Aos 57 anos, o vendedor ambulante João Francisco Ferreira precisou parar de trabalhar por cerca de um mês, período em que adoeceu, coincidindo com o decreto de lockdown, que suspendeu todos os serviços não essenciais e restringiu a circulação de pessoas em dez municípios paraenses, incluindo a capital. Ele, que mora em Ananindeua, com uma filha e três netos, acredita que tenha sido acometido com o novo coronavírus.
João exerce a atividade há 40 anos na Avenida Pedro Miranda, no bairro da Pedreira. Mas ele afirma que a pandemia prejudicou o seu trabalho e a renda diminuiu. “Quando a gente vinha trabalhar a prefeitura mandava tirar. A gente não consegue trabalhar direto, porque não estão deixando. Recebi a segunda parcela do auxílio (do governo federal), mas não chega nem na metade do mês. Só a carne está custando R$ 35,00 o quilo”, disse o homem, que comercializa frutas na calçada da via e já voltou para o local.
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É com a renda do serviço que o trabalhador ajuda a filha a sustentar os três netos. Ele demonstra preocupação com a possibilidade de ocorrer um novo lockdown na cidade, devido aos baixos índices de isolamento social registrados pelas autoridades. “Fiquei três semanas doente. Sentia um calor constante, tomei remédio pra febre, tinha pigarro na garganta, cansaço e dor na cabeça. Minha filha também adoeceu”, comentou.
NECESSIDADE
Mesmo durante o lockdown, o casal de vendedores ambulantes, que também atua na Pedro Miranda, Jocineide Lima, 53, e Josué de Souza, 38, deu um jeito de continuar trabalhando para garantir o sustento da família. Eles possuem uma barraca onde vendem produtos naturais e utilidades para o dia a dia. Mãe de dois filhos, um adolescente de 14 anos e um jovem de 20, Jocineide trabalha no ramo informal há mais de dez anos. “A gente precisa trabalhar pra pagar energia cara, aluguel, criar os filhos. Não tinha como ficar parado. Em casa, todos nós adoecemos. Meu esposo só teve perda de olfato e paladar. Eu tive dor de cabeça, febre e mal-estar”, contou ela, acrescentando que ambos receberam o auxílio emergencial e foi o que tem ajudado a pagar as contas neste período.
“A gente entende que o isolamento abala o lado psicológico da pessoa, por ficar muito tempo em casa. Mas se não tem necessidade, não é pra sair. O comércio está cheio. Não sei se é falta de criatividade ou de consciência”, disse Jocineide. O casal concorda sobre a necessidade de as pessoas manterem-se em casa. “É essa questão que o governo está vendo, que a porcentagem do isolamento está caindo. Pra gente é ruim se voltar o isolamento, porque vamos ter que parar”, analisou Josué.
Pela idade, a vendedora ambulante Rosa da Silva, 62, pertence ao grupo de risco para o novo coronavírus. Mas diante da necessidade de garantir o sustento, ela sai de casa todos os dias para trabalhar. Moradora do bairro do Bengui, a mulher trabalha há mais de 20 anos na Avenida Presidente Vargas, onde vende bombons, salgadinhos, refrigerantes, entre outros produtos.
Com o esposo internado com problemas cardíacos, Rosa lamenta não ter conseguido receber o auxílio emergencial. “Essa á a minha única fonte de renda. Moro com esposo, filhos e netos. A gente ouve falar que pode voltar o lockdown. Tento me prevenir usando álcool em gel e máscara. Acho errado quem sai com a família toda pra passear”, relatou Rosa.
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