Na loja do comerciante Vinicius Leite, 37 anos, no bairro da Pedreira, em Belém, tem uma placa com o seguinte aviso: “Estamos sem moedas. Por favor, facilite seu troco”. Na tarde da última quinta-feira (14), em mais um dia normal de trabalho, havia em caixa cerca de R$ 10,00 em moedas, uma quantidade que, segundo o empreendedor, daria para atender somente meio expediente, uma vez que na loja funciona um armarinho onde são comercializados miudezas e diversos produtos de baixo custo. Com isso, o estabelecimento precisa estar sempre abastecido com moedas para o troco.
Assim como outros comércios de bairro, estabelecimentos de pequeno e até de grande porte, Vinicius vivencia no dia a dia essa dificuldade devido à escassez de moedas. Quando realmente falta, ele tenta recorrer aos feirantes e flanelinhas da região para trocar as cédulas. Mas nem sempre consegue.
“As que mais faltam são as moedas de 1 real e 10 centavos. A gente usa algumas estratégias para flexibilizar esse troco. Por exemplo, se a compra deu R$ 11,00 e a pessoa vai pagar com R$ 20,00 ou R$ 50,00, pedimos R$ 1,00 para dar o troco em cédulas. A segunda estratégia é vender no cartão, até quando o valor é pequeno. A gente abre mão do custo da operação, mas é melhor do que perder a venda. Pelo menos de uma a duas vezes por dia perdemos venda por falta de troco”, explicou o empreendedor.
HÁBITO
Para o comerciante, um dos motivos que afetam a circulação de moedas no comércio é o costume que muitos belenenses ainda mantêm de guardar as economias em cofrinhos. “Belém tem a cultura do cofrinho. Faz muitos anos que trabalho com comércio e é muito forte isso. Vendo cofrinho aqui e em boa quantidade. De vez em quando peço 1 real e a pessoa diz que aquela moeda é para colocar no cofre. Nesse período do ano isso está um pouco menos pior, porque muitas pessoas quebram seus cofrinhos no fim de ano e utilizam nesse período. Também não sei se houve alguma política do governo federal para retirar moedas de circulação”, comentou.
PRATICIDADE
O projetista Alef Queiroz, 27, e sua namorada, a esteticista Raissa Navegantes, 22, já perceberam essa dificuldade da falta de moedas no comércio. Alef diz que prefere efetuar os seus pagamentos com cartão, mas como há estabelecimentos que não dispõem dessa modalidade de venda, a saída é sacar dinheiro. “Costumamos pagar mais com cartão, mas temos ido sacar muito, porque às vezes as pessoas não têm máquina de cartão. Não temos costume de andar com moedas. Coloco as moedas numa gavetinha e só usamos quando precisamos mesmo, é mais por questão de praticidade”, disse Alef.
Já Raissa, que é empreendedora, prefere receber pagamentos com cartão, nas modalidades de débito e crédito. “Sempre pergunto para o cliente se vai precisar de troco, para poder deixar separado. A gente prefere que o pagamento seja na máquina por causa da dificuldade de troco e até pela questão da pandemia, é mais seguro”, explicou.
Moradora do Marco, a servidora pública Jussara kishi, 34, admite que deixou de utilizar o dinheiro físico há muitos anos. Ela optou por utilizar cartão de débito e crédito. “Já faz uns 10 anos que só compro com débito em supermercados e restaurantes. Em outros tipos de compras utilizo débito e crédito. Tenho percebido a falta de moedas quando vou pagar o flanelinha, porque nunca tenho. Uso dinheiro só quando o estabelecimento não aceita cartão”, declarou.
CAMPANHA
Um supermercado situado na Avenida Duque de Caxias, no Marco, criou uma campanha para arrecadar moedas em troca do valor em cédulas. A partir de R$ 50, a pessoa ainda leva um brinde para casa, sendo cinco pães da padaria, de acordo com a supervisora Tais Cabral. “Essa ação já existe há alguns anos, devido à escassez de moedas. É para incentivar as pessoas a trocarem suas moedas por cédulas. As pessoas costumam guardar em cofres. No final do ano elas trazem as moedas. Mas em 2020 não vimos muito isso, devido ter sido um ano atípico. As moedas que recebemos circulam entre todos os setores da loja”, pontuou Tais.
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