O sorriso é a estratégia que Doralice usa para tentar atrair a atenção das pessoas que passam por ela todos os dias na avenida Presidente Vargas, no centro de Belém. Ela não está sozinha. Tem um casal de filhos pequenos. A criança menor ainda está no colo. Se chove, usam um papelão para se proteger. Natural de São Paulo (SP), a mulher vive numa calçada. É extrovertida, mas não diz a idade, nem o sobrenome ou qualquer outro dado pessoal. Consegue se alimentar graças ao que recebe da venda de artesanato de miçanga ou com a esmola que ganha. “A prioridade é conseguir o leite deles”, diz, olhando para as crianças.
Um pouco mais na frente, uma senhora idosa cochila na calçada ao lado de papelões e de uma vasilha de manteiga, que continha restos de comida. Poderia ter sido o almoço dela. Outro recipiente estava na sua frente. Não dava para dizer para o que servia, o mais provável é que aquele vasilhame seria o local para que alguém pudesse colocar algum dinheiro para a idosa.
Por cerca de 20 minutos a reportagem ficou próximo a ela, observando a reação dos transeuntes ao olharem para a senhora. Algumas pessoas se afastavam. Poucas expressavam um olhar mais sensível. “Maria” é o nome pelo qual alguns lojistas a chamam, mas não sabem se é este é o seu nome verdadeiro.
Assim como Doralice e Maria, outras dezenas de homens e mulheres também estão em situação de rua na capital paraense. Não existe uma estatística exata que indique quantas pessoas estão nessa condição, sem moradia, na cidade. Elas ficam pelas praças, ruas do centro comercial e pedindo esmolas nos semáforos de trânsito e até dentro do transporte coletivo.
Doralice não sabe sequer que o mundo enfrenta a pandemia do novo coronavírus. “Eu ouço as pessoas por aqui tirarem brincadeira com esse tal de coronavírus, mas não sei muito sobre isso. Me pego com Deus para me proteger”, disse Doralice.
HÁBITOS
A principal forma de evitar a contaminação inclui, sobretudo, hábitos de higiene, como a lavagem das mãos. No caso destas pessoas em situação de rua - que sentam, deitam, comem, dormem numa calçada suja – não tem como as mãos permanecerem limpas. Pelo contrário, estão vulneráveis a várias doenças.
Em um tempo em que manter o isolamento domiciliar é o mais recomendável para garantir a saúde, estas pessoas em situação de rua não estão dentro de uma casa para se proteger.
Em nenhum momento, Doralice, por exemplo, citou ter recebido apoio do poder público municipal. Mas a Prefeitura de Belém, por meio da Fundação Papa João XXIII, informou que atende pessoas em situação de rua nos Centros de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (o Centro Pop), onde oferece café da manhã, almoço e higienização.
A Funpapa afirma que “durante o tempo de quarentena não haverá inclusão de novos usuários dentro dos abrigos” municipais. A Fundação justifica que a medida prevê resguardar as pessoas que já estão acolhidas no espaço. Ou seja, a Doralice, por exemplo, deve continuar morando na calçada, da Presidente Vargas.
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