A Câmara Municipal de Mariupol anunciou que uma nova tentativa de evacuação será feita ao meio-dia deste domingo (6), no horário local (7h em Brasília), após um desrespeito ao cessar-fogo impedir a continuidade da operação no dia anterior.
O plano era que a retirada de parte dos 400 mil moradores cercados por forças russas na cidade portuária acontecesse neste sábado (5). Ataques ao longo da rota do corredor humanitário, porém, impediram a operação de continuar. A previsão é que o cessar-fogo temporário dure até às 21h, na Ucrânia (16h em Brasília).
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Além de Mariupol, a evacuação também foi interrompida em Volnovakha, segunda cidade ucraniana onde estava prevista ação similar e que também está cercada pelas tropas de Vladimir Putin. Ainda não foram anunciados, no entanto, planos para uma nova retirada, apesar da promessa do líder separatista, Eduard Basurin, de que a operação seria retomada nas duas cidades, segundo a agência Tass.
Rússia e Ucrânia trocaram acusações sobre os ataques realizados neste sábado. Ainda pela manhã, o Legislativo de Mariupol acusou as tropas russas de não respeitarem o prometido e, depois, a prefeitura da cidade pediu aos moradores que retornassem aos abrigos "por razões de segurança".
"Apelamos à Rússia que acabe com o bombardeio e devolva o cessar-fogo para que crianças, mulheres e idosos possam deixar os assentamentos", disse Irina Vereshchuk, ministra para Territórios Ocupados, sobre a situação em Volnovakha, segundo o jornal Pravda da Ucrânia.
Moscou, por sua vez, disse que o acordo não foi cumprido pelos ucranianos. Em uma conversa com as funcionárias da Aeroflot neste sábado, Putin negou que forças do país tenham interrompido o cessar-fogo. O presidente russo acusou "bandidos e neonazistas ucranianos" de impedirem as pessoas de sair das cidades. "Estamos em negociação", disse, sobre as conversas das delegações russa e ucraniana que ocorreram na Belarus.
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Mikhail Mizintsev, chefe do Centro de Comando de Defesa Nacional da Rússia, reiterou a posição de Putin e disse que a trégua foi interrompida por "nacionalistas ucranianos".
O governo ucraniano pretendia, neste sábado, auxiliar a retirada de cerca de 200 mil pessoas em Mariupol e de outras 15 mil em Volnovakha. Cerca de 300 pessoas conseguiram deixar a primeira, segundo o governo separatista, e 400 a segunda.
Considerada estratégica por Moscou, Mariupol é uma cidade portuária no sudeste da Ucrânia localizada a 150 km de Rostov-do-Don, a principal cidade do sul da Rússia. Ela foi atacada desde o primeiro dia da guerra e é um porto importante no mar de Azov, uma divisão secundária do mar Negro. A cidade também é considerada o último ponto de resistência a evitar o estabelecimento de uma ponte terrestre unindo Rostov à Crimeia, anexada em 2014 por Putin.
Rússia e Ucrânia haviam concordado em estabelecer os corredores humanitários na quinta (3), durante encontro de delegações dos dois países para negociações na Belarus. Neste sábado, apesar das trocas de acusações, o conselheiro do Ministério do Interior ucraniano, Anton Heraschenko, disse que mais acordos devem ser estabelecidos para a implementação de novas rotas de saída em outros territórios do país.
Nesse sentido, o conselheiro do presidente Volodimir Zelenski, Alexei Arestovich, disse na TV neste domingo, segundo a mídia local, que estão sendo discutidos novos corredores para Bucha e Hostomel, acrescentando que as duas cidades estão praticamente capturadas.
O Legislativo de Bucha divulgou que a cidade precisa de um corredor humanitário, após ser alvo de intensos ataques, e que está sem acesso a água, aquecimento, eletricidade e comida.
O chanceler russo, Serguei Lavrov, também disse ter discutido com seu contraparte belarusso, Vladimir Makei, o estabelecimento de outras rotas, segundo a agência RIA.
Corredores humanitários ou zonas de segurança implicam cessar-fogo, algo que, como visto na guerra da Bósnia nos anos 1990, é um instrumento muito precário. Além disso, podem ser utilizados para desocupar áreas de civis potencialmente hostis a invasores, sem garantias de que um dia voltarão para suas casas.
O movimento pode facilitar a eventual ocupação militar de territórios e favorecer o plano presumido de Putin de remover a área da soberania ucraniana. O Ministério da Defesa britânico inclusive divulgou neste sábado que o cessar-fogo proposto pelos russos é provavelmente uma tentativa de evitar críticas internacionais enquanto abre uma oportunidade para renovar suas forças.
Se em Mariupol há a promessa de suspensão dos ataques, no resto do país a Rússia continua com sua ofensiva. A OMS (Organização Mundial da Saúde) relatou que centros médicos foram atingidos, com muitas mortes e pessoas feridas -a Rússia nega agir contra infraestruturas civis.
"Ataques contra estabelecimentos de saúde ou trabalhadores ferem a neutralidade médica e são violações da lei humanitária internacional", escreveu no Twitter o diretor da organização, Tedros Ghebreyesus.
A mídia local reporta que neste domingo as tropas de Moscou atiraram em civis que estavam numa ponte usada para sair de Irpin, nas proximidades de Kiev. Ao menos três pessoas morreram, incluindo duas crianças. Também houve ataques no centro de Kharkiv.
Na TV ucraniana, Arestovich também relatou que os russos tentam avançar para o norte de Nikolaev, para tomar mais uma usina nuclear. Zelenski, por sua vez, denunciou que Moscou pretende bombardear Odessa, na costa do Mar Negro, o que, segundo o presidente, seria um crime de guerra.
Em seu mais recente relatório, o Ministério da Defesa britânico comparou a tática russa com a mesma usada na Tchetchênia em 1999 e na Síria em 2016, empregando munições aéreas e terrestres. "A escala e a força da resistência ucraniana continuam a surpreender a Rússia. [Moscou] Respondeu visando áreas populosas em diferentes locais, incluindo Kharkiv, Chernihiv e Mariupol", escreveu a pasta. "Isso provavelmente representa um esforço para quebrar a moral ucraniana", acrescentou, ao relacionar o conflito atual com os anteriores.
Para os britânicos, a guerra na Ucrânia deve durar meses, se não anos, afirmou neste sábado o vice-premiê Dominic Raab. Para isso, é preciso que o país, com seus aliados, mostrem "resistência estratégica" para "garantir que Putin falhe".
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