Quando o primeiro caso de Covid-19 foi diagnosticado fora da China, país onde ocorreu o primeiro registro da doença ainda em 2019, a relação entre o deslocamento de passageiros e a ocorrência da infecção pelo novo coronavírus começou a ser monitorada. Com casos da doença distribuídos em mais de 150 países, porém, a relação entre o vírus e a ocorrência de viagens se torna cada vez menos determinante.
Com o vírus já registrado em todos os estados brasileiros, qualquer pessoa, mesmo que não tenha viajado recentemente, pode correr o risco de contrair a doença, daí as recomendações de distanciamento social. Mas para quem é obrigado a dividir um único cômodo com várias pessoas, como ficam as medidas preventivas?
Segundo levantamento realizado pela Fundação João Pinheiro (FJP), com base nos dados mais recentes das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNAD), a Região Metropolitana de Belém (RMB) possui 31,7 mil residências próprias com mais de três moradores dividindo um único dormitório. Em imóveis alugados, o número de residências que enfrentam o chamado adensamento excessivo chega a 5,8 mil. São pessoas que, mesmo se mantendo dentro de casa, não têm como evitar a proximidade entre si.
Da casa de um cômodo localizada na avenida Perimetral, em Belém, a aposentada Adelaide Conceição Rodrigues, 78 anos, acompanha as notícias sobre o aumento do número de casos do novo coronavírus. Junto com ela moram também a filha, a autônoma Socorro Rodrigues, 56 anos, e o neto Edgar Rodrigues, 36 anos. Sem que seja possível dividir o imóvel em diferentes cômodos, os três são obrigados a conviver com a proximidade diariamente. “Com fé em Deus esse problema já vai acabar”, espera Adelaide.
Buscando seguir ao máximo as recomendações das autoridades de saúde, Adelaide conta que a família tem se mantido a maior parte do tempo em casa. Mesmo contrariada, ela mesma já não vai mais à feira e não circula pelo bairro. Quando há a necessidade de abastecer a casa com algum produto, quem sai às ruas é a filha Socorro, já que Edgar se recupera de um acidente de trânsito.
MÃOS
A cada chegada em casa, as mãos são lavadas com água e sabão. “A gente fica preocupada porque não é fácil. A gente recorre a água e sabão para lavar as mãos, água sanitária para limpar a casa”, conta Socorro, que precisou deixar de trabalhar diante da ausência de clientes na banca de venda de coco que mantém. “Nós vamos equilibrando. Os irmãos da igreja têm ajudado com cesta básica... Deus tem provido a nossa casa”.
Também na casa do aposentado Benedito Pinto, 72 anos, as medidas de combate ao novo coronavírus vêm de desenrolando na medida do possível. Instalada à margem do canal do Tucunduba, no bairro da Terra Firme, a casa de madeira de apenas um cômodo abriga cinco pessoas, além do idoso. “Não dá para ficar muito afastado”, conta, ao reconhecer que, apesar disso, a rotina já precisou ser alterada. “Já não dá mais para ir no comércio. Acho ruim, mas a gente vai levando a vida”.
Recomendação é redobrar os cuidados com a higiene
Apesar de incômoda para muitos idosos, as medidas como as que promovem a maior permanência dentro de casa são necessárias para se tentar conter as consequências da pandemia do novo coronavírus, mesmo para quem, assim como Adelaide e Benedito, precisa dividir um espaço reduzido com um número maior de pessoas. Para todos, vale a mesma recomendação: redobrar os cuidados com a higiene.
Médica infectologista, Deborah Crespo aconselha que as famílias busquem identificar, primeiramente, quem dos indivíduos que vive na residência demanda maior atenção. “Em uma casa com várias pessoas que antes saíam para o trabalho e que agora estão permanecendo mais tempo em casa, há idosos, há pessoas portadoras de doenças crônicas? Dentro da minha residência, quais são as pessoas mais vulneráveis?”, questiona. “Se eu tenho idosos e pessoas com doenças crônicas eu tenho que, realmente, redobrar mais do que nunca os cuidados com a higiene”.
Dentre as medidas, a médica aconselha que, se houver a possibilidade, as pessoas deixem os sapatos na entrada de casa, evitando circular com os mesmos dentro da residência. Caso não seja possível, uma saída pode ser deixar um pano com água sanitária na entrada para que se possa realizar a higienização do calçado antes que se adentre o imóvel. Uma vez dentro de casa, a primeira medida a ser tomada deve ser a lavagem das mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos.
ESPAÇO
Caso a residência só disponha de um banheiro, mais uma vez deve-se intensificar a higienização do espaço. “Se for possível, é melhor investir em uma toalha de papel ou papel higiênico. Se não houver como abrir mão da toalhinha, deve-se lavar com frequência”.
No caso de algum morador apresentar sintomas de gripe ou infecção respiratória e na casa houver idosos ou pessoas com doenças crônicas, se a pessoa doente puder ir passar esse período na casa de outro familiar, que o faça. Se não houver essa possibilidade, a recomendação é para que a pessoa doente não fique circulando pela casa. “O ideal é se manter em uma área onde seja possível manter a janela aberta e evitar ao máximo o contato direto com as outras pessoas, lavar sempre as mãos”, orienta. “Solução não tem, se não partir de cada um esse compromisso dentro do seu possível”.
75.534: residências próprias urbanas do Pará estão em condição de adensamento excessivo (número médio de moradores superior a três pessoas por dormitório).
14.364: estão nesta condição, no Estado, dentre os imóveis alugados.
Fonte: Pesquisa “Déficit Habitacional no Brasil”, da Fundação João Pinheiro (FJP), com base nos dados oficiais mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar