Ao que tudo indica, a situação de crise pela qual o país vem passando, tem uma relação com a queda no índice de felicidade dos brasileiros. Pelo menos é o que aponta um relatório produzido pelo Instituto Ipsos, que avaliou a felicidade da população de 28 países, e divulgou os resultados em setembro deste ano, mostrando uma queda de 12% nesse índice em comparação ao ano passado.
Entre os paraenses ouvidos pela reportagem, no entanto, as notícias não muito positivas com relação, principalmente, à economia, ainda parecem ter poucos reflexos quando o assunto é felicidade.
Para o psicólogo clínico André Assunção, isso ocorre porque o conceito de felicidade é muito subjetivo e depende de cada um. “Ela está relacionada a todo um processo de bem-estar, por isso só estamos felizes a partir do que enxergamos como felicidade, o que é uma coisa de cada um”, explica. Além disso, normalmente esse sentimento é composto por vários fatores. “A felicidade é composta de pequenas coisas que, juntas, resultam nesse sentimento”, afirma.
Ele ressalta que a felicidade pode e deve ser construída e que muitas vezes ela é confundida com outras situações. “Ter um emprego que garanta o seu sustento, ter amor, alimentos, entre outros, são fatores básicos e fundamentais para a nossa sobrevivência, mas, muitas vezes, são confundidos com o conceito de felicidade”, destaca.
Por outro lado, a ausência daquilo que é tido como a razão da felicidade de alguém contribuiu para uma queda desse índice. “Quando se perde esse objeto, esse fator que leva a esse sentimento de felicidade, ocorre uma insatisfação, que gera a infelicidade, a frustração, a autoestima baixa, a falta de confiança, entre outros”, descreve.
O psicólogo chama a atenção ainda para o fato de que tanto o sentimento de felicidade quanto o de infelicidade não são constantes. “São fatores momentâneos e que oscilam, ou seja, não é normal que uma pessoa se sinta feliz todos os dias e todas as horas. Assim como o contrário também não deve ser aceito”, pondera.
Em tempos de redes sociais, ressalta o profissional, onde o conceito de felicidade se traduz, muitas vezes, nas fotos postadas de viagens, de passeios, de comidas, entre outros, o conceito de felicidade se tornou quase inalcançável para muitos, que não conseguem seguir esse padrão. “Por isso, as pessoas devem buscar os seus propósitos de vida, procurando não se comparar com o outro, achando sempre que a grama do vizinho é mais verde, porque a felicidade pode estar também naquilo que a gente já possui”, aconselha.
Valorizar
A estudante de odontologia Sabrina Oliveira, de 28 anos, sempre se sentiu uma pessoa feliz. “Sempre valorizei muito a minha família e os meus amigos e isso já me deixava cheia de felicidade”, diz. Mas, há dois anos e meio, um evento mudou completamente a sua vida, fazendo com que ela passasse a enxergar a sua existência com ainda mais intensidade.
“Estava passando férias em Nova Zelândia quando sofri um acidente. Um carro acertou o ônibus que eu estava exatamente no local em que estava sentada. Fui parar no para-brisa. Tiveram que me tirar de lá e me colocar no chão. Passei praticamente cinco dias desacordada e sete meses sem andar, sei exatamente como se sente alguém que não consegue caminhar e tudo isso causou uma verdadeira revolução da minha vida”, relembra.
As férias, que durariam 45 dias, se transformaram em um ano de tratamento intensivo e cirurgias para recuperar a perna atingida. “Estava longe da minha família, do meu pai, da minha mãe e do meu irmão, que são tudo para mim. Além disso, na época, não falava inglês, a sorte é que estava acompanhada de outras pessoas. Então, nessa situação, tinha dois caminhos a seguir: ou me lamentar pelo que estava acontecendo comigo ou entrar na dança da vida, sem desmoronar, porque se eu fizesse isso, iria desmoronar também a minha família que estava distante de mim”, conta.
A partir daí a estudante que já se considerava uma pessoa feliz, passou a viver tudo com muito mais intensidade. “Percebi que de uma hora para outra tudo pode acabar. Eu sobrevivi sem sequelas e hoje sou ainda mais feliz e procuro sempre expressar essa minha alegria, por onde passo”, diz.
Felicidade é...
Gabriela Maria Cardoso, 14 anos, estudante.
“Para mim, felicidade é poder ajudar aos outros, fazendo caridade e auxiliando aqueles que estão tristes. É também estar com os meus amigos e poder falar sobre Deus. Tenho muitos momentos felizes na minha vida e quando não estou feliz, tento ficar”.
Caren Santos, 29 anos, professora.
“Felicidade é poder estar com a minha família. Gosto de sair do trabalho poder ir na casa da minha avó, da minha mãe. Para mim, a felicidade é composta por momentos de alegria, que encontro estando com as pessoas da minha família. Mas também me sinto feliz quando viajo sozinha e tenho a possibilidade de me conhecer melhor”
Percilia Santos, 31 anos, técnica em enfermagem.
“Eu me sinto uma pessoa muito feliz, especialmente pela minha saúde e da minha família. Isso é fundamental para se sentir feliz. A felicidade depende muito de cada um, das nossas escolhas. Mas posso dizer que me sinto muito feliz”
Edilson da Silva, 45 anos, ambulante (também conhecido como palhaço Martelinho).
“Me sinto muito feliz por ter saúde e com o meu trabalho. Muita gente não consegue se sentir feliz com o que faz, mas eu me sinto. Gosto de poder viajar trabalhando pelo interior do Estado e até no Maranhão”
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