O incêndio de uma árvore de Natal na Síria desencadeou, nesta terça-feira (24), uma onda de manifestações no país, observado com expectativa e desconfiança por líderes do Ocidente desde que um grupo islâmico chegou ao poder após derrotar o ditador Bashar al-Assad, no início de dezembro.
A árvore estava na praça central de Suqaylabiyah, cidade de tradição cristã perto de Hama, no centro da Síria. A identidade dos encapuzados que atearam fogo ainda não está clara, mas segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, organização com sede no Reino Unido, eles eram estrangeiros do grupo jihadista Ansar al-Tawhid.
"Exigimos os direitos dos cristãos", repetiam em coro os manifestantes enquanto marchavam pelas ruas de Damasco até a sede da Igreja Ortodoxa de Antioquia, a maior confissão cristã do país, no bairro de Bab Sharqi. Alguns manifestantes levavam cruzes de madeira, enquanto outros agitavam a bandeira síria da independência, com três estrelas, adotada pelas novas autoridades.
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Em um país predominantemente sunita, Assad se autoproclamava um protetor das minorias, como a alauita, uma vertente do xiismo à qual pertence. Embora realmente tivessem liberdade para professar a sua fé, os cristãos sírios enfrentavam opressões de outras ordens sob a ditadura, assim como a maioria de seus conterrâneos.
Ao longo de 13 anos de guerra civil, Assad perseguiu e matou opositores, segundo organizações de direitos humanos, e foi acusado de cometer crimes contra a humanidade contra sua própria população. Por isso, a queda do ditador foi amplamente comemorada pela comunidade internacional e pelos sírios, mas abriu um capítulo incerto no país.
A HTS (Organização para a Libertação do Levante, na sigla em árabe), grupo armado líder da ofensiva que derrubou o ditador, foi ligada à Al Qaeda no passado, quando defendia a implementação de uma versão radical da Sharia, a lei islâmica, na Síria.
Nos últimos anos, o grupo moderou sua retórica e se afastou de organizações extremistas, mas continua despertando desconfiança na comunidade internacional —países como Estados Unidos e Turquia, por exemplo, ainda o consideram terrorista.
Na semana passada, a diretora da OIM (Organização Internacional para as Migrações, da ONU), Amy Pope, afirmou que, embora muitos dos milhares de refugiados dos últimos anos estejam retornando à Síria desde a queda de Assad, dezenas de milhares de pessoas fugiram do país nos últimos dias, e especula-se que minorias religiosas estejam deixando o país.
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Membros da comunidade muçulmana xiita, por exemplo, teriam fugido não por se sentirem realmente ameaçados, diz ela, mas por estarem "preocupados com ameaças potenciais" em um país majoritariamente sunita. Pope afirma ainda que Líderes religiosos cristãos radicados em Damasco indicaram que "suas comunidades estão muito preocupadas".
Os temores em relação a um governo liderado pelo grupo se manifestaram na Igreja Ortodoxa de Antioquia nesta terça. "Viemos porque há muito sectarismo contra os cristãos sob o pretexto de que são 'casos isolados'", disse à agência de notícias AFP um manifestante identificado como Georges. "Se não nos permitem viver nossa fé cristã no nosso país, então não pertencemos mais aqui."
A repercussão das imagens fez um rebelde gravar um vídeo perto do local em que a árvore foi queimada, prometendo punir os autores do ato, segundo a emissora americana CNN. "A árvore será restaurada e iluminada amanhã de manhã", disse a manifestantes, ao lado de padres.
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