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Macaco de 3 metros sumiu com o fim de florestas na China

Análise química de dentes indica que primata ficou sem comida de qualidade

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Imagem ilustrativa da notícia Macaco de 3 metros sumiu com o fim de florestas na China camera Fosseis do primata; até hoje, foram encontradas quatro mandíbulas e cerca de 2.000 dentes isolados da espécie | Imagem: Garcia/Joannes-Boyau (Southern Cross University)

O fim do maior primata de todos os tempos, um parente dos orangotangos que pode ter chegado aos 3 metros de altura, provavelmente foi desencadeado pela progressiva perda das florestas onde ele se alimentava até uns 300 mil anos atrás.

A conclusão vem de um estudo que mapeou toda a trajetória da espécie Gigantopithecus blacki, que viveu no sul da China e cujos fósseis começam a aparecer em camadas geológicas do começo do Pleistoceno (a Era do Gelo), com 2,2 milhões de anos de idade.

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A espécie ainda é enigmática, em parte porque os fósseis encontrados até hoje correspondem apenas à anatomia bucal do macaco: quatro mandíbulas e cerca de 2.000 dentes isolados. O tamanho dos molares e da mandíbula, no entanto, são suficientes para estimar que o bicho teria alcançado até 300 kg de peso –50% mais do que os maiores gorilas machos de hoje.

Gigantopithecus blacki pode ter chagado a três metros de altura
📷 Gigantopithecus blacki pode ter chagado a três metros de altura |Imagem: Garcia/Joannes-Boyau (Southern Cross University)

A comparação com os gorilas de hoje também faz sentido quando se considera que o macacão parece ter sido estritamente herbívoro. A dentição do Gigantopithecus tem características que indicam uma adaptação para consumir matéria vegetal fibrosa, frutas em abundância e plantas abrasivas (capazes de desgastar os dentes).

Fosseis do primata; até hoje, foram encontradas quatro mandíbulas e cerca de 2.000 dentes isolados da espécie
📷 Fosseis do primata; até hoje, foram encontradas quatro mandíbulas e cerca de 2.000 dentes isolados da espécie |Imagem: Garcia/Joannes-Boyau (Southern Cross University)

Na nova pesquisa sobre o superprimata, que acaba de sair no periódico especializado Nature, cientistas de instituições chinesas, australianas e sul-africanas concentraram seus esforços em duas frentes. De um lado, eles fizeram análises detalhadas de 22 cavernas chinesas com e sem fósseis da espécie, para tentar datar a presença do primata com precisão ao longo do tempo, e também para reconstruir as mudanças de seu ambiente ao longo do tempo.

Fósseis de espécie Gigantopithecus blacki exibidos durante encontro na Academia Chinesa de Ciência em Pequim
📷 Fósseis de espécie Gigantopithecus blacki exibidos durante encontro na Academia Chinesa de Ciência em Pequim |Imagem: Garcia/Joannes-Boyau (Southern Cross University)

Por outro lado, a composição química dos dentes dos animais foi esquadrinhada para tentar entender as transformações de sua dieta e estilo de vida ao longo do tempo. Foi possível também comparar essas características dentárias do Gigantopithecus com as de um macaco muito menor seu contemporâneo. Trata-se do Pongo weidenreichi, um orangotango ancestral.

"O P. weidenreichi sobreviveu à extinção do Gigantopithecus, e há fósseis dele nessa região até 57 mil anos atrás, embora não tenhamos certeza de quando eles desapareceram da China", contou à Folha a pesquisadora Kira Westaway, da Escola de Ciências Naturais da Universidade Macquarie, na Austrália, e uma das coordenadoras do estudo na Nature. Hoje, os orangotangos só são encontradas nas ilhas de Sumatra e Bornéu, mas sua presença contínua na Ásia continental até relativamente pouco tempo atrás indica que eles conseguiram resistir à crise que eliminou o superprimata. Por isso, a comparação entre eles é valiosa.

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Do lado paleoecológico (ou seja, da descrição de como era o ambiente antigo onde ambos os primatas viviam), o estudo confirma que houve mudanças significativas na vegetação do sul da China ao longo do tempo. Enquanto, há 2 milhões de anos, o ambiente era florestal, dominado por diferentes espécies de árvores de grande porte, a situação muda consideravelmente entre 300 mil anos e 200 mil anos atrás, o que coincide com a "janela de extinção" estimada para o supermacaco. As grandes áreas de floresta passam a ficar interrompidas por áreas de vegetação aberta, com muito mais gramíneas.

Além disso, os dentes de ambas as espécies mostram que a alimentação e o acesso à água por parte dos primatas eram muito melhores no início do período do que na fase em que ocorre a extinção do Gigantopithecus. É possível estimar isso com base em camadas nos dentes que possuem diferentes composições químicas conforme os animais cresciam. "Interpretamos isso como algo relacionado à presença de uma ampla diversidade de alimentos e visitas regulares a fontes de água", explica Westaway.

Essas camadas se tornam imprecisas no período mais tardio, o que indicaria uma queda na diversidade de alimentos acessíveis aos bichos. Mas os sinais disso são bem mais graves no caso do superprimata, sugerindo que ele teve mais dificuldade para lidar com a escassez de recursos (o que faz sentido, considerando seu tamanho descomunal).

"Essa queda na diversidade de alimentos levaria a um estresse crônico, que possivelmente acabaria se manifestando em mudanças nos padrões de amamentação dos filhotes, menores taxas de reprodução, desnutrição e dificuldade de procurar alimento", conclui a pesquisadora. Embora já houvesse seres humanos arcaicos vivendo na região nessa época, não há indícios de que ele tenham caçado o Gigantopithecus.

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