Planejada inicialmente para durar cerca de 18 meses, a obra do BRT Belém se arrasta há quase uma década. Durante todo esse tempo, muitos acompanham incrédulos a construção que, ao que tudo indica, parece estar longe de ser concluída. Iniciada em 2011, o que avançou já se deteriora pelo tempo, enquanto o restante ainda parece estar distante de uma conclusão.

Projetado para melhorar a mobilidade na capital, com a organização do trânsito e do transporte público, o BRT Belém ainda não mostrou ao que veio e está a cargo da gestão municipal atual desde 2015, quando reiniciou a obra.

Na avenida Almirante Barroso, a principal via de entrada e saída da capital, que liga o centro da cidade ao Entroncamento, do total de 11 estações (pontos construídos para embarque e desembarque de pedestres na pista central do BRT) entregues há mais de dois anos, apenas três estão funcionando: Estação Curuzu, Estação Antônio Baena e Estação Júlio César, além do Terminal São Brás.

Do restante das estações, uma das mais deterioradas é a Estação Bosque, composta por quatro espaços. Todos estão pichados, com a fiação arrancada e as lâmpadas roubadas. Na avenida Augusto Montenegro, outra importante via de acesso para o centro da capital, com vários bairros e conjuntos residenciais em seu entorno, a situação é um pouco pior. Lá o projeto foi divididoem duas etapas.

A primeira fase já foi concluída e as seis estações, com início na Estação da Marambaia e término na Estação Sideral, estão funcionando, assim como o Terminal do Tapanã. O problema, no entanto, é que em muitos pontos não há sinalização, as calçadas por onde os pedestres precisam passar estão cheias de buracos e mato e grande parte do gradil que deveria servir de proteção para a pista central do BRT, especialmente nas proximidades da Estação Templo Centenário, não existe mais.

Pedestres caminham em meio a obra não concluída.
📷 Pedestres caminham em meio a obra não concluída. |Ney Marcondes
Na Almirante, várias estações estão com pichações e sem funcionar
📷 Na Almirante, várias estações estão com pichações e sem funcionar |Ney Marcondes

PRAZO

Na mesma avenida, uma placa anuncia as obras da segunda fase do projeto, no valor de R$ 326.640.084,25, com início em janeiro de 2015 e término previsto para agosto de 2019, com execução do Consórcio BRT Belém. Mesmo com o prazo encerrado, a obra não mostra sinais de que será concluída em breve. Das cinco estações restantes, nenhuma está em funcionamento, embora aparentemente prontas. Já o Terminal Maracacuera ainda não está terminado e o elevado Engenheiro José Augusto Affonso passa por serviço de pavimentação das pistas laterais da avenida.

Nesse local, ao longo da pista ainda não há qualquer sinalização, nem mesmo onde o trânsito precisa ser desviado. Apenas barreiras de concreto são usadas para impedir os condutores de seguirem. Existem ainda retornos irregulares na avenida, onde os bloquetes foram arrancados para dar passagem a motoristas, motociclista e ciclistas, que se arriscam nesses locais.

Nas ruas, muita insatisfação

Pela demora na conclusão, a obra do BRT Belém está cada vez mais desacreditada, especialmente por aquelas pessoas que sofrem com as consequências dessa demora. Uma delas é a estudante e assistente de loja Rafaele Silva, que mora na avenida Augusto Montenegro e todos os dias precisa transitar pela via. “Está cada vez pior. Não tem local seguro para o pedestre atravessar. Precisamos arriscar a nossa vida passando por meio dos carros. Não sei quando isso vai terminar”, disse.

📷 Oseias Souza e Rafaele Silva lamentam a demora na conclusão da obra |Ney Marcondes

Ao lado dela, o servente Oseias Souza não acredita que a obra seja concluída ainda este ano. “Não tem como. Aliás, ela pode ser até entregue, mas inacabada”, opinou. O estudante Indinay Paixão, que mora próximo da avenida, também utiliza a via diariamente para ir à escola e reclama da situação que precisa enfrentar. “Está muito complicado, praticamente não temos por onde passar, mas não tenho esperança que essa obra acabe tão cedo”, afirmou.

📷 "Está muito complicado, praticamente não temos por onde passar, mas não tenho esperança que essa obra acabe tão cedo”, afirmou Indinay Paixão |Ney Marcondes

O ambulante Benedito Lopes é morador do conjunto Eduardo Angelim e todos os dias utiliza a Augusto Montenegro para chegar ao seu ponto de trabalho, que fica na própria via. Apesar de não acreditar que a obra do BRT seja concluída ainda este ano, ele espera ver a avenida concluída. “Tenho fé que um dia isso vai acontecer e vai melhorar muito a nossa vida”, diz.

PROBLEMAS

Enquanto não fica pronto, o BRT enfrenta alguns problemas. Um deles foi demonstrado ano passado em um relatório da Controladoria Geral da União (CGU), que apontou que cerca de R$ 41 milhões referentes a obra podem ter sido superfaturados. Um outro relatório, também da CGU, encaminhado para o Ministério Público Federal (MPF), mostrou problemas no projeto básico, deficiências no controle, cobrança de serviços não concluídos e preços incompatíveis.

Resposta

A Prefeitura de Belém diz que o prazo de entrega da obra é o “final do ano” e que o trabalho está em fase final. “Toda a pista de concreto está finalizada até o Terminal Maracacuera que também está pronto. Todas as estações também já foram finalizadas”, diz o texto, afirmando que estão sendo realizados apenas serviço de controle de qualidade nas pistas do elevado. A Prefeitura diz que todas as estações passarão a funcionar junto com a entregado último trecho.

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