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Macron barra ultradireita em  mandato que terá mais desafios

Macron superou desgaste e venceu na França, mas 2º mandato guarda ainda mais desafios

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Imagem ilustrativa da notícia Macron
barra ultradireita em  mandato que terá mais
desafios camera Macron conseguiu se reeleger na França | Divulgação

Cinco anos após chegar ao poder como um novato, Emmanuel Macron, 44, resgatou, neste domingo (24), uma tendência que andava fora de moda na França havia 20 anos -a reeleição. Antes dele, só Jacques Chirac (1995-2007), François Mitterrand (1981-1995) e Charles de Gaulle (1959-1969) haviam sido eleitos para um segundo mandato na Quinta República francesa, como é chamado o período após 1958.

A vitória de agora foi mais apertada do que aquela que o levou ao poder em 2017 e veio marcada, no discurso da vitória, pela promessa de mudanças e por acenos a outros campos, vindos de um sujeito que assumiu se dizendo "nem de esquerda nem de direita". O peso de ter novamente barrado a ultradireita, porém, tem simbolismos importantes.

"É um sinal de refortalecimento para ele, porque a chance de vitória de Marine Le Pen pareceu muito real no primeiro turno. E ele alcança algo que os dois presidentes que o antecederam não conseguiram", avalia Sylvain Kahn, geógrafo e professor de assuntos europeus do departamento de história da Sciences Po, em Paris -a referência é a Nicolas Sarkozy e François Hollande, que se limitaram a um único mandato.

Poucos poderiam imaginar que aquele candidato de 2017 chegaria tão longe. Novato, tanto pela idade como pela trajetória político-partidária. Macron se tornou presidente aos 39 anos, o mais jovem da história do país -antes dele, só Luís Napoleão Bonaparte, em 1848, aos 40. E chegou ao poder sem nunca antes ter sido eleito para um cargo.

Depois de trabalhar para o banco Rothschild (o que contribui ainda hoje para a pecha de "presidente dos ricos"), tornou-se secretário-geral-adjunto da Presidência sob o socialista Hollande, de quem também foi ministro da Economia entre 2014 e 2016. Deixou o governo para lançar o próprio partido, A República em Marcha, que, nas eleições legislativas de 2017, conseguiu 308 cadeiras e lhe garantiu a maioria na Assembleia Nacional.

Ascendeu como um político independente, prometendo romper com a política tradicional e se posicionando como um centrista radical. Hoje considerado de centro-direita por sua política reformista liberal, é apontado como um dos responsáveis pelo colapso dos dois partidos históricos, socialistas e republicanos –que, no primeiro turno, receberam ínfimos 6,5% dos votos, na somatória de Anne Hidalgo e Valérie Pécresse.

Ao mesmo tempo, viu uma maior mobilização entre os eleitores de candidatos com discurso radical antissistema. Na primeira etapa do pleito, somaram 52% os votos concedidos a Le Pen, ao ultraesquerdista Jean-Luc Mélenchon e ao ultradireitista Éric Zemmour.

"Ainda hoje Macron permanece um mistério: um líder que veio do nada, não pertence a nenhum sistema partidário, desafia rótulos ideológicos e é estranhamente sem raízes", escreveu a jornalista e sua biógrafa Sophie Pedder na revista The Economist.

Casado desde 2007 com Brigitte Trogneux, 24 anos mais velha e que foi sua professora na escola, Macron não tem filhos.

Conturbado tanto no âmbito doméstico quanto no externo, seu primeiro mandato foi marcado, na primeira metade, pelo movimento dos Coletes Amarelos, uma série de manifestações de rua que o forçou a recuar de uma taxa que aumentaria o preço dos combustíveis. E, na reta final, pelos dois anos da pandemia de Covid-19 e pela Guerra da Ucrânia.

Foi na crise sanitária que Macron fortaleceu seu protagonismo como líder na União Europeia, uma bandeira desde sempre na origem de seu posicionamento. Desde que chegou ao Palácio do Eliseu, proclamava a necessidade de uma "Europa soberana", autônoma tanto do ponto de vista de Defesa como econômico. Ao lado da Alemanha de Angela Merkel, arquitetou o plano de recuperação da pandemia, de EUR 750 bilhões.

Enquanto é reconhecido por ter tornado a França mais atrativa para os novos negócios e pela recuperação interna da crise econômica causada pela pandemia -o desemprego é o menor em quase 14 anos-, ao mesmo tempo encontra um país dividido e abalado pelo custo de vida em alta nos últimos meses, um dos impactos do aumento do preço da energia.

"Foi uma Presidência muito mais forte na política externa e mais fraca internamente, o que se pode notar pelos resultados do primeiro turno e pela falta de apoio entre os jovens", avalia a analista Teresa Coratella, do Conselho Europeu de Relações Exteriores. Na faixa entre 18 e 34 anos, Macron teve menos votos do que seus adversários principais, Le Pen e Mélenchon.

Segundo Coratella, para o recém-reeleito começa agora o período mais difícil de sua Presidência. No plano doméstico, a missão de melhorar seu relacionamento com os franceses e de convencê-los de que seu projeto europeu não ameaça os interesses nacionais. Internacionalmente, uma guerra dentro da Europa, da qual ainda não se vê a saída.

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