É cada vez maior a expectativa em torno da vacinação contra a Covid-19 no Brasil. E os profissionais que atuam na área da imunização se preparam para ajudar na batalha contra o novo coronavírus. Paralelamente a isso, continuam a trabalhar para reforçar a importância não só da vacina contra o coronavírus, mas também de todas as outras disponibilizadas gratuitamente à população, que somam mais de 10 atualmente.
Esse é o caso da Josivânia Trindade, de 35 anos, técnica de enfermagem, graduada e pós-graduada em Biologia e mestranda em Vigilância Epidemiológica, que há oito anos se dedica ao trabalho na Sala de Vacina do posto de saúde do Marco. A rotina no local, quase sempre inclui, além do tato para lidar com as agulhas e o choro inevitável de sua principal clientela – bebês e crianças – o trabalho de conscientização sobre a importância da imunização para todos.
“Ao longo dos anos venho percebendo que os pais estão mais conscientes com relação à vacinação dos filhos, mas ainda falta ter essa conscientização sobre eles mesmos. Por isso, sempre procuro conversar e perguntar sobre a atuação da vacina dos adultos também”, conta.
A chegada da pandemia ao Pará, em março do ano passado, mudou um pouco o trabalho por conta da necessidade de reforçar ainda mais os cuidados com a própria proteção e a importância para a população de manter a vacinação, mesmo sob a ameaça do coronavírus.
Pessoalmente, ela lembra que esse período de pandemia tem sido também de muitos desafios e superação. “Além do posto, trabalho também no Hospital Barros Barreto, e foi durante o socorro a um paciente que estava sofrendo um ataque cardíaco e estava com Covid, em março do ano passado, que eu e meu marido, técnico de enfermagem, nos contaminamos e acabamos passando para os nossos filhos, de 1 e 3 anos. Sabíamos que iríamos nos contaminar, mas não podíamos deixar de prestar socorro aquela pessoa”, lembra. “Foram dias muito difíceis, passei 28 dias sem conseguir dormir”, completa.
A experiência com a doença serviu para reafirmar o que a técnica de enfermagem já havia aprendido há alguns anos. “Precisamos muito da vacina, ela representa antes de tudo felicidade e esperança para todos”, resume. Já sobre a imunização em geral ela diz: “A vacinação é um ato de amor”, diz.
VOCAÇÃO
Josivânia divide o trabalho na Sala de Vacina do posto do Marco com a também técnica de enfermagem Maria Raimunda Pinho, de 43 anos. Natural do município de Igarapé-Açu, no nordeste paraense, ela conta que o desejo de atuar na profissão surgiu ainda quando criança e vivia com a família no interior do Estado. “Eu sempre quis trabalhar cuidando das pessoas e descobri que poderia fazer isso atuando na enfermagem”, lembra.
O começou foi complicado. Foi preciso muita determinação para vencer os desafios. “Depois que concluí o curso técnico estagiei voluntariamente por cinco anos sem ganhar nada, apenas para a aprender e esperar por uma oportunidade de trabalho”, conta ela, que está prestes a realizar um sonho, o de se graduar em enfermagem.
A rotina de trabalho na Sala de Vacina do posto e também no Hospital Abelardo Santos onde atua, ressalta, é cheia de desafios e de aprendizados. “Lembro de uma vez que cheguei cedo e encontrei uma senhora desesperada. O filho dela precisava tomar uma vacina urgente para ser efetivado em uma vaga de trabalho em um hospital e não tinha conseguido. Corri para aplicar a vacina a tempo de ele não perder a vaga. Deu tudo certo. Meses depois, a mãe voltou ao posto para me agradecer. Fiquei muito feliz porque escolhi essa profissão para isso mesmo, ajudar as pessoas”, recorda.
Os anos de trabalho com a imunização, para ela, têm reforçado a ideia que antes mesmo de atuar como profissional ela já cultivava. “A vacina faz toda a diferença na vida de uma pessoa, é a diferença entre ter a saúde ou ter a doença, por isso procuro me dedicar intensamente a esse trabalho”, ressalta.
Assim como Josivânia, ela afirma que o trabalho durante a pandemia tem sido árduo e muitas vezes desafiador. “Procuro me proteger, a mim e a minha família”, afirma. “Estou nessa profissão para encarar seus desafios também”, diz ela, que mora com a filha, de 20 anos e está de casamento marcado para o próximo dia 15.
O propósito de ajudar aos outros nesses tempos de pandemia não tem sido fácil de ser mantido. “Tenho visto muitas coisas difíceis por conta dessa doença, muito sofrimento e nem sempre consigo ser forte. Às vezes preciso chorar para desabafar um pouco e depois voltar fortalecida para atender aos pacientes, que longe de seus familiares precisam muitas vezes apenas de alguém para escutá-los”, diz.
Nesses momentos, os pensamentos da técnica de enfermagem se voltam apenas para uma direção: a da vacina. “Ela é a esperança. Peço a Deus para que ela chegue logo para todos”, afirma.
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