
Após dias de incerteza em relação ao cessar-fogo que há quase um mês interrompeu a guerra na Faixa de Gaza, o Hamas libertou, neste sábado (15), mais três reféns sequestrados durante o mega-ataque do grupo terrorista no sul israelense, em outubro de 2023. Em contrapartida, Israel libertou mais 369 prisioneiros palestinos que mantinha em suas prisões.
Desta vez, o grupo terrorista devolveu Sagui Dekel-Chen, 36, filho de um casal americano; Iair Horn, 46, cuja família é argentina; e Alexander Sasha Troufanov, 29, um cidadão russo-israelense. A libertação aconteceu em Khan Yunis, no sul de Gaza.
Como nas ocasiões anteriores, os integrantes do Hamas, encapuzados e armados com fuzis automáticos, levaram os reféns a um palco. Em Khan Yunis, rodeados pelo cenário de ruínas em que a faixa se transformou após mais de um ano da campanha militar israelense, os sequestrados falaram brevemente antes de serem entregues à Cruz Vermelha. Minutos depois, o Exército israelense indicou ter recebido os três reféns, que passaram um total de 498 dias em cativeiro.
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Pouco depois, o primeiro ônibus com palestinos libertados partiu da prisão de Ofer, em Israel, para Ramallah, capital da Cisjordânia ocupada. O veículo chegou ao seu destino sob aplausos da multidão, que hasteava bandeiras palestinas.
"Estamos trabalhando de forma plenamente coordenada com os Estados Unidos para recuperar o mais rápido possível todos os nossos reféns, vivos e mortos, e estamos completamente preparados para o que está por vir, em todos os aspectos", afirmou o gabinete do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, em comunicado.
De acordo com o jornal Haaretz, o líder pretendia realizar ainda neste sábado uma reunião interna para abordar o acordo de cessar-fogo após o ultimato dos EUA ao Hamas quanto à soltura dos reféns. A discussão incluiria a segunda fase do acordo, prevista para começar no mês que vem, e a visita do secretário de Estado americano, Marco Rubio, ao Oriente Médio —ele aterrissou em Tel Aviv à noite.
A pauta do encontro é um indicativo de que a tensão que assombrou a trégua nos últimos dias ainda não acabou.
Também neste sábado, o chefe do Estado-Maior israelense, o tenente-general Herzi Halevi, disse que o Exército do país planeja uma nova ofensiva. "Ao mesmo tempo em que o retorno de cada refém suscita um enorme entusiasmo", afirmou, "preparamos planos de ataque".
Em resposta, o Hamas afirmou que Washington, um dos mediadores do acordo de cessar-fogo, deveriam obrigar Tel Aviv a respeitar suas condições "se realmente se importam com as vidas" dos reféns sobreviventes ainda em sua posse, disse Hazem Qassem, porta-voz do grupo em comunicado.
Na macabra cerimônia que realizaram antes de devolver os israelenses libertados, os terroristas haviam entregue a um deles uma ampulheta com a inscrição "o tempo está se esgotando".
Esta é a sexta troca de reféns por prisioneiros desde o início da trégua entre Tel Aviv e Hamas, iniciada em 19 de janeiro. Com ela, o número de reféns devolvidos em razão do acordo sobe para 24, mais perto do total de 33 que deveriam ser libertados até o fim da primeira fase da trégua.
Restam 38 sequestrados com vida e 35, mortos sob o poder da facção, segundo o Exército israelense. Outras 117 pessoas sequestradas no 7 de Outubro tinham sido libertadas antes do cessar-fogo, sendo a grande maioria delas na única pausa anterior nos enfrentamentos, ocorrida cerca de um mês após o seu princípio.
As negociações para esta troca deixaram a trégua por um fio. A tensão começou na segunda-feira (10), quando o grupo terrorista afirmou que adiaria a devolução de reféns israelenses devido a supostas violações do acordo de cessar-fogo por parte de Israel —acusação que ambas as partes do conflito trocam desde o início da trégua.
Segundo o grupo, Israel continua a bombardear o território e a impedir a entrada de ajuda em Gaza. Só desde o começo da trégua, 118 palestinos morreram, e outros 822 ficaram feridos no território, disse o diretor do Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas, no início desta semana. Eles se somam aos mais de 45 mil habitantes da faixa mortos desde a explosão da guerra.
A reação em Israel foi imediata. O ministro da Defesa, Israel Katz, afirmou que o anúncio da facção era "uma violação total" do acordo e ordenou que o Exército se preparasse para "qualquer cenário". Maior aliado de Tel Aviv, o presidente dos EUA, Donald Trump, também ameaçou a retomada dos combates.
O republicano voltou, aliás, a fazer ameaças neste sábado, ao comentar a soltura dos reféns na Truth Social, rede social de que é dono. "Eles parecem estar em boa forma. Isso contradiz a declaração deles [Hamas] na semana passada de que não libertariam nenhum refém", escreveu, acrescentando que Israel agora teria que decidir o que faria em relação ao prazo que ele próprio havia imposto para a libertação de todos os reféns, 12h deste sábado.
O possível rompimento do acordo deixou em alerta diversas organizações que atuam na região, uma vez que a volta dos combates agravaria ainda mais a já catastrófica situação humanitária em Gaza. Desde a interrupção da guerra, milhares de civis que sobreviveram aos bombardeios têm voltado para suas casas após meses deslocados.
Na quinta-feira (13), porém, o Hamas abaixou o tom e disse que não queria que o acordo entrasse em colapso, mas rejeitou o que considera uma "linguagem de ameaças e intimidação" de Netanyahu e de Trump.
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Naquele dia, mediadores se reuniram no Egito para negociar a manutenção da trégua. Segundo o grupo terrorista, as conversas no Cairo se concentraram na permissão de Israel para a entrada de tendas, suprimentos médicos e equipamentos de construção em Gaza.
Então, na sexta (14), foram divulgados os nomes dos três reféns que seriam libertados.
O pano de fundo da semana conturbada é a proposta de Trump para Gaza. No começo do mês, o presidente americano chocou a comunidade internacional ao dizer que os palestinos deveriam ser permanentemente retirados do território, que seria entregue aos EUA e transformado em uma "Riviera do Oriente Médio".
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