Na última terça-feira, 28, a bióloga Alejandra Perotti e sua equipe publicaram um inusitado estudo na revista Molecular Biology and Evolution. O estudo trata de uma analise feitas em amostras de cabelos de múmias de 2 mil anos. A especialista descobriu que uma substância produzida por piolhos é capaz de preservar o DNA humano por séculos.
Tudo começou com duas múmias encontradas nas Cavernas Calingasta e na alta Cordilheira dos Andes, na atual província de San Juan, Argentina. Nelas, foram encontrados vestígios de piolhos e de uma espécie de ‘cola’ criada pela praga para grudar seus ovos no couro cabeludo dos indivíduos.
Bastante resistente, a substância é capaz de preservar tudo que ela envolve. Dessa forma, ao deixarem seus ovos nas cabeças das múmias, os piolhos ainda capturaram células das peles dos humanos, mantendo seus materiais genéticos protegidos.
Os cientistas, então, sequenciaram os genomas das células encontradas e descobriram que, ao contrário do esperado, as duas múmias vieram de florestas tropicais no sul da Venezuela e da Colômbia. Os pesquisadores ficaram animados com a descoberta porque representa uma técnica muito menos invasiva do que outros métodos de captação de DNA — como a quebra de ossos.
"Podemos estudar milhares de anos da história natural e evolutiva dos hospedeiros e dos piolhos apenas examinando o DNA preso no cimento”, explicou Alejandra Perotti, da University of Reading.
A análise de seu DNA ainda revelou ligações genéticas entre tais indivíduos e os habitantes da Amazônia há 2 mil anos. Com isso, os pesquisadores puderam recriar mais alguns fragmentos da pré-história sul-americana — que é bastante complicada na Argentina, já que muitos grupos indígenas passaram por lá.
Ainda mais, a própria disposição dos ovos dos piolhos nos fios de cabelo revelou que, na região onde as múmias foram encontradas, os humanos provavelmente eram expostos a muito frio. Tais condições podem ter cooperado para seu ótimo grau de preservação e possivelmente para as próprias mortes dos indivíduos.
Veja também:
- Conheça a múmia que continua bela após 3800 anos
- Arqueólogos encontram múmia com língua de ouro no Egito
Por fim, além do DNA humano, a ‘cola’ dos piolhos ainda preservou amostras de várias cepas de bactérias e as primeiras evidências do poliomavírus da célula de Merkel. Encontrado inicialmente em 2008, esse vírus pode causar câncer de pele e, agora, os pesquisadores acreditam que tenha sido disseminado pelos piolhos.
“Os piolhos humanos nos ensinaram muito sobre nossa história, desde o contato com hominídeos arcaicos até quando os humanos começaram a usar roupas”, explicou Reed. “Parece que os piolhos ainda têm mais a dizer sobre a nossa história.”
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar