De tão corriqueira, a cena já não causa nenhum espanto a quem passa diariamente pela avenida Augusto Montenegro. Embora seja uma das vias mais movimentadas da capital, são inúmeros problemas enfrentados no quesito mobilidade, desde a falta de estrutura para travessia segura de pedestres, passarelas, até o nivelamento da ciclofaixa. E a maior fatia do prejuízo recai justamente sobre o elo mais fraco: o pedestre. Em pouco mais de meia hora, o DIÁRIO flagrou inúmeras cenas de imprudência, de perigo e, principalmente, desrespeito às leis de trânsito, em sua maioria provocadas pela falta de ordenamento.

As cenas são estarrecedoras. Basta parar por uns minutos nas proximidades do elevado sobre as avenidas Centenário e Laércio Barbalho, para perceber o tamanho do desleixo com a mobilidade urbana. No último sábado (16), um homem morreu atropelado ao tentar atravessa a pista fora da faixa, que fica distante da parada de ônibus em frente ao shopping. O trânsito ficou muito mais complicado e as estatísticas ainda mais tenebrosas.

Difícil é conseguir achar alguém que ainda não tenha sido vítima ou presenciado um acidente devido à bagunça generalizada do local. “Isso aqui tem de melhorar muito. Essa faixa para ciclistas é tão ruim que eu não vejo ninguém usando ela. É muito mais fácil você ver os ciclistas se arriscando pelo meio da rua do que por ela. Tem um trecho que até está nivelado, mas em alguns pedaços está horrível. Eles pintaram a faixa por cima das calçadas na marra. Obra bem amadora mesmo”, critica o conferente de mercadorias, Nildo Gonçalves.

Ele já perdeu as contas de quantas vezes viu pessoas serem atingidas ou envolvidas em algum sinistro. “Semana passada uma pessoa morreu. Na mesma semana outra pessoa foi batida aqui próximo. A gente fica com medo de uma hora ser a nossa vez, né?”, admite.

As duas pistas centrais, de uso exclusivo para os ônibus do BRT, acabam recebendo maior fluxo de pessoas querendo atravessar a rua. Quando um ônibus articulado é avistado, o desespero toma conta de quem está no caminho, por ser obrigado a se contorcer para não ser atropelado por um ônibus ou por um carro particular. E não são poucas pessoas.

MEDO

A vendedora Aline Bastos diz que o único jeito de acessar a via sentido Icoaraci é se arriscando na “travessia da morte”. “Eu acho que a falta de estrutura acaba forçando a gente a se arriscar de uma forma totalmente desnecessária. O pedestre não tem escolha e ele precisa atravessar. Lógico que ele vai optar por esse meio”, admite.

A reclamação pertinente pode ser ouvida a qualquer momento. Quando não são os ciclistas, são os motoristas e, por fim, os pedestres. Todos reclamam das péssimas condições de trafegabilidade para quem não utiliza automóvel. “Não tem segurança alguma. Eu mesmo atravessei ali, onde era proibido, porque não tem outro meio. Vamos fazer o que?”, questiona o rodoviário LeonardoNascimento, 44.

As pessoas correm perigo todos os dias ao atravessar a avenida Foto: Wagner Almeida

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