A vida da pedagoga Ana Patrícia Vasconcelos passou por uma grande mudança desde que a única filha, Ana Luíza Vasconcelos, de 8 anos, foi diagnosticada como asperger, dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Para acompanhar de perto a criança, ela deixou de lado o trabalho e passou a se dedicar a menina.
E, para auxiliar no seu desenvolvimento, começou a criar materiais pedagógicos. Aos poucos, seu trabalho ficou conhecido na internet e agora está ganhando o mercado local, graças ao projeto Mundo Azul Loja Colaborativa, um espaço que oportuniza a comercialização de produtos elaborados por famílias e pessoas autistas.
Desenvolvida pelo Grupo Mundo Azul, que reúne 230 mães de autistas, a loja tem um perfil no Instagram (@grupomundoazul) e participa de eventos, feiras e demais espaços de economia criativa que acontecem em Belém e que são divulgados na rede do grupo. “Estivemos na Feira do Livro este ano e estaremos entre os dias 3 e 10 de novembro participando da Feira de Artesanato Mundial (FAM) e VIII Fesarte, no Hangar, no horário de 13h às 22h”, conta a fundadora e uma das coordenadoras do Grupo, Flávia Marçal, mãe de Matheus, de 8 anos, diagnosticado autista aos dois anos e meio.
Ela explica que a loja colaborativa adota a conscientização sobre o autismo como ação paralela a todas as suas participações em eventos e atividades em geral levando informação e conscientização. “Não é a venda pela venda, mas estamos trabalhando com algo que possa gerar uma conscientização sobre o tema e sobre a inclusão”, destaca.
A loja está inserida em um contexto de atuação do grupo que vai muito além de reunir mães com filhos autistas. “Ela está entre os quatro pilares que o grupo foi formado, que é funcionar como uma rede de apoio ao cuidador; trabalhar o engajamento e o empoderamento dessas pessoas e participar ativamente da construção do Centro Especializado no Transtorno do Espectro Autista (Cetea), por parte do Governo do Estado”, detalha.
A coordenadora explica que o conceito da loja nasceu de uma questão muito comum às mães de autistas, como o caso da pedagoga Ana Patrícia. “Muitas delas precisam parar de trabalhar para exercer os cuidados, ou ainda que optam por estar em casa de modo a acompanhar e estimular continuamente seus filhos, mas que gostariam de ter a flexibilidade de retorno das atividades laborativas, por isso criamos a Mundo Azul Loja Colaborativa, um espaço que oportuniza a comercialização desses produtos elaborados por famílias, especialmente as mães, e pessoas com autismo”, explica.
Essa é a situação vivida pela piloto de navio Mônica Nascimento, mãe de João Antônio, 5 anos, e Maria Antônia, 8, que está passando pelo processo de diagnóstico de autismo. “Ela ainda não tem um diagnóstico fechado, porque começou a manifestar com mais intensidade os sintomas há cerca de dois, quando eu tive que parar de trabalhar para me dedicar mais a ela”, diz.
Para dar conta dos gastos com o acompanhamento, que envolve terapias multidisciplinares, ela afirma contar com o apoio da mãe, que confecciona laços, livros sensoriais e dados multifuncionais que são vendidos na Mundo Azul Loja Colaborativa. “Temos gastos muito grandes, por isso precisamos de fato de uma rede de apoio que possa nos auxiliar em todo esse processo”, afirma.
Produtos
Além dos materiais pedagógicos feitos por Ana Patrícia que auxiliam no desenvolvimento de pessoas autistas e com deficiências em geral e dos laços, livros sensoriais e dados multifuncionais criados pela mãe da Mônica Nascimento, é possível encontrar à venda material de necessaire e de papelaria, quadros decorativos, brinquedos, bottons, camisetas, além das histórias em quadrinhos do Lucas ou HQs do Lucas, um trabalho desenvolvido pelo autor e ilustrador Lucas Moura Quaresma, jovem autista, junto com colaboradores. Através de suas histórias em quadrinhos, o Lucas mostra um pouquinho da sua maneira de ver o mundo, leva alegria, reflexão e incentiva a leitura.
Além de produtos, com valores que variam entre R$ 10 e R$ 200, a loja também disponibiliza serviços. “Já estamos oferecendo opções como, por exemplo, o de café da manhã”, destacou a coordenadora.
Grupo de trabalho discute políticas públicas
Nayara Barbalho também é coordenadora do Grupo Mundo Azul. Ela é mãe de Pedro, 5 anos, que foi diagnosticado autista aos 3 e explica que pela primeira vez o Mundo Azul está compondo um grupo de trabalho, envolvendo várias parcerias, para discutir políticas públicas voltadas para o autismo. “Esse trabalho é resultado de uma proposta feita pela sociedade e universidade, coordenado pela Secretaria de Estado de Planejamento (Seplan), que já tem como primeiro resultado a criação do Cetea, previsto para ser inaugurado no dia 2 de abril de 2020”, explica.
Uma das bandeiras do grupo de trabalho é atuar para que se tenha um diagnóstico precoce do TEA. “A nossa luta é que se possa ter uma intervenção precoce, porque isso é fundamental para o desenvolvimento de pessoas com autismo”, afirma.
Ela conta que a Mundo Azul Loja Colaborativa vem recebendo apoio do Governo do Estado, principalmente na abertura de espaços em eventos estaduais, onde é possível apresentar o trabalho produzido pelas mães e por autistas e, ao mesmo tempo, fortalecer o trabalho de esclarecimento e inclusão do autismo.
O autismo é uma condição neurológica da neurodiversidade caracterizada por comprometimento da interação social, comunicação, e comportamento restrito e repetitivo. É um espectro por conter vários níveis e condições.
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