
Após mais de três anos e meio, o desaparecimento da universitária paraense Karina Raiol, atualmente com 23 anos, foi “solucionado”: a jovem que saiu do Brasil em abril de 2016 e viajou para o Oriente Médio está detida em um campo de prisioneiros controlado por milícias curdas no Norte da Síria. Uma das principais questões, a partir deste momento, é saber quais as chances de conseguir trazer a garota de volta ao lar.
A situação não é simples, segundo o doutorando em Relações Internacionais José Cauby Monteiro. O estudioso - que atua na pesquisa de temas como Segurança Internacional e Terrorismo - explica que há inúmeras dificuldades para a repatriação de Karina: ela está no poder de milícias curdas, um grupo que atualmente é visto como inimigo da Síria, da Turquia e do Iraque, os governos legítimos que poderiam negociar com o Brasil diplomaticamente o retorno da jovem. Há também fatores que podem ser sinais de esperança.
“Existem muitas dificuldades, mas também fatores que podem ajudar: o fato de ela ser mulher; ser jovem ainda; ter um filho, que é um filho de uma brasileira, mesmo tendo nascido lá [no Oriente Médio]. Também ocorre de todas as brasileiras que estão junto com a Karina serem consideradas mulheres ‘diferentes’, de um País muito amado entre os árabes. Talvez isso facilite a vida dela junto aos curdos”, explicou o estudioso.
Outra situação que preocupa com relação à segurança da paraense é a guerra civil no local onde a jovem está. A Turquia vive, atualmente, um conflito contra os curdos naquele território. Os ataques foram interrompidos por um breve cessar fogo, mas podem recomeçar a qualquer instante.
“Os únicos Governos que estão ali são os governo sírio, o iraquiano e o governo turco. Os três são contra os curdos. A Turquia nesse momento está em guerra, bombardeando aquela região. Nesse momento, foi estabelecida uma trégua para que a população civil pudesse se retirar, mas daqui a poucos eles devem retomar o bombardeio”, explica o professor.
“Os Estados Unidos, que davam proteção para os curdos, se retiraram, como se eles tivessem dado sinal verde para a Turquia avançar sobre os curdos. É uma situação muito difícil do ponto de vista do Direito Internacional, por maior que seja a boa vontade do Governo brasileiro de repatriar Karina”, continuou José Cauby.
Há, por fim, outra preocupação que ronda a situação de jovem: em 2016, foi aprovada, no Brasil, a Lei Antiterrorismo, que prevê diversos crimes como, por exemplo, “promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por interposta pessoa, a organização terrorista”. A pena para esse caso é de cinco a oito anos de reclusão. Caso Karina seja repatriada, há possibilidade que ela responda por crimes cometidos fora do Brasil.
“Ser repatriada não significa que ela não irá responder pela lei brasileira por algum crime que ela pode ou não ter cometido. Há uma dificuldade real no caso dela”, explica o especialista.
DETENÇÃO EM CAMPOS DE PRISIONEIROS
A jovem paraense Karina Ailyn Raiol Barbosa, de 23 anos, que estava desaparecida desde o ano de 2016 após embarcar para o Oriente Médio, foi identificada como uma das mulheres do Estado Islâmico detidas em um campo de prisioneiros controlados pelas milícias curdas no Norte da Síria. As informações foram divulgadas pelo portal Yahoo Brasil nesta segunda-feira (21).
De acordo com a reportagem, assinada pelo jornalista Yan Boechat, Karina, que cursava o curso de Comunicação Social na Universidade Federal do Pará, está presa junto com o filho, que teria entre um e dois anos de idade, em uma área destinada apenas às mulheres estrangeiras que se juntaram ao califado criado pelo líder iraquiano Abu Bakar Al Baghdadi, em uma vasta região entre a Síria e o Iraque.
As autoridades curdas que controlam o campo onde Karina e seu filho estão detidos afirmam que outras seis mulheres de nacionalidade brasileira também estão presas, com um número não definidos de crianças.
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