O vendedor Marcelo Oliveira, de 35 anos, cantou e tocou violão durante uma cirurgia com monitorização funcional do cérebro, na tarde de terça-feira (9), no hospital público estadual Ophir Loyola, em Belém.
O tumor estava localizado na superfície do cérebro, que é responsável pelo controle de funções como a fala e movimentos voluntários do lado direito do corpo.
A equipe médica resolver realizar o procedimento de microcirurgia do tumor intracraniano com acompanhamento da atividade cerebral em tempo real. Garantindo assim a integridade dessas atividades.
Marcelo começou a sentir formigamentos do lado direito do corpo há um ano atrás, mas não deu importância. Após dois episódios de crises convulsivas, um dia desmaiou na empresa onde trabalha, um amigo o socorreu e o levou para o Hospital Regional de Marabá.
Após uma bateria de exames e uma tomografia, foi atestado que havia uma lesão no cérebro. Marcelo então foi transferido para o Ophir Loyola, que é referência em neurocirurgia no Estado do Pará, a equipe definiu a técnica cirúrgica com uso de tecnologia que emite e recebe estímulos cerebrais do início ao término da manipulação do órgão.
Marcelo soube que precisaria estar acordado durante o procedimento e pediu para cantar e tocar a música “Deus de Promessas” do cantor gospel Davi Sacer, além de outras canções. “Eu estava esquecendo memórias recentes há algum tempo, mas sempre tive dificuldade de memorização. De dez frases que ouço, só consigo lembrar de cinco. Não sei o motivo pelo qual estou passando por essa experiência, mas sei que há muita coisa para se cumprir na minha vida, por isso escolhi a canção”, disse.
Cirurgia
Durante a avaliação com a neuropsicológa, Ana Carla Anijar, foi constatado um déficit cognitivo que poderia ser agravado durante uma cirurgia convencional. Como o procedimento aconteceu numa área do cérebro responsável pela fala e coordenação motora, para não deixar sequelas, o paciente teve que ser operado consciente. Ele tinha que falar, movimentar mãos e dedos para os médicos acompanharem caso alguma sequelas acontecesse.
O chefe de neurocirurgia, Reginaldo Brito, explicou que a cirurgia com paciente acordado já foi realizada no hospital. Mas essa é a primeira que o paciente cantou e tocou um instrumento durante o procedimento. “A captação das funções motoras e de linguagem foram realizadas mediante testes neuropsicológicos, que envolvem atividades de movimento e de memória ”, informou.
A princípio, Marcelo foi entubado, submetido à anestesia geral e recebeu eletrodos conectados em todo o corpo para o mapeamento das áreas eloquentes e da localização do tumor. “Após a abertura do osso do crânio (craniotomia) com auxílio do aparelho neuronavegador, a membrana (dura-máter) que cobre o cérebro, é anestesiada localmente. O paciente foi acordado pela equipe anestésica por meio da diminuição do nível de sedação para responder aos comandos”, explicou o neurocirurgião Airton Araújo.
A cirurgia durou em torno de 6h com metodologia que reduz complicações cirúrgicas e o tempo de internação. “O grande benefício é poder realizar o procedimento com máximo de ressecção da lesão cerebral sem causar déficits para o paciente, realizamos uma neurocirurgia oncológica funcional com precisão e segurança”, enfatiza Airton.
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