Edmilson Rodrigues herdará uma cidade com problemas estruturais e endividada, dividida politicamente, tendo pela frente o inverno amazônico e a ameaça de uma segunda onda da Covid-19. Problemas como fome, desemprego e informalidade; analfabetismo; problemas na atenção básica em saúde; déficit habitacional; falta de saneamento foram sentidos fortemente nos 8 anos de gestões de Zenaldo Coutinho devido à falta de políticas públicas e incapacidade administrativa do governo do PSDB, que não soube aproveitar os investimentos do Governo Federal.

“Temos exemplos evidentes, como o aumento da mendicância; dos alagamentos e das chacinas; as obras atrasadas das UBS’s e UPA’s que fizeram muita falta no enfrentamento da pandemia; caos no trânsito; cidade suja; além da perda de recursos para as creches, relegando as crianças de 0 a 4 anos e suas mães ao abandono”, destaca André Farias, professor da área de Desenvolvimento Socioambiental do Núcleo de Meio Ambiente (Numa) da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Para ele, o primeiro e mais urgente problema para o próximo prefeito resolver será o combate a fome. “O saldo dos governos do PSDB e seus aliados em termos de desemprego e informalidade deixa uma Belém miserável, estampada em crianças pedintes em semáforos, jovens dependentes de drogas e aliciados pelo tráfico e homens e mulheres abandonados à própria sorte nas praças e logradouros públicos”, lamenta.

PROGRAMA

Um programa sério e estruturado de renda mínima, aliado com capacitação, microcrédito e criação de vagas formais de emprego pode amenizar essa situação. “Não há combate eficaz à violência que não comece pela diminuição das desigualdades sociais. É necessário e emergencial”.

Farias classifica a gestão de resíduos sólidos como uma verdadeira “bomba ambiental”. “Temos que nos preparar para cenas de ruas e canais abarrotados de lixo e entulho, o que levará ao agravamento dos casos de dengue e chikungunya na capital”, diz. Em maio de 2021 vence o prazo para a desativação do aterro sanitário de Marituba, que recebe o lixo produzido em Belém, uma preocupação a mais para o novo gestor.

No que se refere a mobilidade urbana, André analisa que o imbróglio do BRT é um nó difícil de desatar. “São problemas técnicos e financeiros complexos e envolverão capacidade de gestão para aliar gestão pública e concessão”, destaca. “As propostas de transporte intermodal atendendo as ilhas e um trânsito melhor e mais humanizado será uma busca constante”.

Em termos socioambientais, proteção e conservação de áreas verdes, arborização e saneamento, em particular tratamento de água e esgoto, a próxima gestão terá muito trabalho a fazer. “Belém perdeu porções significativas de cobertura vegetal, tem um déficit crescente de água potável e esgoto tratado e o tal novo marco do saneamento empurra a gestão para a iniciativa privada, sem a garantia de melhores serviços e preços justos”, diz.

“Será necessária muita experiência e capacidade de gestão e envolvimento da população para uma Belém Sustentável. Projetos como Educação Ambiental, Coleta Seletiva, plano de arborização, limpeza e renaturalização de rios e canais são urgentes”.

Pacto social

André Farias diz que o próximo gestor receberá uma cidade “dividida pelo ódio e mentiras espalhadas pela disputa eleitoral e incentivada pelo bolsonarismo, crenças retrógradas e espíritos neofascistas”. Segundo ele, será preciso refazer o pacto social de convivência pela paz e solidariedade. Governar para todos os bairros, ilhas e pessoas, independentemente de suas escolhas políticas, crenças religiosas, cor, orientação sexual e idade. “Haverá necessidade de ampla participação popular para enfrentarmos nossas diferenças no território da democracia”.

O que o novo prefeito deve priorizar, segundo eleitores

A definição de um novo gestor para administrar a Prefeitura Municipal de Belém traz, com ela, a expectativa por melhorias para a capital paraense. Para muitos eleitores, os desafios a serem enfrentados pelo novo prefeito são muitos e passam, sobretudo, pela saúde e pelo saneamento.

Arquimedes Farias
📷 Arquimedes Farias |Wagner Santana

O operário da construção civil Arquimedes Farias, 51 anos, acredita que a principal urgência de Belém está relacionada à saúde. Ele considera que a pandemia gerou um estado de caos na cidade, mas avalia que mesmo antes da chegada do novo coronavírus, a situação da saúde já demandava maior atenção.

“A saúde é o principal. Quando começou a pandemia foi o caos, mas também antes da pandemia as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) já viviam lotadas”, considera. “Sempre a saúde é a última questão a ser considerada pelos governantes, mas para o povo é o mais importante”.

Ana Almeida
📷 Ana Almeida |Wagner Santana

Já para a costureira Ana Almeida da Silva, 66, a partir do dia primeiro de janeiro o novo prefeito terá que ter como prioridade a geração de emprego. Além dela, a demanda é por melhorias em saneamento. “Tem muita gente desempregada e precisando trabalhar, então em primeiro lugar deve ser o emprego”, avalia. “O outro ponto fundamental são esses alagamentos que ninguém aguenta mais, principalmente quem vive na baixada, que tem suas casas alagadas”.

Para a eleitora, a situação do saneamento em Belém chegou a condições críticas em decorrência de anos de desatenção. “Nos últimos anos não vimos a Prefeitura fazer nada demais por Belém ou pelo saneamento. Acho que ficou faltando fazer muita coisa e é justamente por isso que o próximo que entrar vai ter que dar uma atenção melhor para esses alagamentos que ninguém aguenta mais”.

SANEAMENTO

📷 Edmilson Cruz |Wagner Santana

Morador do bairro do Curió-Utinga, o comerciante Edmilson Cruz, 63, também aponta o saneamento como uma urgência da cidade. Ele conta que é natural de São Luís, no Maranhão, mas que mora em Belém há 23 anos e que na última década tem acompanhado uma piorano saneamento da cidade.

“Eu lembro que quando cheguei a Belém, há 23 anos, o meu bairro nem tinha asfalto e naquela época tudo foi asfaltado, as pessoas saíram da lama. Agora, com o abandono, já estamos precisando disso de novo. O atual prefeito só se preocupou em renovar o asfalto onde já tinha e nas áreas centrais da cidade”, avaliava, ao falar sobre o que espera do novo gestor municipal. “Eu espero uma gestão experiente e que olhe novamente para a periferia. Quando se trata da gestão de uma cidade, o conhecimento e a experiência contam muito”.

📷 Rony Andrade |Wagner Santana

Da mesma forma, o funcionário público Rony Andrade, 50, é incisivo quanto ao que deve ser priorizada em Belém nos próximos anos. “A melhoria principal é o saneamento, que a cidade urge. O adensamento populacional e de moradias improvisadas, a questão do lixo levam ao aumento da demanda por melhorias nosaneamento”, considera.

“Se tem falta de saneamento, tem prejuízo para a cidade como um todo. O fluxo de veículos fica prejudicado, há uma perda de qualidade de vida para a população, o lixo vai parar nas nossas águas, a saúde é comprometida, enfim. A cidade para em período de chuva e não pode ser assim”.

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