Antes mesmo da confirmação dos primeiros casos do novo coronavírus no Pará, alguns setores da economia já estavam receosos com o avanço da doença pelo mundo. Embora não arrisquem ainda a falar em números e percentuais, todos concordam que haverá perdas a curto, médio e longo prazo. O setor de hotéis, bares, restaurantes e similares deve ser imediatamente afetado, já que tiveram de fechar as portas por força de decreto governamental por pelo menos 15 dias, e está aceitando que os lucros dos próximos três feriados serão muito abaixo do previsto inicialmente.
O Sindicato de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares (SHBRS-PA) divulgou uma nota durante a semana informando que tem buscado dialogar com os associados sobre as medidas que estão sendo adotadas pelos estabelecimentos e se estes estão de acordo com o recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na tarde da última sexta-feira (20), o governador Helder Barbalho anunciou o fechamento de casas de shows, bares, lanchonetes e restaurantes desde a meia-noite de ontem, com ronda policial nas ruas para garantir o cumprimento do decreto.
“É um impacto muito significativo, especialmente para o interior, e que será seríssimo dependendo do desenrolar das coisas”, confirmou Fernando Soares, presidente da entidade. “Semana Santa, Dia do Trabalhador e Corpus Christi praticamente estão perdidos em termos de trabalho e renda, em especial nos balneários. Se essa crise se estender até meados de junho, acabaram férias de julho, e aí será dramático.”
O temor se explica pelo fato de boa parte dos negócios e dos trabalhadores garantirem o sustento de todo o ano com base na sazonalidade. “50% dos voos internacionais e 30% dos voos nacionais já foram cancelados e deve piorar. Tem os voos direto para os Estados Unidos, para Portugal, os cruzeiros. Essa é a época do ano em que a gente acaba gripando mais por causa do tempo chuvoso, então é claro que as pessoas não vão querer, por exemplo, passar a Páscoa em Salinas e se colocar em risco”, admitiu Fernando.
IMPREVISÍVEL
Até mesmo por se tratar de uma crise sem precedentes, ele explica que ainda não tem cálculos ou previsões numéricas relacionadas a possíveis prejuízos. “Não fazemos alarde, a gente precisa ter calma. Mas estamos cientes de que se isso não resolver no primeiro semestre, perdemos o Círio, que é a Mamãe Noel do nosso setor”, preocupa-se. Ele já está certo de que mesmo que a crise se resolva logo, a quadra nazarena não será vivida da mesma forma. “Não chegaremos a 80%, 90% do preenchimento das hospedagens”, presumiu.
No mesmo decreto de sexta-feira, o Governo determinou o fechamento dos shoppings centers a partir das 20h de sexta. Antes, na tarde de quinta-feira (19), o Sindicato do Comércio Varejista e dos Lojistas de Belém (Sindilojas) anunciou um termo aditivo ao acordo coletivo de trabalho, válido entre 20 de março e 30 de abril, prevendo, dentre outras mudanças, possibilidade de suspensão imediata do contrato de funcionários dos setores lojista e varejista por um período de dois a três meses com pagamento de 60% do salário base. Nesse hiato, o trabalhador participa de um curso ou programa de qualificação profissional a distância oferecida pelo empregador.
Antecipação de férias integrais ou parceladas também estão permitidas pelo documento, contanto que o colaborador seja avisado com pelo menos 72 horas de antecedência. Em casos de teletrabalho, não estão previstos reajustes salariais, apenas o retorno imediato do funcionário mediante solicitação do contratante. Para as lojas que continuarem em funcionamento, os horários estabelecidos são das 9h às 17h para lojas de rua e até oito horas diárias para shopping centers. A modificação reduz em uma hora diária a jornada de trabalho dos funcionários, e essas horas deverão ser compensadas em esquema de até 180 dias a ser determinado por cada estabelecimento a partir do fim da pandemia da Covid-19.
Por se tratar de um setor extremamente sensível o presidente do Sindicato do Comércio Varejista e dos Lojistas de Belém (Sindilojas), Joy Colares, confirmou estar fazendo uma coletânea de providências já tomadas em outras capitais no sentido de proteger ao máximo a categoria.
“Estamos negociando já com as três esferas governamentais a postergação do pagamento dos impostos. Que fique claro que ninguém quer redução ou isenção, mas temos um custo fixo de operação, principalmente por conta da folha salarial dos funcionários”, informou.
Desabastecimento está fora de cogitação, diz associação
Embora não seja difícil ouvir que os supermercados andam lotando porque já há quem esteja estocando comida, a Associação Paraense de Supermercados (Aspas) afirma que o Estado não corre riscos de desabastecimento.
“As pessoas precisam ficar tranquilas e não precisam adquirir nada em quantidades além do normal. Não há necessidade de pânico, tudo continuará ocorrendo de forma normal”, amenizou o presidente Jorge Portugal. Apesar da corrida pelo álcool em gel, ele garante que só esta semana cinco fábricas reabasteceram os estoques em todo o Pará.
“Poderemos nos preocupar se as indústrias pararem, mas mesmo assim estamos vendo toda uma ação de prevenção. Ainda que as coisas parem por uma, duas semanas, não é suficiente para desabastecer os supermercados. Recomendamos que todos façam suas compra normalmente”, orientou.
Demissões e férias coletivas estão dentro das novas projeções
Para a Federação das Indústrias do Pará (Fiepa) não é exagero considerar a possibilidade de demissões diante de um mercado estagnado. O presidente José Conrado Santos garante que acompanha atento o cenário nacional e que estimula o setor a adotar as orientações das autoridades de saúde, inclusive a suspensão temporária de eventos e reuniões e viagens a trabalho.
“Ainda é muito cedo para avaliarmos o impacto financeiro dos efeitos do coronavírus na indústria paraense, pois isso varia de acordo com o tipo de negócio e o número de dias parados. O que podemos dizer no momento é que, com as informações que chegam, hoje o mercado já começou a ficar parado, especialmente porque aqui temos uma característica de pequenas e médias indústrias que dependem de insumo importado. O preço da matéria-prima acompanha o valor do dólar, o que torna mais difícil a situação das empresas.”
Como outros estados já começam a acordar férias coletivas, o Pará pode fazer o mesmo. “Não temos dúvidas de que com a paralisação do mercado, tanto lá quanto aqui existe a possibilidade de, posteriormente, haver demissões, em decorrência do não crescimento neste período. É uma situação que estamos analisando com cuidado, mas que já deixa muitos empresários do setor industrial preocupados”, reconheceu.
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