A tão aguardada exploração sustentável da floresta agora é realidade na Reserva Extrativista (Resex) Mapuá, localizada no município de Breves, na região do Marajó. Com o apoio do Instituto Floresta Tropical (IFT), os manejadores iniciaram no último mês de dezembro a primeira extração sustentável de madeira na localidade.
“O manejo madeireiro comunitário era um sonho antigo dos moradores daqui. Há muitos anos a gente aguardava por esse momento, pois sabemos que ele pode significar um divisor de águas no desenvolvimento da nossa comunidade”, comemora o agroextrativista João Batista Brandão, uma das principais lideranças da Resex.
A execução do manejo florestal na localidade atende as recomendações do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pela aprovação do Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) da Resex, em setembro de 2019. O Plano contempla uma área de aproximadamente 6.300 hectares, dividida em dois polos comunitários: “Boa Esperança” e “Santíssima Trindade”.
Segundo Marcelo Galdino, coordenador do programa Florestas Comunitárias, do IFT, o PMFS começou a ser elaborado em 2018 a partir de uma oficina de construção de plano de manejo destinada exclusivamente para o grupo de manejadores locais, promovido pelo IFT, na Unidade de Conservação. “Todo o processo de elaboração do documento contou com a participação da comunidade. Desde a primeira reunião até a finalização do plano, tudo foi feito de forma participativa, ouvindo os manejadores da Unidade, ICMBio e o conselho gestor da Resex”, destaca Galdino.
No Plano de Manejo Florestal Sustentável a comunidade se propõe a promover o uso tradicional dos recursos naturais de forma sustentável, condizentes ao modo de vida da população tradicional residente no interior da Resex. Além do PMFS, uma das etapas para a comunidade receber a Autorização de Exploração Florestal (Autex), foi a construção e aprovação do Plano Operacional Anual (POA), documento que aponta quais atividades serão realizadas durante o ano de safra da exploração da madeira.
Antes de iniciar oficialmente o manejo florestal na comunidade, todos os manejadores passaram por cursos de treinamento e capacitação realizados pelo IFT. Entre os cursos ofertados estiveram Técnicas de planejamento e abertura de infraestrutura (TOI) e Técnicas especiais em derruba de árvores (TCS). “Todas essas capacitações, divididas em aulas práticas e teóricas, abordaram diversos conhecimentos destinados ao aumento da eficiência do manejo florestal, segurança e conforto no trabalho com uso de motosserras durante às diversas atividades com exploração de impacto reduzido e planejamento e abertura manual de estradas para facilitar o transporte da madeira”, afirma o técnico florestal João Adriano Lima.
Manejo florestal em área de várzea
Galdino explica que o manejo florestal madeireiro executado na região é específico para áreas de várzea. A várzea é um ambiente mutável, que segue a dinâmica de cheia e seca dos rios. Por esse motivo, a extração de madeira manejada costuma ser feita em apenas três meses do ano, entre dezembro e fevereiro, quando as florestas não estão inundadas pelo nível da água.
Devido a essas condições, as estradas foram abertas de forma manual, definindo o caminho principal por onde as toras serão arrastadas até o porto de embarque para o transporte final até a serraria. Para facilitar o arraste, os manejadores utilizam um equipamento chamado ‘Tartaruga’, ideal para o arraste de toras em terrenos de várzea.
O coordenador do programa Florestas Comunitárias ressalta ainda que o manejo madeireiro não se resume à retirada e venda da madeira, ele é um conjunto de técnicas e metodologias que envolve as comunidades durante boa parte do ano. O IFT também realiza capacitações de exploração de impacto reduzido e orienta atividades prévias à extração madeireira, como o levantamento de estoque, classificação e cubagem de madeira.
Florestas Comunitárias
O assessoramento do manejo sustentável na Resex Mapuá é uma iniciativa do projeto “Florestas Comunitárias”, que tem o objetivo de apoiar a implementação de modelos de manejo florestal comunitário para uso e comercialização de madeira e açaí na localidade. O projeto conta com o apoio financeiro do BNDES, por meio do Fundo Amazônia, e com as parcerias institucionais da Caterpillar, Keila Florestal e Stihl.
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