Desde o início do mês, quando foi anunciado o pagamento do auxílio emergencial no valor de R$ 600 para pessoas em situação de vulnerabilidade econômica por conta da pandemia causada pelo novo coronavírus, uma cena se tornou comum. É a imagem das filas formadas em frente às agências da Caixa Econômica Federal de todo o país. Nelas, encontram-se milhares de pessoas que guardam a esperança de receber uma ajuda nestes tempos tão difíceis.
Essa é a situação da dona de casa Maria Eunice Silva e do pedreiro e mototaxista Carlos Santos. Juntos há pouco mais de 10 anos, eles vivem no distrito de Mosqueiro, distante cerca de 70 quilômetros da capital. E foi lá que ambos começaram a busca pelo auxílio.
Eunice é beneficiária do Bolsa Família, mas depois de se dirigir várias vezes às casas lotéricas em busca de informações sobre o auxílio emergencial, já que a ilha não possui agência da Caixa, sem sucesso, decidiu se encaminhar para uma agência em Belém. “As lotéricas estão lotadas e com o atendimento reduzido em Mosqueiro. É um sufoco para conseguir informações”, contou.
Já Carlos, que vivia de bicos como pedreiro e mototaxista, também tem direito ao auxílio, mas, assim com Maria Eunice, não conseguiu resolver a questão nas lotéricas do distrito e nem por meio do site do banco.
Em busca de informações sobre a situação de ambos, eles saíram no distrito de Mosqueiro antes do dia clarear e na moto de Carlos seguiram para Belém. “É tudo muito complicado porque não está fácil sair e entrar em Mosqueiro. Precisamos sempre comprovar que somos moradores da ilha. Também temos medo (da contaminação). Viemos de moto para tentar chegar mais cedo porque as linhas de ônibus não estão regular”, contou a dona de casa.
FILA
Ao chegarem em frente à agência da Caixa localizada no bairro de São Brás, na capital, pouco depois das 6h, já se depararam com uma fila que chegava na metade do quarteirão e ia crescendo rapidamente. “Acho muito ruim ficar aqui assim, o atendimento só vai começar às 10h. Que horas vamos conseguir sair daqui e chegar de volta em casa? Ficamos aqui com fome, sede, vontade de ir ao banheiro, no sol, e com medo da aglomeração e, mesmo assim, não sabemos nem se vamos ter o problema resolvido”, ressaltou Eunice, enfatizando que o dinheiro vai ajudar na compra de comida e a pagar contas básicas como água e luz.
Carlos lembrou que os bicos como pedreiro cessaram desde o início da pandemia e que está com medo de trabalhar como mototaxista. “Acho muito arriscado carregar uma pessoa na moto que vai ficar tão perto da gente, por conta desse problema do vírus”, disse.
Ao lado do casal, na fila organizada no outro lado da rua da agência, apenas para fugir do sol, estava o ajudante de pedreiro José Nilton Oliveira. Morador do bairro da Terra Firme, ele conta que saiu da casa onde mora com a esposa, que está grávida de seis meses, antes das 7h, mas só conseguiu chegar ao banco pouco depois das 8h. “Demorei porque hoje não tinha nem o dinheiro do ônibus. Tive que vir a pé. A situação está muito difícil”, definiu.
Antes de se dirigir ao banco para colher informações sobre o auxílio emergencial, José tentou algumas vezes, com a ajuda de vizinhos, acessar o site e o aplicativo da Caixa, sem sucesso. “Meu CPF está totalmente regular, mas toda vez que digito não consigo ter informações e o próprio site me manda procurar uma agência do banco. Não queria estar aqui, mas não tive outra saída para garantir a minha sobrevivência e a da minha esposa nesses próximos meses, porque agora não estou mais conseguindo trabalho nenhum”, disse. O auxílio, segundo ele, vai ajudar na compra de comida e em despesas como luz e aluguel.
BUSCA
A equipe de reportagem percorreu várias agências da Caixa localizadas na capital. E em todas elas viu a mesma cena: filas e pessoas aflitas em busca de informações sobre o auxílio.
Nas agências da Caixa das avenidas Padre Eutíquio, José Bonifácio e Presidente Vargas, em frente à Praça da República, apesar das filas menores, a aglomeração de pessoas próximas aos caixas eletrônicos era intensa. Em algumas foi preciso que funcionários da Caixa usassem megafones para explicar como estava o atendimento, já que muitos tentavam receber o auxílio, enquanto outros ainda não haviam conseguido nem se cadastrar e tirar dúvidas sobre o benefício.
Esse era o caso de Elizete Santos, moradora de uma vila localizada no município de Barcarena, distante pouco mais de 100 km de Belém, vindo pela Alça Viária. Ela saiu de casa pouco antes das 6h deixando os três filhos, de 14, 10 e 2 anos, para buscar informações sobre o auxílio emergencial e se dirigiu a agência da Caixa localizada no início da Presidente Vargas. “Tive que deixar meus filhos na casa de vizinhos porque tentei resolver o meu problema de todas as formas lá, mas não consegui. Só tem um lugar para resolver lá e está lotado, além de ser muito distante de onde moro e não ter transporte”, disse.
“Vi na televisão que no caso de mulheres, chefes de família como eu, que vivo sozinha com meus três filhos, teriam direito a R$ 1.200, o dobro do valor”, disse.
As dúvidas de Elizete eram muitas e mesmo depois de mais de duas horas na fila, ela ainda aguardava para tentar resolvê-las. “A informação que me passaram é que os beneficiários do Bolsa receberiam o auxílio automaticamente, sem precisar fazer inscrição, mas isso não aconteceu comigo”, contou.
Para ela, o valor do auxílio ajudaria nas despesas básicas com os filhos, principalmente na compra de alimentos para a família.
Auxílio emergencial
De acordo com informações contidas no site da Caixa (http://www.caixa.gov.br/auxilio/PAGINAS/DEFAULT2.ASPX), o auxílio emergencial é um benefício financeiro destinado aos trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados, e tem por objetivo fornecer proteção emergencial no período de enfrentamento à crise causada pela pandemia do coronavírus.
Pode solicitar o benefício o cidadão maior de 18 que atenda aos seguintes requisitos: esteja desempregado ou exerça atividade na condição de: microempreendedores individuais (MEI); contribuinte individual da Previdência Social; trabalhador Informal e que nesses casos, pertença à família cuja renda mensal por pessoa não ultrapasse meio salário mínimo (R$ 522,50), ou cuja renda familiar total seja de até 3 (três) salários mínimos (R$ 3.135,00).
Por outro lado, segundo informações da Caixa, não tem direito ao auxílio aqueles que tenham emprego formal ativo; pertençam à família com renda superior a três salários mínimos (R$ 3.135,00) ou cuja renda mensal por pessoa seja maior que meio salário mínimo (R$ 522,50); esteja recebendo Seguro Desemprego; esteja recebendo benefícios previdenciários, assistenciais ou benefício de transferência de renda federal, com exceção do Bolsa Família; recebeu rendimentos tributáveis acima do teto de R$ 28.559.70 em 2018, de acordo com declaração do Imposto de Renda.
Para receber o auxílio, desde que atenda às regras, quem já está cadastrado no Cadastro Único (CadÚnico), ou recebe o benefício Bolsa Família, receberá o benefício automaticamente, sem precisar se cadastrar.
Já as pessoas que não estão cadastradas no Cadastro Único, mas que têm direito ao auxílio, poderão se cadastrar no aplicativo ou site do auxílio emergencial. O cadastro passa por análise e o resultado da solicitação poderá ser acompanhado pelo próprio aplicativo Auxílio Emergencial.
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar