A Associação de Docentes da Universidade Federal do Pará divulgou uma nota para responder a denúncia de racismo feita pelo jornalista Fabrício Rocha, que tentou se inscrever no processo seletivo da Adufpa.
Jornalista denuncia racismo em sindicato dos professores da UFPA
“No último dia, pouco tempo antes da hora limite um candidato apresentou seus documentos para a inscrição. A funcionária (que está na Adufpa há aproximadamente 8 anos) que estava acolhendo as inscrições, ao receber a documentação, lhe observou que sua formação de terceiro grau (bacharelado) não era em comunicação social”, explica a Adufpa.
“O diretor geral da entidade foi chamado para analisar a situação. Foi apresentado ao candidato o perfil que se requeria e dada sua insistência e o fato de que a leitura do edital poderia dar margem a interpretações diferentes, sua inscrição foi recebida e lhe foi emitido um recibo de inscrição. Ao mesmo tempo, ele foi informado que a Comissão de Seleção analisaria sua documentação, tal qual vinha fazendo com as mais de 100 inscrições já efetivadas”, continua.
“Isso ocorreu por meio de diálogo, e não de constrangimento e muito menos de alguma prática racista”, defende-se a instituição.
“Posteriormente, o candidato enviou mensagem de whatsapp amistosa ao diretor geral, lamentando o que teria ocorrido na conversa com funcionária, mas sem em nenhum momento referir-se a racismo ou solicitar alguma encaminhamento sobre o fato”, completa a nota.
A Adufpa diz ainda que o jornalista nunca foi barrado, “ao contrário, foi recebido respeitosamente, como todos os demais candidatos, e teve sua inscrição acolhida e lhe entregue recibo de inscrição”.
A DENÚNCIA
Fabrício afirma ter sido destratado e humilhado dentro do sindicado.
"Uma senhora loira de óculos, que não me conhece e nunca tinha visto antes, estava recebendo os documentos e disse: 'Você está desrespeitando os jornalistas vindo se inscrever aqui, porque hoje em dia qualquer um é jornalista'. Não contente ela chamou o Gilberto Marques, coordenador da entidade, que ao invés de acolher e dizer que tudo seria analisado, foi ríspido para sair na defesa da senhora loira de óculos. O pior foi que ele puxou o edital e foi ler na minha frente, em voz alta. Percebam a cena montada", relatou ele em um post publicado nas redes sociais.
VEJA A NOTA COMPLETA DA ADUFPA
A Diretoria da Adufpa, vem a público, manifestar-se sobre a denúncia de racismo que lhe foi imputada.
Nossa Entidade, a ADUFPA-Seção Sindical do ANDES-SN, é representativa da categoria docente da UFPA e tem uma história de quase 42 anos de luta social no Brasil e na Amazônia. Fundada no tempo da ditadura empresarial – militar dos anos de 1970, tem se mantido fiel na defesa da democracia, direitos trabalhistas e da educação pública, gratuita, laica e de qualidade socialmente referenciada. Associada a outros sujeitos sociais, tem sido parte ativa na luta contra o machismo, feminicídio, racismo, LBGTfobia, dentre outros.
Como uma das estratégias para fortalecer sua atuação nesses campos, a atual gestão impulsionou a efetivação do Grupo de Trabalho – GT local de Políticas de Classe, Questões Etnicorraciais, de Gênero e Diversidade Sexual, com objetivo de estimular o debate e desenvolver ações que combatam quaisquer formas de opressão e discriminação.
Nosso país está imerso em grave crise econômica e sanitária, que impacta nossa saúde física e mental. Isso exige de todos/as a busca pelo equilíbrio, para que superemos esta situação.
Nestes termos, a Adufpa abriu um processo de seleção para a contratação de profissional de comunicação social, que, como estabelece o edital, o candidato deveria ser um(a) “profissional de comunicação social com formação de terceiro grau”. O cenário econômico e pandêmico citado gerou 113 inscrições.
Por que um profissional formado em comunicação social? Exatamente para respeitar a formação acadêmica específica dos profissionais desta área – tal qual é reivindicado por entidades representativas.
Destaque-se que a Adufpa é entidade representativa de docentes de uma Universidade Federal, mas não faz parte da estrutura administrativa do serviço público. Deste modo, não é obrigada a fazer seleção pública para seus/suas funcionários/as. Mesmo assim, historicamente, até mesmo seus estagiários(as) são escolhidos por meio de seleção pública.
Na seleção atual, em comparação às anteriores, ampliamos ainda mais o período de inscrição que foi de 28/01/2021 a 03/02/2021, de modo a alcançar o maior número de candidatos(as).
No último dia, pouco tempo antes da hora limite um candidato apresentou seus documentos para a inscrição. A funcionária (que está na Adufpa há aproximadamente 8 anos) que estava acolhendo as inscrições, ao receber a documentação, lhe observou que sua formação de terceiro grau (bacharelado) não era em comunicação social.
O diretor geral da entidade foi chamado para analisar a situação. Foi apresentado ao candidato o perfil que se requeria e dada sua insistência e o fato de que a leitura do edital poderia dar margem a interpretações diferentes, sua inscrição foi recebida e lhe foi emitido um recibo de inscrição. Ao mesmo tempo, ele foi informado que a Comissão de Seleção analisaria sua documentação, tal qual vinha fazendo com as mais de 100 inscrições já efetivadas.
Isso ocorreu por meio de diálogo, e não de constrangimento e muito menos de alguma prática racista. Posteriormente, o candidato enviou mensagem de whatsapp amistosa ao diretor geral, lamentando o que teria ocorrido na conversa com funcionária, mas sem em nenhum momento referir-se a racismo ou solicitar alguma encaminhamento sobre o fato.
Em sua denúncia, feita em rede social, o candidato afirma que teria sido “barrado na entrada” e “impedido de concorrer”. Ele nunca foi barrado, ao contrário, foi recebido respeitosamente, como todos os demais candidatos, e teve sua inscrição acolhida e lhe entregue recibo de inscrição.
Uma das acusações mais fortes da denúncia diz: “imagina uma reunião com essa gente, o nível de assédio e sofrimento psicológico que eles podem gerar com o poder de ser patrão”. Lamentamos e rechaçamos firmemente essa afirmação. Na Adufpa não há patrões, mas trabalhadores e trabalhadoras. Desafiamos quem quer que seja que aponte dentro na Adufpa, em especial na relação com seus funcionários, qualquer ato de arbítrio ou assédio. Como seção sindical do Andes-SN é nosso compromisso combater o assédio moral e/ou sexual. Ademais, não nos esqueçamos, quem o atendeu foi uma mulher trabalhadora, funcionária da Adufpa.
No momento da inscrição do candidato, além da referida funcionária e do diretor geral, no recinto, entre outros, estavam uma diretora (negra, militante do movimento feminista), dois outros diretores e outra funcionária (também negra). Ninguém presenciou o que o candidato denuncia como racismo.
Por outro lado, reconhecemos que alguns temas incluem, entre outros, elementos de subjetividade e o que alguém interpreta de uma forma, outra pessoa pode analisar diferentemente.
Por acreditar nisso, e sem descartar nenhuma denúncia ou crítica a priori, a atual diretoria consensualmente entre todos os seus membros, se coloca à disposição para o diálogo com o movimento negro, docente e demais movimentos e entidades, incluindo a pessoa que fez a denúncia, sobre a infeliz ocorrência que se constitui em objeto de avaliação e reflexão por todas as partes envolvidas.
Consideramos que qualquer tipo de denúncia deve ser objeto de avaliação e análise para além das aparências, considerando os fatos que a cercaram no momento em que a situação aconteceu. Também acreditamos que devem ser precedidas de uma reflexão e diálogo entre os envolvidos no sentido de entender de fato o que aconteceu. Isso busca evitar possíveis atitudes apressadas que gerem injustiças e danos difíceis de serem reparados.
Esperamos que essa situação tenha sido produto de um equívoco de comunicação e/ou de interpretação do diálogo ocorrido, e não de uma leviandade do denunciante.
Destacamos que a Adufpa recebe democraticamente todas as críticas que lhes são dirigidas, e aprendemos com elas, mas como sujeitos coletivos e representativos da categoria de docentes da UFPA, não podemos aceitar que, a partir de interpretações apressadas, a história da Adufpa, em mais de 40 anos de uma trajetória de luta em defesa da classe trabalhadora, seja descartada, correndo-se o risco de reforçar o ataque desferido por setores conservadores (entre os quais o bolsonarismo) aos movimentos sociais e aos direitos humanos.
Por fim, chamamos a atenção para o momento em que vivemos, marcado pelo conservadorismo, autoritarismo, negação da ciência e que exige de nós, unidade na luta. Para superar o momento atual é necessário fortalecer a organização social e nossas entidades representativas, e não o inverso. Inimigos são os que retiram nossos direitos trabalhistas e jogam a população mais vulnerável, sem trabalho e sem comida, no fosso da exclusão social!
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