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Cotidiano de entregadores nas ruas de Belém segue entre a necessidade e empreendedorismo

Por meio de motocicletas ou bicicletas, eles ganham sua renda fazendo entregas sobretudo de comidas por delivery. Na pandemia a atuação desses trabalhadores ganhou importância ainda maior

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Imagem ilustrativa da notícia Cotidiano de entregadores nas ruas de Belém segue entre a necessidade e empreendedorismo camera Gabriel Lucas trabalha desde fevereiro de 2019 com delivery. | Celso Rodrigues

A necessidade de distanciamento social mudou a rotina e a experiência de consumo dos indivíduos, principalmente durante o pico da pandemia do novo coronavírus, no ano passado. A dificuldade de sair de casa para almoçar, jantar ou fazer compras em supermercados cedeu lugar aos pedidos virtuais. Com isso, o setor de restaurantes e os trabalhadores de delivery também tiveram que se adaptar a uma nova realidade e repensar modelos de operação e proteção.

Gabriel Lucas Lima, 22 anos, que trabalha desde fevereiro de 2019 no ramo do delivery, teme uma segunda onda da pandemia do novo coronavírus e deposita suas esperanças na vacina. “Ficamos receosos sim, mas resta a confiança na vacina. Eu acredito que não tenha sido infectado pelo vírus, e se fui, estive assintomático porque minha esposa, minha mãe e tias adoeceram, mas eu não”.

O entregador relembra a necessidade do serviço e a forma como consumidores os enxergavam nos meses mais críticos da pandemia, e diz que foi algo que o deixou impactado. “Ao mesmo tempo em que sabíamos da utilidade do serviço, era estranho chegar nas casas e nos apartamentos dos moradores e eles nos verem como possíveis transmissores da doença”, diz. “Era até incoerente porque no período do lockdown as pessoas dependiam quase que 100% da gente. E não apenas para a entrega de alimentos, mas de remédios também”.

Segundo ele, os trabalhadores de delivery atuam e cumprem todos os protocolos de segurança no enfrentamento à Covid-19, além de os aplicativos de delivery disponibilizarem material de proteção. “Trabalhamos equipados com máscara, utilizamos álcool em gel e higienizamos as máquinas de cartão. Também participamos de algumas ações realizadas por aplicativos para recebermos mais kits de proteção, ou então eles depositam um valor extra para comprarmos álcool e máscara. Uma das vezes consegui adquirir dois litros de álcool e 20 máscaras. Em outra, foi depositado um extra de trinta reais”.

Apesar deste trabalho não configurar vínculo empregatício entre o entregador e os aplicativos de delivery, há aspectos positivos e negativos, além de ter sido uma alternativa que muitos paraenses encontraram paradriblar o desemprego.

O Gabriel, por exemplo, já havia trabalhado como servente, pedreiro, em lojas de departamento e supermercados. O que ganha como entregador tem suprido as necessidades, porém, diz que há momentos em que o faturamento deixa a desejar. “A virada de ano foi um dos períodos mais difíceis. Mesmo com a pandemia muitas pessoas viajaram e os pedidos reduziram. Até mesmo em janeiro ainda sinto uma movimentação fraca”.

Há dois anos trabalhando no ramo, o entregador Johnatan Souza, 28, conta que com a pandemia o número de pedidos aumentou, porém, o valor da taxa repassada aos entregadores pelos aplicativos estagnou. “Estamos atuando no ramo porque realmente precisamos, o desemprego só tem aumentado e está muito difícil conseguir outra coisa. Mas sinto faltade mais valorização”.

Ainda segundo ele, embora a empresa faça a sua parte disponibilizando álcool, máscara e a bag na qual armazenam os pedidos há, em contrapartida, os riscos de assaltos e acidentes a que estão suscetíveis. “Recebemos uma bag nova a cada seis meses”.

Johnatan Souza destaca os riscos de assaltos e acidentes a que estão suscetíveis
📷 Johnatan Souza destaca os riscos de assaltos e acidentes a que estão suscetíveis |Celso Rodrigues

De bike ou de moto e tendo flexibilidade de horário, os entregadores também percorrem as ruas da capital paraense por horas extensas, incluindo de madrugada. Robert William, 25 anos, que atua há um ano e seis meses no ramo, diz que a luta para se manter financeiramente e fisicamente é árdua. “Trabalho geralmente das 10h à meia-noite para garantir uma boa renda. É um trabalho difícil, já sofri três acidentes e num deles quebrei o queixo. No trânsito, muitos motoristas não respeitam, não dão a seta de sinalização ou então abrem as portas dos carros sem olhar para o retrovisor e nos batem”.

Como os aplicativos de delivery não disponibilizam meios de transporte para os entregadores, os assaltos ou furtos acabam pesando no bolso das vítimas. “Certa vez deixei a bike na grade em frente a um estabelecimento, com corrente e cadeado, e quando retornei deparei com o lugar vazio. Não tive nem como dar continuidade ao serviço porque não havia como sair dali e ainda fiquei no prejuízo”,relembrou Gabriel.

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