Primeira mulher a comandar o México, Claudia Sheinbaum, 62, tomou posse nesta terça (1º) com várias referências ao fato inédito no país. Ela entrou no Palácio Legislativo de San Lázaro aos gritos de "Presidenta, presidenta, presidenta" e "É uma honra estar com Claudia hoje", que evoca o lema dedicado ao padrinho político e agora antecessor, Andrés Manuel López Obrador.
Pela primeira vez, uma comissão integrada exclusivamente por mulheres legisladoras de diferentes partidos políticos foi incumbida de receber a nova chefe do Executivo. A cerimônia histórica teve seu ponto alto quando a encarregada de colocar a faixa presidencial em Sheinbaum foi Ifigenia Martínez, presidente da Câmara dos Deputados e histórica líder da esquerda.
A foto também histórica foi completada por um grupo de guardas mulheres atrás de Sheinbaum e pela presidente da Suprema Corte de Justiça da Nação, Norma Piña. Uma militar foi a encarregada de ajustar a faixa presidencial feita sob medida para Sheinbaum por uma soldado membro da Secretaria da Defesa Nacional.
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Em seu discurso, Sheinbaum defendeu o uso do termo presidenta, da mesma forma que Dilma Rousseff passou a se identificar quando se tornou a primeira mulher a governar o Brasil. "Hoje sabemos que as mulheres também participaram das grandes façanhas da história do México, de diferentes trincheiras, e também sabemos que as mulheres podemos ser presidentas, por isso faço um convite atencioso para que se diga presidenta, com [a letra] A. Porque só o que se nomeia existe." Segundo ela, "é tempo de transformação e é tempo de mulheres".
Sob AMLO, como é conhecido o agora ex-presidente, o México chegou à paridade de gênero no Congresso, com 50% das cadeiras para mulheres. Sheinbaum também fez a divisão igualitária em seu gabinete de ministros. Embora em sua campanha tenha enfatizado o slogan "Não chegou sozinha, chegamos todas", a líder mexicana foi criticada durante sua campanha por não apresentar propostas de combate às altas taxas de violência de gênero do país. O número de feminicídios registrou leve queda em 2023, mas as 830 ocorrências são mais que o dobro das 413 registradas em 2015.
A posse foi acompanhada por vários líderes estrangeiros, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Chamou a atenção a ausência do rei Felipe 6º, da Espanha, a quem Sheinbaum se recusou a convidar, acusando-o de se negar a reconhecer o dano causado aos povos originários pela colonização. Como forma de protesto, Madri se recusou a enviar qualquer representante.
Lula, que havia se encontrado com Sheinbaum na véspera, disse horas antes da cerimônia no Congresso que a presidente mexicana pode "contribuir para que as mulheres no mundo inteiro percebam que está na hora de assumir definitivamente que a política é coisa de mulher".
O mandato único de seis anos de Sheinbaum começa sob a sombra de uma polêmica reforma do Judiciário, impulsionada por AMLO e recém-aprovada pelo Congresso, cujo principal ponto é a eleição direta de juízes e magistrados.
Os Estados Unidos, principal parceiro do México, criticaram a reforma, dizendo que representa um risco à democracia e uma ameaça para a relação entre os dois países. Sobre as tratativas com os americanos, especialistas preveem que ela manterá boas relações com qualquer um dos candidatos que vencer, mas que o contato seria melhor com a democrata Kamala Harris.
"Tenham certeza de que os investimentos de acionistas nacionais e estrangeiros estarão seguros no nosso país", disse a presidente, buscando acalmar preocupações.
Ela afirmou que o Banco Central mexicano manterá sua autonomia, que a política fiscal será responsável e que haverá uma proporção razoável entre dívida e produto interno bruto (PIB).
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Outro desafio é a violência ligada ao narcotráfico, que resultou em mais de 450 mil homicídios no país desde o fim de 2006. Sheinbaum declarou que não voltará à guerra contra os cartéis e que pretende manter uma política de oferecer programas sociais para jovens a fim de evitar que sejam recrutados pela criminalidade.
Ela disse, no entanto, que reforçará os trabalhos de inteligência e investigação e que fortalecerá a Guarda Nacional, que passou ao controle do Exército em meio a críticas de opositores, defensores dos direitos humanos e até das Nações Unidas.
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