Nos últimos dez anos, mais de 1,6 milhão de brasileiros ficaram feridos em acidentes de trânsito, o que representou um custo de cerca de R$ 2,9 bilhões para o Sistema Único de Saúde (SUS). Os dados são do Conselho Federal de Medicina (CFM) com base em números levantados pelo Ministério da Saúde. A pesquisa mostrou ainda que entre 2009 e 2018 houve um crescimento na ordem de 33% na quantidade de internações em decorrência de acidentes.
No Pará, os números também são significativos. Somente no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE), das cerca de 16 mil pessoas atendidas em 2018, mais de 4.100 casos (25%) foram em decorrência de complicações no trânsito, causadas por colisões de automóveis (40%); acidentes de moto (38%); atropelamento (17%); e acidentes com bicicletas (5%). A maior parte das vítimas é do sexo masculino e está na faixa etária entre 20 e 39 anos.
As internações ao ano chegaram a 8.474, das quais 2.778 foram relativas a acidentes. Cada paciente custa, em média, R$ 2.300 (diária na Unidade de Terapia Intensiva- UTI); R$ 2.900 (diária na UTI pediátrica) e cerca de R$ 700 (diária na enfermaria). A média de internação costuma ficar em pouco mais de sete dias.
Em 2019, não tem sido diferente. De janeiro a agosto, foram atendidas 10.432 pessoas, das quais 2.670 se tratavam de vítimas de acidente de trânsito (25,6%), causadas por colisões de automóveis (40,1%); acidente de moto (36,4%), atropelamento (17,6%), envolvendo ciclistas (5,1%); e náuticos (0,9). No mesmo período, 5.642 precisaram ficar internadas, sendo 1.718 por conta dos acidentes de trânsito. A faixa etária mais atingida continua de 20 a 39 anos.
De acordo com o diretor técnico do hospital, o médico Cláudio Nunes, grande parte desses gastos e, principalmente, do sofrimento com tratamentos quase sempre longos e dolorosos, poderiam ser evitados. “É preciso investir na prevenção primária, no incentivo ao uso de capacete e combater a imprudência e a imperícia, muito comum no trânsito da cidade, onde observamos facilmente o transporte de famílias inteiras numa única motocicleta e sem o uso de capacete”, diz.
Ele explica que o hospital tem investido em tratamento e reabilitação, que combate o desperdício a partir de programas que buscam otimizar os protocolos de atendimento. “Precisamos trabalhar dentro de um orçamento mensal e nem sempre isso era possível, porque o tempo de internação geralmente era superior ao previsto, por isso começamos a investir em ações como teleconsultoria, em que prestamos consultoria a hospitais que recebem pacientes que, posteriormente, sejam trazidos para cá, na melhor forma de conduzir o tratamento para que não corramos o risco de receber um paciente que já foi contaminado. Com isso, conseguimos reduzir a média de internação que era de 15 dias para 7,2 dias”.
Mas, apesar das iniciativas, o diretor afirma que os custos continuam altos, consumindo um percentual importante do montante reservado à área da saúde que poderia estar sendo direcionado para outros tratamentos, inclusive os de prevenção.
Mudanças
O ajudante de pedreiro José Pereira, 47 anos, sabe na prática o quanto pode ser custoso e demorado o tratamento para recuperar alguém que passou por um acidente de trânsito. Em 2015, ao sair de casa, no município de Santo Antônio do Tauá, para comprar comida de bicicleta, acabou sendo atropelado por uma motocicleta. “Tenho poucas lembranças daquele dia, só lembro de olhar para os lados para ver se vinha algum carro e avançar com a bicicleta. Depois, senti o baque da moto, desmaiei e não me recordo de mais nada”, conta.
Desde então a vida do ajudante de pedreiro mudou. “Antes, eu trabalhava e tinha uma rotina normal. Mas agora tudo é diferente. O médico disse que não vou poder mais voltar a trabalhar e que não há previsão para o fim do tratamento”, afirma.
Depois de ficar internado por um ano e dois meses, passar por oito cirurgias e perder sete centímetros do fêmur, José só consegue caminhar com o auxílio de uma muleta e precisa se deslocar do município onde mora, três vezes por semana, para fazer fisioterapia na capital. Além disso, está impossibilitado de trabalhar e há cerca de quatro anos está de benefício. “Agora vivo para me tratar”, resume.
Aos 60 anos, o auxiliar de serviços gerais José Renato Silva também viu sua vida mudar após ser atropelado por um ônibus quando saía do trabalho de bicicleta, em 2018, no município de Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém. “Foi muito rápido. Eu estava próximo a faixa de pedestre quando o motorista avançou e saiu me arrastando”, detalha. No atropelamento, ele quebrou o quadril e a clavícula. Já passou por três cirurgias, tem dificuldades para caminhar e precisa fazer fisioterapia três vezes por semana. “O pior de tudo é conviver diariamente com dores pelo corpo, que só amenizam com remédios”, conta.
“No trânsito, o sentido é a vida”
É justamente para prevenir acidentes como os que acometeram José Pereira e José Renato que em todo Brasil ocorre, até o dia 25 deste mês, a Semana Nacional de Trânsito, prevista pelo Código de Trânsito Brasileiro. Todos os órgãos que compõem o Sistema Nacional de Trânsito são convocados a participar de ações que mobilizem a sociedade. O tema definido, pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), para o ano de 2019 é “No trânsito, o sentido é a vida”.
“Ao contrário de outros anos em que a conscientização era focada na morte, esse ano, a mensagem é vida e, para isso, estamos focando em três vertentes principais: o incentivo ao uso do capacete, na alcoolemia e na imprudência”, esclareceu o diretor geral do Departamento de Trânsito do Estado do Pará (Detran/PA), Marcelo Guedes.
A ideia da semana é envolver diretamente a sociedade nas ações e propor uma reflexão sobre uma nova forma de encarar a mobilidade. Trata-se de um estímulo a todos os condutores, seja de caminhões, ônibus, vans, automóveis, motocicletas ou bicicletas, e aos pedestres e passageiros, a optarem por um trânsito mais seguro.
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