Mais de 100 mil anos atrás, neandertais (Homo neanderthalensis) que viviam na região central da Alemanha caçavam os maiores animais terrestres da Era do Gelo: os elefantes-de-presas-retas, que podiam chegar a 13 toneladas --o dobro dos elefantes-africanos de hoje.
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A conclusão vem de um novo estudo que mapeou em detalhes a operação quase industrial tocada pelos neandertais para aproveitar cada pedaço de carne dos paquidermes da maneira mais sistemática possível. Os dados indicam uma considerável capacidade de organização, planejamento e cooperação por parte dessa espécie de seres humanos arcaicos, contrariando a imagem de criaturas intelectualmente limitadas muitas vezes associada a eles.
O "açougue de elefantes" foi identificado inicialmente graças a um trabalho de salvamento arqueológico décadas atrás, já que a área de origem dos fósseis, designada como Neumark-Nord 1, acabou sendo cedida à mineração de carvão. Ossos de animais e artefatos fabricados pelos neandertais estavam presentes no local, que correspondia a um lago e às suas margens há 125 mil anos.
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Na época, o mundo vivia o que os especialistas chamam de período interglacial, uma fase do Pleistoceno --a chamada Era do Gelo-- em que as condições climáticas da Europa eram bastante amenas. A espécie de elefante Palaeoloxodon antiquus se espalhou por várias regiões do continente durante essas fases.
Além do formato das presas, diferente do visto nos elefantes modernos, os bichos se caracterizavam pelo grande dimorfismo sexual --as fêmeas pesavam mais ou menos a metade dos machos-- e também pela altura, que chegava a quatro metros no nível dos ombros.
Na nova pesquisa, publicada recentemente na revista especializada Science Advances, a equipe liderada por Sabine Gaudzinski-Windheuser, do Museu da Evolução Comportamental Humana em Neuwied, na Alemanha, analisou detalhadamente tanto as características dos elefantes-de-presas-retas achados no local quanto as marcas deixadas em seus ossos pelos instrumentos dos neandertais.
É comum que, no caso de sítios arqueológicos em que não se encontram seres humanos de anatomia moderna, os pesquisadores atribuam a presença de bichos tão grandes a atividades de "carniçaria" por parte dos humanos primitivos. Ou seja, eles teriam se aproveitado da morte natural dos animais ou roubado a carcaça de predadores como leões, ursos etc.
O trabalho da equipe alemã, no entanto, mostrou que isso é improvável. Dos 57 elefantes encontrados ao redor do antigo lago, quase todos parecem ter chegado à idade adulta, com mais de 25 anos de idade, enquanto filhotes e animais "idosos" praticamente não aparecem. Além disso, muitos eram machos.
Trata-se de uma distribuição de idades e sexo que vai contra o esperado no caso de predadores não humanos, que tendem a dar preferência aos membros mais vulneráveis de um grupo de presas, como os filhotes e os animais velhos e doentes. Considerando o comportamento dos elefantes atuais, os cientistas consideram que o mais provável é que os neandertais privilegiassem a caça dos machos adultos solitários, que podiam ser cercados e abatidos com lanças e, além disso, traziam o maior retorno em termos de quantidade de carne.
E, de fato, as marcas de instrumentos de pedra nos animais revelam que os neandertais faziam de tudo para obter o máximo de proteína e gordura dos elefantes. Os paquidermes abatidos eram fatiados literalmente da cabeça aos pés, com incisões feitas para ter acesso ao cérebro, à língua, à carne das costelas e às "almofadinhas" características das patas dos elefantes. Essas estruturas rendem até 2 kg de gordura, muito valorizada por grupos de caçadores-coletores.
Cada elefante seria capaz de fornecer 2.500 "pacotes diários" de refeições, com 4.000 calorias cada um, calculam os cientistas. Isso indica que os grupos neandertais devem ter contado com técnicas de preservação de toda essa carne e, também, que podem ter se reunido com outros grupos para compartilhar o banquete periodicamente, forjando laços sociais de longa distância, por exemplo.
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