Dos 38 pirarucus colocados no lago central da Praça da Batista Campos, em abril de 2019, restam apenas 4. Os peixes do local, com peso médio de 35 a 40 quilos, foram levados sumariamente ao longo do ano e, na madrugada do último final de semana, cerca de 20 foram roubados, sem que ninguém pudesse fazer nada, já que não há guardas municipais no logradouro nesse horário.
A espécie chegou à praça por meio de uma ação resultado da parceria entre o Grupo Reicon, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e da Associação Amigos da Praça Batista Campos (AAPBC). “Nosso objetivo era fazer com que as pessoas conhecessem essa espécie e ajudassem a preservá-la. Fizemos inclusive palestras nas escolas próximas para apresentar para as crianças esse peixe que a maioria delas nunca nem tinha ouvido falar”, conta Peri Neves, um dos membros da AAPBC, entidade sem fins lucrativos que luta pela preservação da praça fundada no século 19.
Desde que foram colocados no lago central da praça, os peixes passaram a ser alvo de ladrões interessados, principalmente, em vender a carne do animal que custa em média R$ 40, o quilo, nos supermercados e feiras livres da cidade. “O que nos chama mais atenção é que não é fácil pegar um bicho desse porque são pesados e costumam se debater muito quando são capturados, por isso acreditamos que os roubos vêm sendo feitos por pessoas que entendem da pesca desse tipo de peixe”, ressalta.
Frequentadores e trabalhadores da praça afirmam que os roubos e a depredação do local não vêm de hoje, mas têm sido cada vez mais constantes, especialmente porque apenas dois guardas são responsáveis pela segurança do local, que possui cerca de três mil metros quadrados de área construída, no quadrilátero formado pela Avenida Serzedelo Corrêa, Rua dos Mundurucus, Rua dos Tamoios e Travessa Padre Eutíquio.
No último roubo de pirarucus registrado, no final de semana logo após o natal, no ano passado, segundo o membro da associação, chamou a atenção a ousadia dos ladrões que desceram de um táxi de uma cooperativa de Belém, pescaram vários animais, colocaram no carro e levaram, sem nenhuma cerimônia ou preocupação em serem pegos. A certeza da impunidade é tanta que até mesmo um isopor grande já foi encontrado ao lado do lago, provavelmente para acondicionar os animais roubados.
Para Peri, o problema poderia ter sido evitado e até mesmo resolvido com a presença mais efetiva de guardas municipais no local. “Antes eram seis, que se revezavam, mas agora só há dois para tomar conta de toda a praça e assim fica muito difícil. É preciso fazer alguma coisa antes que todos os pirarucus sejam levados. Precisamos de proteção e limpeza”, afirma ele, alegando que o fundo do lago onde se encontram os peixes que restaram está cheio de lodo, prejudicando a sobrevivência dos animais.
Ele denuncia ainda que a falta de segurança compromete até mesmo o coreto central, que recentemente recebeu pintura, depois de estar com o forro quase desabando e ter as peças de ferros saqueadas. “Se não tiver segurança vão destruir tudo”, denuncia. Além disso, a chamada gruta de pedra localizada bem no centro da praça tem sido usada constantemente por usuários de drogas que afugentam os frequentadores do local.
INSEGURANÇA
Quem trabalha na praça também reclama dos roubos constantes e da falta de cuidado com o logradouro, localizado bem no centro da cidade. “Não é só os pirarucus que estão levando, nós que vendemos cocos sofremos constantemente com isso. Já tivemos mais de 12 televisores roubados das barracas, um deles inclusive era meu”, conta Said Trindade, que vende coco no local há mais de 30 anos.
O vendedor diz que tem procurado fazer a parte dele, mas se não houver um interesse da administração municipal em preservar o local, ele se deteriorará por completo em pouco tempo. “Cansei de ver os buracos na calçada em frente à minha barraca, onde constantemente as pessoas caíam, comprei material e eu mesmo mandei fazer pagando com o meu dinheiro”, disse.
O médico Augusto Cardoso que todos os dias caminha pelo local e mora bem próximo à praça também reclama do abandono que o logradouro se encontra. “Infelizmente isso está acontecendo com esse projeto (dos pirarucus) que é tão bonito. Estamos todos de luto aqui. Precisamos de mais segurança na praça e de que ela seja melhor cuidada, não podemos esperar apenas o Círio e o Natal para que os administradores olhem por ela. Esse espaço precisa de manutenção”, afirma.
Veja mais na reportagem da RBATV!
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