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INICIATIVAS

Histórias de investimento na educação de qualidade e transformação social

Nesta primeira matéria da série do DIÁRIO, conheça histórias de pessoas que investem na educação de qualidade como instrumento de transformação social e de ingresso ao ensino superior

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Imagem ilustrativa da notícia Histórias de investimento na educação de qualidade e transformação social camera Vinícius Ruan Neves dos Santos | Wagner Santana

No momento em que Joana Vieira se viu praticamente sem saída, o caminho encontrado foi o da educação. Aos 21 anos, reformulou a própria vida a partir do momento em que se viu aprovada em seis processos seletivos para ingresso no ensino superior. A professora de língua portuguesa e redação, hoje, oferece a chance a outros jovens, assim como ela, modificarem a sua realidade a partir do conhecimento.

Na nova série ‘Pará que Orgulha e Transforma’, o DIÁRIO traz exemplos de indivíduos e comunidades que tomam para si a missão de desenvolver iniciativas voltadas para melhorar a vida das pessoas. Nesta primeira matéria, o foco é a educação de qualidade.

Ainda universitária, ela deu início à jornada como educadora. Logo montou o Curso de Redação Professora Joana Vieira. E fez uma promessa, compromisso que hoje já gera frutos. “Eu fiz o cálculo e identifiquei que se eu conseguisse matricular 200 alunos no meu curso, eu teria o equivalente ao que eu ganhava quando dava aula nas escolas”, recorda. “Então eu fiz uma promessa. Se eu alcançasse esse número, eu abriria uma turma gratuita para alunos em situação de vulnerabilidade social. Dois meses depois da promessa, eu tinha 600 alunos matriculados”.

À turma que oportunizaria o acesso ao ensino, Joana deu o nome do pai, Feliciano Vieira. Para que pudesse ter acesso a mesma estrutura dos alunos pagantes, os inscritos na turma gratuita precisariam atender a alguns critérios, dentre eles serem oriundos da escola pública e estarem inscritos em algum projeto de assistência social do governo. “A prova de seleção é feita pelos pais, que narram a história do filho e nos motiva a dar a bolsa”.

No total, 90 alunos foram inscritos na turma gratuita, onde puderam, ao longo do ano, não apenas ter acesso ao ensino de qualidade, como trabalhar a motivação e a consciência de que, a exemplo da própria professora, eles também poderiam alcançar seus objetivos. Como resultado, 90% dos alunos da Feliciano Vieira alcançaram a aprovação. “É como ver um filho passar no vestibular”.

A emoção sentida pela professora transparece nos olhares de Édson Monteiro, Emily Tayná, Geovanna Chaves, Jennifer Assunção, Laís Calandrini, Larissa Vitória, para citar alguns dos alunos da Feliciano Vieira. Estes, aprovados em universidades públicas.

Cenários

A nova turma de alunos selecionados para iniciar o Curso de Redação Professora Joana Vieira na classe composta por alunos que não pagam mensalidade, estava prevista para iniciar no dia 20 de março. Ao todo, 57 jovens em situação de vulnerabilidade econômica e social foram aprovados para a turma. Mas o cenário de pandemia obrigou a uma mudança. “Eles foram notificados que voltaríamos após a pandemia, mas com o prolongamento do isolamento social, reformulamos o nosso calendário, adquirimos uma plataforma para aulas on-line ao vivo, onde estamos com apresentação e discussões de temáticas, além de correções. O problema agora é que boa parte dos alunos da turma gratuita não tem condições de acessar as aulas, por não ter as ferramentas básicas necessárias, como um celular com internet apto a baixar aplicativos e materiais”.

Dos 57 aprovados, 25 conseguiram migrar para a plataforma do curso. O restante não possui nem um número de celular. A solução parcial tem sido disponibilizar conteúdos via WhatsApp para aqueles que têm acesso minimamente a essa ferramenta. “Estou gravando pequenos vídeos no Instagram e disponibilizando a eles, mas mesmo assim ainda temos uma parcela que nem a esse conteúdo consegue ter acesso”.

Benefício

Calouro do curso de agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia, Edson Monteiro, 28, já sente os efeitos proporcionados pela oportunidade. Teve na nota da redação o melhor desempenho no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). “Passei 10 anos sem estudar, mas em 2018, depois que eu sofri algumas complicações de saúde, decidi voltar e tive a oportunidade no curso”, lembra.

Série

Além das iniciativas em prol da educação, o ‘Pará que Orgulha e Transforma’ abordará outros exemplos de agentes transformadores. Ao longo das próximas matérias, será possível conhecer soluções criadas para transformar a vida da sociedade no que diz respeito ao combate à fome e ao fortalecimento de uma agricultura sustentável; ao uso consciente da água potável e ações de saneamento; à promoção de uma energia limpa e acessível; ao campo da indústria, da inovação e da infraestrutura; ao que se refere ao consumo e a produção responsáveis; e à promoção de cidades e comunidades sustentáveis.

O poder transformador das ações coletivas

Professora Regina Silva
📷 Professora Regina Silva |Wagner Santana

A capacidade do aluno conquistar o acesso ao ensino superior é o foco do Curso Popular Terra Firme Livre. A ideia de montar um curso preparatório para o Enem gratuito surgiu de uma vontade coletiva. Durante uma manifestação dos estudantes para pedir melhorias no ensino público, em 2016, os jovens tiveram a iniciativa de planejar um curso popular que pudesse atender aos alunos egressos do ensino médio.

O projeto foi abraçado pelos professores e colocado em prática em 2017. Hoje, o TF Livre comemora o acesso de cinco dos seus alunos ao ensino superior. Coordenadora do curso, a professora Regina Silva, 56, é uma das agentes dessa transformação. “O nosso maior trunfo, a maior satisfação, é ver que a comunidade ao entorno faz toda uma rede de apoio”, considera. “Os equipamentos que usamos no curso foram todos frutos de vaquinha eletrônica”, disse, na ocasião (antes da pandemia).

O fato de o curso funcionar no bairro da Terra Firme não é à toa. Regina explica que a maioria dos alunos são moradores do bairro. “Todos os alunos são egressos da escola pública, então eles vêm para o curso com outra perspectiva. Querem mudar a sua própria vida, mas também do território onde moram”.

O compromisso social com o bairro onde nasceram e foram criados também é destacado pelo professor de artes Humberto Jardel, 37. Professor da rede pública, ele abraçou o projeto do TF Livre e, ao lado dos demais professores do curso popular, disponibiliza seu tempo e conhecimento em prol de possibilitar uma oportunidade aos jovens. “A gente trabalha com sonhos e futuros que vão sendo modificados e garantidos”.

Adaptação

Mas, desde o mês passado, quando a pandemia causada pelo novo coronavírus chegou ao Pará, o curso precisou se adaptar. “Como as aulas ocorriam em uma escola municipal, que está fechada, passamos a trabalhar em uma plataforma pelo WhatsAApp, com materiais didáticos on-line e com os professores se dividindo em turnos para passar conteúdos e responder as dúvidas dos estudantes, além de corrigir redações”.

Mas nem todos os alunos têm oportunidade de acessar esse novo formato. “Alguns não têm nem celular com android, por isso estamos conseguindo atender dessa forma cerca de 60% dos estudantes. E para que os outros 40% não fiquem sem ter como estudar, estamos disponibilizando material em xerox”, detalha.

Como a maioria dos estudantes é composta por trabalhadores ambulantes e pelos filhos deles, a pandemia impôs um outro desafio: vencer a fome, já que muitos estão sem conseguir trabalhar. “Através das nossas redes sociais estamos arrecadando ajuda para comprar cestas básicas que são destinadas aos alunos e as famílias deles. Esta semana conseguimos entregar 80, que são compradas e organizadas pelos próprios professores, a partir do valor arrecadado. A nossa ideia é que a cada 15 dias possamos estar entregando essas cestas”.

Realização

Aprovado em 1º lugar no curso de matemática vespertino da Universidade do Estado do Pará e em odontologia na Universidade Federal do Pará (UFPA) em 2019, Vinícius Ruan Neves dos Santos, 20, é fruto do sonho coletivo traçado pelo TF Livre. Mais do que realizar o feito de ingressar no ensino superior, o acadêmico de odontologia tem a oportunidade de contribuir com a realização de outros alunos. “Eu tinha encerrado o ensino médio e ficaria caro para a minha família pagar um curso e mais a passagem para ir para as aulas. Quando eu soube que tinha um curso gratuito aqui no meu bairro, me inscrevi”, considera, ao contar que neste ano ele retornou ao curso, mas agora como ministrante de uma das disciplinas.

Vinícius Ruan Neves dos Santos
📷 Vinícius Ruan Neves dos Santos |Wagner Santana
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