença entre os dois partidos é que, atualmente, os republicanos estão mais ligados ao eleitorado conservador enquanto os democratas representam os grupos mais progressistas.
Enquanto estão na disputa voto a voto, Donald Trump e Joe Biden têm protagonizado embates caóticos com troca de acusações e muita divergência de opiniões e de programa de governo.
- É difícil prever como o mundo vai receber a notícia de uma reeleição ou de um novo governo, segundo analisou Akram Elias. Mas, alguns sinais ajudam a entender como o resultado pode impactar as relações globais. O ponto de maior atenção é a questão com a China. Os últimos meses foram marcados por troca de farpas e uma verdadeira guerra comercial entre os dois maiores países, em termos financeiros, do mundo.
- Joe Biden diz ter garantidos com segurança 212 delegados, enquanto Trump tem apenas 125, segundo estimativa do New York Times. Cerca de 200 delegados restantes ainda estão sob disputa acirrada. Enquanto isso o mundo aguarda o resultado da corrida pela cadeira, que é capaz de interferir fortemente na economia e na política globais pelos próximos quatro anos.
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