Uma advogada foi agredida, na tarde da última segunda-feira (3), por um vizinho em um prédio de alto padrão nos Jardins, bairro rico de São Paulo, após receber uma encomenda por engano.
Flavia Penido, de 51 anos, conta que chegou em sua casa um pacote que não era para ela, ao que interfonou avisando à portaria do prédio do equívoco. O destinatário real da encomenda, um rapaz de cerca de 18 anos identificado como João, bateu à porta de sua casa pouco depois exigindo que ela lhe entregasse o pacote, um aparelho de celular.
Penido diz que avisou ao rapaz que estava em uma reunião por telefone pelos 30 minutos seguintes e que, depois disso, deixaria o produto na portaria, para que ficasse registrado que ela não recebeu a encomenda -o prédio tem um sistema de protocolos de entregas, com os registros de recebimento.
"Ele estava me xingando. Terminei a reunião dois minutos depois, porque eu estava nervosa. Quando saí para ir à portaria, ele estava na porta de casa e começou a me agredir. Me chutou e eu caí no chão. Entrou dentro da minha casa, aos gritos de 'Me dá meu celular'. Eu gritei por socorro, uma vizinha ouviu, ele se assustou e saiu", conta ela.
Penido, então, desceu à portaria para entregar a encomenda a um funcionário do edifício, quando foi agredida outra vez pelo rapaz. Uma câmera de segurança registrou o momento em que o vizinho tenta tomar a encomenda da mão dela, fazendo com que ela caísse mais uma vez.
A advogada diz que foi ao 78º Distrito Policial (Jardins) registrar um boletim de ocorrência contra o agressor, por volta das 18h, mas só conseguiu fazer a queixa às 23h.
"Não sei o que foi pior, se foi o que passei dentro do meu prédio, na minha casa, ou se foi o que passei na delegacia", diz.
"Quando cheguei, já disseram que iria demorar muito. Eu disse que não tinha importância, porque precisava fazer o B.O. Tinha duas ou três pessoas só na delegacia e fizeram dois flagrantes num período de cinco horas, mas me deixaram esperando."
Ao ser atendida, ela diz que enfrentou resistência da delegada de plantão para registrar que o agressor havia invadido a casa dela e teve uma medida protetiva negada, mesmo argumentando que há um entendimento, por parte do Ministério Público, que agressões desse tipo sejam incluídas na lei Maria da Penha. "Em tom de desdém, sugeriram que eu que procurasse o Ministério Público, então."
"Foi tudo em alto nível de descaso, parecia que estavam fazendo um favor para mim. Você percebe aí o interesse em desencorajar o registro da ocorrência", diz a vítima.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de SP diz que a advogado foi atendida depois que a delegacia registrou outra ocorrência em flagrante, conforme dita resolução interna, "para permitir o retorno dos policiais ao patrulhamento".
Sobre a alegada resistência para registrar a invasão de domicílio, a nota diz que "a autoridade policial apontou as naturezas jurídicas compatíveis com os fatos narrados -lesão corporal dolosa e injúria- e concluiu o registro da ocorrência".
A pasta diz que a delegacia pediu exame de corpo de delito à vítima e a orientou a apresentar imagens de câmeras de segurança.
"A Corregedoria da Polícia Civil está à disposição da vítima para registrar denúncia sobre o atendimento prestado na delegacia", afirma a secretaria.
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