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Preço do gás de cozinha chega a quase 100 reais em Belém

Pesquisa da ANP feita em Belém mostra que o produto é vendido, em média, na capital paraense a R$ 89,68, depois de três reajustes somente este ano

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Imagem ilustrativa da notícia Preço do gás de cozinha chega a quase 100 reais em Belém camera O botijão de 13 quilos beira os R$ 100. Quem depende do produto para trabalhar enfrenta dificuldades | Ricardo Amanajás

Item fundamental em qualquer residência, o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), mais conhecido como gás de cozinha, já teve três aumentos consecutivos apenas este ano. O mais recente, no início de março, elevou o preço médio do botijão de 13 quilos para quase R$ 100. Segundo um levantamento feito pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), realizado entre os dias 14 e 20 deste mês, em 44 pontos de venda da capital, o produto tem sido comercializado, em média, por R$ 89,68. O melhor valor encontrado foi R$ 83 e o maior R$ 99,99, preços que impactam diretamente no orçamento do consumidor, especialmente daqueles que dependem do produto para manter seus negócios.

É o caso da cozinheira e confeiteira Edineuza dos Santos. Há 12 anos, ela trabalha com encomendas de bolos e doces e há três ampliou os negócios com a venda de marmitas, o que culminou com a abertura de um pequeno restaurante no início de 2020. Para manter o movimento da cozinha, ela utiliza em média por mês quatro botijões de gás. “Atualmente estou comprando a R$ 90 cada um, tendo um gasto médio de R$ 360 por mês”, calcula.

As tentativas para manter o equilíbrio financeiro dos negócios, onde também atuam o marido e o filho, acabaram exigindo vários sacrifícios da família. “O maior deles foi ter de demitir dois colaboradores nossos que dependiam desse trabalho para sobreviver. Mas infelizmente não tivemos como mantê-los, porque além do gás, todos os outros produtos usados no nosso trabalho, como os itens de supermercado e a gasolina, usada para fazer a entrega de moto, aumentaram muito, então ficou praticamente inviável. Tivemos de demitir e passar a trabalhar o dobro de antes”, conta.

A microempresária até tentou repassar parte do percentual dos aumentos para os clientes, mas sofreu uma queda significativa dos pedidos. “Ficou complicado e tivemos de recuar diminuindo mesmo a nossa margem de lucro”, diz.

ATRASOS

Com uma margem de lucro menor, a trabalhadora viu as finanças da família entrarem no vermelho. “Tínhamos feito um financiamento no início de 2020 para comprar equipamentos para ampliar a nossa cozinha. Mas aí veio a pandemia, em seguida os preços das coisas começaram a disparar e ficamos sem condições de arcar com o financiamento, que atualmente se encontra em atraso”, alega.

Já a confeiteira Cassia Cunha, que há mais de duas décadas trabalha com encomendas de bolos, doces, ovos de chocolate, entre outros produtos, diz que vive o pior momento de seus negócios desde que começou nesse ramo. “Enquanto conseguia pagar valores de R$ 50 a R$ 60 pelo preço do botijão estava conseguindo manter uma margem de lucro sem ter de fazer tantos sacrifícios. Mas com esses aumentos consecutivos, não tenho mais nenhuma esperança do preço baixar e voltar a esses valores. Ao contrário, acredito que a tendência seja continuar a aumentar”, lamenta.

O carro-chefe dos negócios da confeiteira são os bolos que levam em média de 30 a 40 minutos para assar no forno. Com isso, o consumo de gás em sua cozinha varia entre dois a três botijões por mês. “Atualmente estou pagando R$ 92 por cada botijão e não tenho como repassar esses aumentos para os meus clientes, porque nesse momento de pandemia tem sido muito difícil manter as encomendas”, conta.

Com os aumentos sucessivos no preço do botijão este ano, ela prefere nem colocar na ponta do lápis o percentual de seu lucro levado pelos custos com gás. “A gente trabalha com isso porque gosta e precisa, mas os lucros são mínimos”, afirma.

Sindicato de revendedoras responsabiliza a Petrobras

O mais recente aumento no preço do gás de cozinha foi anunciado pela Petrobras no início deste mês e é fruto, assim como os anteriores, da política adotada pela direção da companhia que defende a paridade com os preços praticados no mercado internacional. E se por um lado essa política tem impactado negativamente no orçamento dos consumidores, por outro, tem gerado resultados financeiros recordes à empresa.

Para o presidente do Sindicato das Empresas Revendedoras de Gás Liquefeito de Petróleo do Estado do Pará (Sergap), Francinaldo Oliveira, essa política adotada pela Petrobras tem sido a principal responsável pelos aumentos constantes no preço do gás de cozinha, o GLP. “Todas as vezes que tem variação de preço no mercado internacional elas se refletem aqui e desde maio do ano passado, infelizmente, essas variações têm sido para mais e somente este ano já foram três”, avalia.

Ele garante que as empresas revendedoras do produto também vêm sofrendo com essas variações no preço. “Não estamos conseguindo repassar inteiramente esses aumentos para os consumidores. Com isso, temos trabalhado com uma margem reduzida de lucros, o que impacta diretamente nos nossos negócios, que há anos já sofrem com a concorrência desleal dos clandestinos, que continuam aí, sem contratar ninguém, sem pagar impostos e transportando botijão de gás em bicicletas, o que é proibido, mas não é fiscalizado”, denuncia.

A situação dos aumentos poderia ser contornada, segundo ele, se fosse adotada uma medida bem simples. “O Brasil produz 70% do GLP consumido no país, apenas 30% desse produto é importado. Com isso, somente esses 30% deveriam sofrer aumentos equiparados ao mercado internacional, enquanto que para o restante produzido aqui deveria ser criado outro parâmetro de precificação. Assim, já teríamos um aumento menor no preço desse produto”, acredita.

O presidente do Sergap, no entanto, acredita que em breve essa situação deve passar por mudanças. “Teremos uma nova direção na Petrobras, além disso, o cenário mundial deve passar por mudanças, com o fim do inverno na Europa, uma diminuição no consumo e um aumento da oferta, poderemos ter uma queda nos preços”, afirma.

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